Capítulo 6

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Duo jogou a cabeça para trás e soltou uma longa gargalhada, atraindo olhares curiosos de Heero e Wufei. Rapidamente ele parou de rir e se recompôs, tentando ganhar uma expressão séria se não fosse pelo fato de que um sorrisinho irritante ainda dançava no canto de seus lábios.
-

O fim do mundo, conta outra que eu já não tenha ouvido. Isso daqui é a Boca do Inferno, qualquer coisa aqui pode ser o fim do mundo.
-Nisso eu tenho que concordar com o Duo, essa profecia não traz muita coisa nova. Já passamos por isso antes. –Treize retrucou em um tom calmo e Heero deu um aceno de cabeça, compreendendo onde ele queria chegar. Com a cidade localizada em cima do local onde a atividade demoníaca era mais intensa, com certeza todos os dias poderiam ser considerados o fim do mundo.
-Bem, então creio que essa vocês não tenham ouvido… ou lido. –Atestou o japonês com uma voz fria. –Wufei. –Disse, virando-se para o amigo. Wufei remexeu dentro de seu sobretudo preto, retirando algo de dentro dele e estendendo a Treize. Era um pedaço velho e amarelado de pergaminho, cuja ponta estava rasgada.
-O que é isso? – Perguntou o ex-sentinela.
-A profecia da qual eu lhe falei, sr. Khushrenada. –Começou o chinês. –Essa profecia foi feita há quase trezentos anos por meu bisav
-Trezentos anos?… - Duo interrompeu, assobiando alto. –Isso é tempo. Mas pelo seu bisavô? Quantos anos você tem companheiro? –O homem deu um sorriso de lado.
-Noventa e oito anos, por quê? –Outro assobio alto do jovem caçador.
-Está bem conservado, não?
-Wufei vem de uma longa linhagem de meios demônios videntes da China. -Heero começou a explicar ao jovem o qual ele não tirava os olhos desde que chegou. –Isso lhe garante uma vida mais longa e um retardamento no envelhecimento.
-E eu que estava pensando que era a comida que fazia ele ficar jovem. –Duo escarneceu.
-Duo, por favor, mais respeito com os meus convidados.- Treize o advertiu. Conhecia Duo o suficiente para saber que esse sarcasmo todo indicava que ele não estava feliz com as presenças a sua frente.
-Você tem um gosto estranho para convidados, Treize, devemos confessar. –O mencionado apenas balançou a cabeça, desistindo de argumentar com aquele garoto. Duo com certeza ainda estava furioso com Heero pelo modo como ele foi abordado pelo japonês.
-Não vou discutir meus gostos com você agora, nunca chegamos a um acordo em relação a isso mesmo. –Retrucou o ex-sentinela. –Por favor sr. Yuy, prossiga.
-Por favor, prossiga mesmo, porque eu estou morrendo de curiosidade de saber o que o traz aqui, e é apenas a minha curiosidade que está impedindo da deathscythe cortar a sua cabaça fora. –Duo zombou, fazendo a foice pender mais ainda ao lado de seu corpo. Wufei apenas soltou um pequeno rosnado entre os dentes diante da ousadia daquele garoto, enquanto Heero apenas balançava a cabeça de um lado para o outro, resignado com a hostilidade do belo jovem.
-Sr. Maxwell, sei que o nosso encontro não foi muito agradável, sei que eu não lhe disse quem eu era, mas você tem que convir que eu não sou de sair contando para desconhecidos que eu sou um vampiro. Ou eu seria taxado como louco, ou ganharia uma estaca no coração sem ter a chance de explicar a situação. –E nisso o japonês lançou um longo olhar significativo para o jovem caçador, que apenas bufou diante da implicação das palavras dele.
-Sem contar, Duo… -Dessa vez foi Treize que se meteu na conversa dos dois. -… que se você tivesse ouvido todas as minhas aulas sobre vampiros, saberia quem Heero realmente é. –Indicou o homem, dando um olhar duro ao pupilo. Duo apenas piscou em confusão. Saber quem Heero era? Ele nunca tinha ouvido falar nesse sujeito. Quanto mais o visto mais gordo. Por que ele era obrigado a saber quem ele era? Era alguém importante? Hunf, um vampiro importante, que piada!
-O nome Odin Lowe te lembra alguma coisa, Duo? –Treize anunciou exasperado diante da expressão cada vez mais confusa de Duo. Não era possível que aquele garoto não prestasse atenção a nenhuma palavra que ele dizia.
Minutos de silêncio se passaram com Duo ainda na ignorância, quando o rapaz subitamente deu um pulo da cadeira, pondo-se de pé e preparando novamente a deathscythe para o ataque.
-O vampiro sanguinário Odin Lowe II? É claro que eu o conheço. E ele irá sair daqui agora mesmo.
-E lá vamos nós de novo. –Wufei murmurou em um tom irritado, perto do ouvido de Heero.
-Duo pelo amor de Deus, abaixe essa arma. Parece até que eu não lhe ensinei nada durante esses anos. –Treize levantou-se de sua cadeira, com os olhos flamejando com uma fúria contida diante da ignorância do jovem caçador. Como esse menino sobreviveu todos esses anos se ele nunca deu ouvidos a nada do que ele já disse? –Sim, esse é Odin Lowe, e sim ele foi aquele vampiro sanguinário! –Heero ficou um pouco tenso diante do tom duro de voz de Treize. O tom dele o fazia lembrar de um passado que ele preferia esquecer. –E não! Ele não é uma ameaça.
-Uma ova que não é! –Duo bradou, começando a rodar a sua foice verticalmente ao lado de seu corpo.
-Duo, lembre-se do que eu lhe falei sobre Odin Lowe II. –Treize disse em um tom autoritário e mortalmente sério. Somente sendo rígido o suficiente que ele conseguia colocar algum senso na cabeça dura do jovem americano.
-Hum… vampiro de mais de duzentos anos, sanguinário e assassino. Impiedoso… -A cada palavra descrita por Duo, Heero sentia o mundo pesar ainda mais em seus ombros por causa de seu passado. E saber que o garoto sabia tanto sobre o seu lado mais sombrio o desagradava e muito. Não queria que o belo rapaz soubesse do monstro que ele foi. -… cruel… -Nisso o garoto de cabelos longos parou, como se somente agora tivesse percebido algo importante, baixando a deathscythe. -… foi amaldiçoado pelos ciganos e agora tem uma alma.
-Bravo! –Wufei escarneceu, batendo palmas. Finalmente aquele moleque tinha compreendido. –Podemos continuar agora, sem a ameaça desse fedelho poder cortar as nossas cabeças? –Duo deu um olhar mortal ao chinês e resmungou algo incompreensível, voltando a se sentar no lugar de antes.
-Por favor senhor Chang. Creio que agora o Duo se acalmou. –Treize indicou, finalmente aquele menino tinha entendido.
-Certo então. –Heero entrou na conversa, puxando uma cadeira e sentando-se, ordenando com um olhar que Wufei fizesse o mesmo, saindo daquela postura defensiva. Contrariado, o chinês também se sentou. –Creio que o sr. Khushrenada deva estar interessado nessa profecia…
-Com eu disse antes, Sr. Yuy, uma profecia sobre o fim no mundo não é algo novo aqui em Sunnydale. –Treize o interrompeu.
-Não duvido disso, mas essa profecia é diferente de todas as outras. Chang, poderia ter a bondade? –Heero virou-se para o amigo, que assentiu levemente com a cabeça.
-Pois bem. Não sei se isso consta em seus livros senhor Khushrenada, mas o clã Chang é um antigo clã de demônios chineses que tem como principal poder a vidência. Com dito antes, há mais ou menos trezentos anos meu bisavô fez uma profecia. Em uma noite do ano de 1778 ele simplesmente entrou em transe e citou essas palavras: "Aquele que hoje está sendo iniciado na escuridão, consigo trará as trevas e o terror ao mundo. Cem anos de dor ele causará, para no fim mais cem anos de dor sofrer. E quando finalmente o Apocalipse chegar, ele, o sofredor, o algoz, o salvador, irá reviver quando aquilo que de mais precioso tem ao inimigo ceder."
-E…? –Duo entrou na conversa, dando de ombros. Aquela profecia não dizia muita coisa. Na verdade, ela não lhe dizia nada. –Certo, tem uma certa menção ao fim do mundo e tudo mais, mas no que ela te interessa? –Disse, voltando seus olhos a Heero.
-A profecia não está completa. Essa é apenas uma parte dela. O restante dela foi perdida durante a guerra do Vietnã e desde então, desde que eu encontrei Wufei e ele me disse que eu era o ser da profecia, nós dois saímos pelo mundo à procura do restante dela. Mais especificamente pelos EUA, já que suspeitamos que algum soldado americano deve ter levado o resto da profecia quando voltou para casa.
-Ainda sim não faz sentido. Como vocês tem tanta certeza de que é você o sujeito da profecia? Como tem certeza que o fim do mundo está próximo? E como podem ter certeza de que ela pode estar aqui em Sunnydale? –Perguntou o jovem caçador e Wufei deu um sorriso de lado.
-Vou explicar para ver se o seu lento cérebro possa assimilar. –Escarneceu o homem.
-Hei! Devo lembrar das posições aqui dentro? –Duo rosnou diante do sarcasmo do chinês. –Eu sou um caçador e, até onde eu me recordo, você é um demônio. Então, não me provoque!
-Hunf! Que medo. –Wufei rebateu, o desafiando com o olhar.
-Chang! –Heero chamou em um tom de repreensão.
-Duo! –Treize fez o mesmo.
-Certo. –O jovem americano soltou um muxoxo e saiu da postura ofensiva em que estava, voltando a ouvir atentamente a história dos dois convidados.
-Pois bem. O fato de eu ter associado Heero ao ser da profecia se deve que foi no ano de 1778, na mesma noite em que meu bisavô recitou essa profecia, ele se tornou um vampiro. Pelos cem anos seguintes, ele foi o demônio mais cruel que existiu e seu nome causava terror apenas ao ser falado. Ou seja, por cem anos ele causou a dor… -Wufei tinha voltado a explicar, até que foi interrompido por Treize.
-E nos cem anos seguintes ele sofreu a dor, pois foi quando foi amaldiçoado pelos ciganos. E quando o Apocalipse chegar ele vai reviver…
-Isso mesmo. Porém, como dissemos, a profecia não está completa. Não sabemos quando o Apocalipse vai chegar. Não sabemos o que eu terei que ceder e a qual inimigo ceder, visto que eu tenho muitos, para conseguir reviver, ganhar a minha humanidade de volta. E o que eu tenho que fazer, algum ritual, sacrifício, o que de mais precioso eu devo ter que o inimigo possa querer? Visto que eu não tenho nada. Viemos a Sunnydale por causa das pistas que as Parcas deram através das visões de Wufei. Diriam que encontraríamos a profecia aqui.
-E dentre essas visões do sr. Chang, sobre as pistas de onde estaria o resto da profecia, alguma coisa mais clara apareceu? –Treize indagou, cada vez mais interessado nessa história. Por que as Parcas se dariam ao trabalho de devolver a humanidade de um demônio que no passado matou tanta gente, mesmo que agora ele tenha uma alma? Se bem que, o Destino sempre teve uma maneira estranha de trabalhar.
-Não. –Heero balançou a cabeça de um lado para o outro em uma negativa. –Elas apenas nos trouxeram a Sunnydale, apenas disseram que precisávamos ser rápidos, pois logo ela se realizará.
-Está querendo me dizer que a coisa não é a longo prazo? –Duo levantou-se de sua cadeira e começou a perambular pela biblioteca. Um fim do mundo, era só o que ele precisava. Logo agora que ele teria que fazer as suas avaliações para conseguir uma vaga na faculdade. Não teria tempo para encarar o fim do mundo se tinha provas de matemática para fazer.
-Parece que não. A Boca do Inferno tem andado muita agitada ultimamente? –Wufei indagou e Treize acenou com a cabeça, soltando um suspiro. Tinha certeza que algo grande estaria por vir já que a manifestação demoníaca tinha aumentado nos últimos dias. Só não sabia que seria algo tão grande assim. Certo que sendo um sentinela, ou melhor, ex-sentinela, uma propensa profecia sofre o fim do mundo sempre poderia surgir mais cedo ou mais tarde. Ele apenas gostaria que Heero tivesse aparecido com a novidade mais cedo, para assim eles poderem se preparar.
-Procurarei em meus livros para ver se acho alguma coisa. Mas se essa profecia foi trazida com o final da guerra, e nós nunca tivemos conhecimento dela, não tenho certeza se terá alguma coisa nos meus livros.
-Eu posso falar com o Trowa… -Duo interrompeu, parando de caminhar dentro da biblioteca e chamando a atenção de Treize. –Ele pode caçar algo na internet, ver se possa ter alguma menção de alguma coisa na história pós-guerra que se refira a profecia.
-Seria uma boa. –Treize comentou. –Por enquanto senhores, isso é tudo o que podemos fazer por vocês. –Heero e Wufei se ergueram de suas cadeiras, dando um aceno de cabeça a Treize. –E quanto a você Duo, melhor começar a se preparar para o que pode estar por vir. –Duo deu um suspiro desolado e passou os dedos pelos longos cabelos.
-Não se preocupe sr. Khushrenada, o jovem Duo não irá batalhar sozinho nessa guerra. –Disse Heero e o garoto americano virou-se para ele com uma sobrancelha erguida. Certo, o vampiro tinha uma alma, com certeza agora deveria lutar pelo lado do bem para se redimir, mas ainda sim Duo não confiava nele. Não apenas por causa do último encontro desastroso que eles dois tiveram, mas também pelas sensações estranhas, e ao mesmo tempo boas, que ele causava em si.
-Bom saber disso, bom saber. –Treize falou em um tom baixo de voz, um pouco aliviado em saber que Duo não iria batalhar sozinho. Mas isso ainda não lhe acalmava por completo. Ainda era o fim do mundo e, dessa vez, Duo não poderia ter tanta sorte como teve nos últimos dezoito anos. Sabia que desde o momento em que recebeu o garoto em sua guarda, desde o momento em que viu que seria sentinela de um caçador, que algo muito ruim estaria por vir. Afinal, conforme a tradição do Conselho, caçadores homens apenas nascem quando um desastre eminente está a caminho. E ele que ainda teve a vã esperança de que dessa vez a tradição não se seguisse.
-Bem, se isso é tudo, melhor eu ir para casa então. Está tarde e patrulhamento hoje está fora de cogitação. Irmã Helen teria um negócio se eu demorasse mais que o necessário, sabe como é Treize. –Duo falou, com as suas mãos ágeis refazendo a sua trança e logo depois guardando seu material em sua grande bolsa.
-Melhor irmos também. –Wufei começou a caminhar em direção a porta da biblioteca.
-Qualquer novidade em mando Duo entrar em contato com vocês. –Treize retrucou, recolhendo vários livros espalhados sobre a mesa da biblioteca.
-Hei! Por que eu tenho que servir de pombo correio? –O garoto de trança resmungou, jogando sua bolsa por cima do ombro.
-Não discuta comigo Maxwell… Você nunca vence mesmo. –O inglês deu um sorriso com o canto da boca enquanto empilhava os livros em um dos braços.
-Afe, ditador! –Murmurou o americano sob a respiração. –Bem, tchau para vocês então. –Duo começou a partir e sentiu Heero um frio no estômago ao ver o garoto pronto para ir embora. Quando seria a próxima vez que eles se veriam de novo? Poderia levar dias, semanas talvez… E ele não poderia permitir isso. Ao menos algumas horas a mais ele gostaria de passar com o garoto.
-Espere sr. Maxwell, nós o acompanharemos. –Para quem não o conhecesse, a voz de Heero parecia desprovida de emoções. Mas para Wufei que estava ao seu lado há anos, ele poderia identificar um certo traço de esperança nela, o que o fez dar uma leve balançada de cabeça diante disso. Só mesmo esse menino arrogante para quebrar a frieza de Heero Yuy.
-Não! Eu dispenso! Eu não preciso de segurança, sei me cuidar muito bem sozinho. –Duo resmungou, não querendo de jeito nenhum a companhia do vampiro. Não que temesse que ele o atacasse, pois apanharia muito antes de encostar um dedo nele. Duo temia que ele que atacasse Heero, do jeito que seu corpo estava com um formigamento estranho e a sua pele aquecia toda vez que cruzava o olhar com os orbes azul cobalto. Deus, era melhor na missa de domingo rezar umas sessenta Aves Maria.
-Sr. Maxwell, se vamos trabalhar juntos diante dessa profecia, recomendo que deixemos as diferenças de lado. Nosso primeiro encontro não foi muito propício, mas lembre-se que eu salvei a sua vida. –Heero disse em um tom um pouco rude, começando a se cansar da teimosia daquele garoto. Talvez um pouco de grosseria o fizesse entender que ele não lhe queria mal.
-Argh… -O jovem americano rosnou baixo. Nisso Heero tinha razão. Ele salvou a sua vida e, gostando ou não, estava em débito com ele. –Certo. –Finalmente cedeu e o japonês se não fosse como fosse, com certeza teria dado cambalhotas de alegria. –Mas… -Começou o garoto com um tom sério e ameaçador na voz. -… qualquer gracinha, por menor que ela seja, e eu corto a sua cabeça fora.
-Orri moleque insolente. –Wufei murmurou entre dentes. De jeito nenhum que ficaria mais um minuto na companhia daquele garoto. –Heero, se você não se importa eu vou na frente. –E antes de esperar a resposta do amigo, ele deu as costas e saiu da biblioteca.
-A… -Heero mal abriu a boca para argumentar com o chinês e ele já tinha ido embora. Voltando agora a sua atenção para Duo, ele abriu a porta da biblioteca em uma clara indicação de que era a vez deles de partir. –Vamos? –Relutante, o americano caminhou até a porta, passando por ele lentamente, como se esperasse algum ataque ou coisa do gênero.
-Até amanhã Treize. –Duo chamou assim que alcançou o corredor.
-Obrigado pela ajuda sr. Khushrenada. –Heero saiu da biblioteca, largando a porta que ficou balançando atrás de si, sumindo nos corredores da escola junto com Duo.
Com certeza um cemitério seria muito mais barulhento do que aqueles dois que agora andavam lado a lado nas ruas escurecidas de Sunnydale.
Fazia exatamente dez minutos que Duo e Heero haviam saído da biblioteca e nenhum dos dois emitiu mais nenhum palavra desde então. E, para Duo Maxwell ter ficado calado por todo esse tempo era realmente um marco. Contudo, Heero, apesar de sua personalidade quieta, era o que estava ficando irritado com o silêncio do americano.
-Não vai mesmo falar comigo? –Sua voz saiu como um sussurro, mas no silêncio sepulcral da noite de Sunnydale, ela pareceu um trovão cortando os céus. Duo apenas deu de ombros como resposta ao homem, apertando mais a sua bolsa entre as suas mãos. Ter permitido que Heero o acompanhasse até em casa não parece uma boa idéia agora. As sensações que o vampiro secular estava lhe causando só tendiam a piorar. Cem Aves Maria na missa de domingo e trinta Pai Nossos só pelos pensamentos nada bonitos que aqueles olhos azuis, que sempre estavam lhe dando um relance durante o trajeto, estavam lhe causando.
-Okay, para mim chega! –Heero segurou Duo pelo pulso, causando uma descarga elétrica passar pelo corpo de ambos, e rapidamente o jovem americano soltou-se da mão fria do homem, com os olhos violetas brilhando na direção dele.
-Não toque em mim. –Disse entre dentes.
-Vamos deixar uma coisa clara aqui, garoto. –O japonês começou em um tom frio e sem emoções, com uma máscara impassível em seu belo rosto. –Sei que você não gosta de mim pelo que eu sou, mas isso não muda o fato de que estamos lutando do mesmo lado. E como eu já disse antes, teremos que nos entender para lutarmos como uma equipe.
-Mas você não disse que eu seria obrigado a falar com você. Te aturar tudo bem, mas falar são outros quinhentos. –Retrucou o rapaz de trança com um muxoxo e Heero quase riu diante da birra dele.
-Verdade… -Murmurou o homem, colocando ambas as mãos dentro dos bolsos de seu sobretudo negro. –Pois bem, se é assim que você quer. Nunca me importei de falar muito mesmo. –E continuou a caminhar, deixando um americano estupefato para trás. Ele tinha concordado assim facilmente de que não precisavam trocar palavras só porque eram aliados? Que coisa estranha.
-Hei! –Duo gritou, correndo e voltando a andar lado a lado com Heero. –O que você quis dizer com isso? Não é muito de falar, como assim? Hei, você está me ouvindo? –Perguntou o jovem, exasperado, ao ver que parecia que a atenção de Heero não estava voltada para ele. O que por outro lado era um erro, pois a concentração do vampiro estava toda sobre o jovem caçador. Nunca pensou que seria tão fácil quebrar a postura defensiva do garoto.
-Pensei que você não iria falar comigo. –Disse displicente, cruzando a rua calmamente com Duo ainda ao seu lado.
-E eu não vou falar mesmo se você realmente quer saber. –Retrucou num muxoxo.
-Hn. –Foi a única resposta de Heero.
-Você é um sujeito muito estranho. Primeiro fica me enchendo a paciência dizendo que devemos nos entender, agora me ignora? Qual é a tua heim? –Indagou o jovem, jogando a sua bolsa por cima do ombro e mirando seus grandes olhos violetas no rosto sério do japonês.
-Hn. –Foi tudo o que Duo conseguiu como resposta.
-Okay, não fale comigo então. Veja só como eu me importo! –Exclamou o jovem a altas vozes, no meio da rua, jogando a sua trança por cima do ombro e apertando o passo, se afastando de Heero. Esse apenas deu um sorrisinho de lado diante da reação do garoto.
Mais dez minutos de caminhada em silêncio e eles finalmente chegaram ao orfanato da Igreja St. James.
-Bem, chegamos, é aqui onde eu moro. –Heero voltou seus olhos para a grande casa antiga, onde na fachada estava escrito em grandes letras: Orfanato St. James. –Eu te deixaria me acompanhar até a porta… -Começou o jovem com um certo sarcasmo. -… mas como a área pertence a Igreja, não queria ver meu "salvador" ir queimando daqui até lá, não é?
-Não, não queríamos. –Respondeu o homem com uma voz monocórdia, como se não tivesse sido afetado pela piada de mau gosto de Duo.
-Bem, boa noite então. –Duo virou-se e entrou nos terrenos do orfanato, dando um relance sobre o ombro e vendo que Heero ainda estava lá, o observando.
Quando o americano finalmente sumiu dentro da casa é que Heero virou-se para partir, com todas as sensações que essas horas ao lado de seu anjo causaram, ainda martelando dentro de seu ser.

Duo, o caça vampiros! Where stories live. Discover now