Capítulo 7

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A semana seguinte passou como um borrão para Duo. Embora ele tenha agradecido ao fato de que Treize não tinha conseguido ainda achar nada sobre a profecia, assim ele não tinha que falar com Heero, por outro lado ele estava xingando o inglês de todos os nomes feios que conhecia pela demora do homem. A missa de domingo rendeu umas boas horas dentro da Igreja rezando quantas Aves Maria e Pai Nossos deu até o almoço, o fazendo ganhar um olhar estranho do Padre Maxwell e Irmã Helen, pois eles sabiam que Duo não era de missas, quanto mais rezar.

S

egunda chegou e Duo novamente correu, em vez de caminhar, para a escola, chegando em cima da hora. Conseguindo por um triz escapar de Lady Une e ganhando uma repreensão do professor de física. Quando finalmente a hora do lanche chegou, o garoto sentou ao lado de seus amigos, soltando um suspiro aliviado. Enfim um pouco de paz.
-E então? –Quatre quebrou o estranho silêncio que estava dentro daquele trio. Normalmente Duo estaria falando pelos cotovelos, mesmo de boca cheia. Mas desde que o jovem caçador contou a eles sobre a visita do vampiro com alma – e Quatre percebeu que cada vez que ele falava do sujeito algo forte emanava de Duo – o mesmo parecia um pouco imerso em seu próprio mundo. Com certeza deveria estar pensando na profecia.
-E então o quê? –Duo virou-se para o amigo, com um grande pedaço de bolo na boca.
-Sr. Khushrenada encontrou alguma coisa da profecia? Você… -Nisso o loirinho abriu um sorriso enigmático o qual o jovem americano não gostou nada, nada. -… teve outras chances de se encontrar com o sr. Yuy? –Terminou, o sorriso alargando mais ainda enquanto via um certo rubor cruzar as bochechas de Duo. Ainda não havia encontrado esse tal de Heero Yuy pessoalmente, mas Duo falou tanto dele na última semana que era como se o conhecesse há anos.
-Graças a Deus não… faz idéia de como ele é irritante? Quero dizer… eu te contei quando ele estava me levando para casa, o que ele fez? –O jovem começou e o árabe lançou um olhar ao namorado, que apenas rolou os olhos em exasperação. Novamente essa história. Quem não soubesse, diria que Duo estava totalmente fascinado por esse vampiro.
-Duo! –Trowa chamou em meio ao relato do garoto. –Duo! –Chamou em um tom mais alto quando percebeu que esse estava muito distraído com a sua história para ouvi-lo.
-O quê? –O jovem de trança virou-se para o amigo.
-Acabei de lembrar que Treize mandou um recado. Ele quer falar com você.
-Falar comigo? –Duo bebeu um grande gole de seu suco enquanto falava.
-Foi o que ele disse.
-Será que ele encontrou algo sobre a profecia? –Quatre perguntou e sentiu que algo dentro de Duo balançou. Saber mais sobre a profecia significava um encontro com Heero.
-Sinceramente… -Trowa respondeu. –A cara dele não estava parecida com alguém que acabou de ter triunfo em algo. Mais parecia que… ele tinha chupado um limão. –Duo torceu o nariz diante disso. Se Treize estava assim como Trowa falou, ele nem queria saber qual o sermão que viria a seguir. Pois seu ex-sentinela só fazia essa cara quando Duo aprontava algo.
-Bem, então e vou ver o que a fera quer. Só espero que ele não lance saquinhos de chá, no auge de sua fúria, em cima de mim. –O jovem riu com a sua própria piada, recolhendo a sua bolsa e sumindo entre a multidão nos corredores.
Porém, Treize não lançou saquinhos de chá em cima do rapaz quando esse entrou na biblioteca e estacou imediatamente no lugar diante do que viu. O ex-sentinela estava com uma expressão que indicava que preferia estar dançando em meio a uma roda de vampiros e demônios, se oferecendo a eles como jantar, do que estar naquele local no exato instante. Sem contar que havia uma criatura estranha que andava de um lado para o outro, falando coisas sem sentido e desconexas para si, carregando livros e mais livros entre os braços. Livros que, o jovem de trança percebeu, eram de Treize. Ah, ele apostava sua estimada cruz de como o seu querido ex-sentinela estava contando até mil em inglês, sânscrito, em que língua que fosse para não matar o herege que estava tocando em seus sagrados livros.
-Novo sentinela? –Perguntou, parecendo mais uma afirmativa do que uma indagação, observando a criatura alta e loira perambular de um lado para o outro, ainda ignorante sobre a sua presença.
-Novo sentinela. –Treize respondeu fúnebre, cedendo os ombros em derrota. Duo quase rolou no chão de rir.
-Sr. Maxwell! –Duo enrijeceu diante do chamado e quando se viu mirado por um par de olhos azuis em uma bela face jovem. Tinha demorado muito para raciocinar e agora havia sido descoberto, não poderia mais fugir do homem.
-Senhor… ? Quem é o senhor? –Deu seu sorriso mais inocente e pôde jurar que vira Treize suprimir um riso escarninho, pelo canto do olho.
-Zechs Marquise. –Disse com o seu sotaque inglês carregado e estendendo uma mão para ele. O jovem americano apenas olhou da mão para o rosto jovial do loiro, que tinha os longos cabelos presos em um rabo de cavalo frouxo. Vendo que não iria lhe cumprimentar, o homem recolheu a sua mão, dando um pequeno sorriso ao garoto, mas também não foi retribuído.
-Okay… -Duo respondeu longamente. -… Eu to caindo fora. –Terminou, dando meia volta e pronto para partir, quando uma mão segurou em sua trança e o puxou de volta. Mas antes que ele tivesse tempo de reagir, a mão o havia soltado. Percebendo o movimento, o garoto concluiu que isso deveria ser obra de Treize. Somente ele tinha a coragem de tocar em sua trança e viver para contar história, embora na primeira vez que ele tenha feito isso seu braço não teve tanta sorte em permanecer ileso.
-Duo… -Começou em um tom de advertência, com um brilho perigoso no olhar, pois Zechs voltou a fuçar em seus livros. -… seja gentil. –Falou de um modo como se estivesse tentando convencer mais a si mesmo do que o garoto a sua frente.
-Okay, vamos colocar tudo em pratos limpos senhor Balize…
-Marquise. –Corrigiu Zechs.
-O que seja. Eu não preciso de novo sentinela, acho que já aprendi tudo o que tinha para aprender com o Treize, então… bye, bye. –Tentou ir embora de novo mas dessa vez foi Zechs que o interrompeu.
-Sr. Maxwell, devo dizer que esse comportamento vindo de sua parte não me impressiona. –Começou o homem, abrindo a sua pasta e retirando alguns papéis de dentro dela. Treize apenas fechou os olhos e os esfregou com as pontas dos dedos, aquele sujeito já estava lhe dando nos nervos. Muito jovem para ser designado a sentinela, e ele apostava todos os seus livros como ele tinha acabado de sair do treinamento. Duo somente largou a sua mochila no chão, sentindo que aquilo iria demorar mais que os sermões de Treize. Estava começando a sentir saudades deles.
-Verdade? –Retrucou monótono, sentando-se ao lado de seu ex-sentinela. Já que não tinha como escapar da criatura, o melhor a fazer seria enfrentá-la. Afinal, ele já tinha encarado coisas piores.
-Segundo relatórios sobre o senhor, o senhor é um caçador rebelde, que não acata ordens facilmente e difícil de se levar. Em resumo, um gênio estourado.
-Me resumiu em duas palavras compreensíveis, fiquei impressionado. Geralmente eu ouço frases mais longas vindas de Treize.
-Ah, e um grande piadista também. –Acrescentou o homem.
-Yeah! Esse sou eu!
-Mas garanto que com o tempo e os treinos o tornarei um bom caçador, mais condizente com a sua posição.
-Hum… um caçador ou um cãozinho adestrado é o que você quer? –Disse inocentemente. Não iria facilitar para o Conselho. Faria com o novo sentinela o mesmo que vez com vários candidatos a pais adotivos que teve: assustaria ele até que desistisse do cargo.
-Duo… -Treize ainda tentou repreendê-lo, mas tal ato ficava difícil quando você tentava segurar as risadas. Nunca pensou que um dia ficaria tão feliz em ouvir as piadinhas do jovem.
-Engraçadinho. –Comentou o homem, largando a sua pasta e começando a remexer novamente dentro de sua bolsa, retirando alguns livros dela. –Bem, que tal começarmos novamente? –Continuou, caminhando pela biblioteca e parando em frente a Duo, que apenas o olhou da mesma forma que olhava para a maioria de seus professores: de forma entediada. –O Conselho está detectando mais movimentação de demônios nessa área e está pedindo atenção redobrada sobre o assunto… -Começou a falar, andando de um lado para o outro, vendo livros e papéis e parecendo ignorar a presença das duas pessoas junto com ele na biblioteca.
-O Conselho não sabe sobre o Apocalipse e sobre a profecia que Yuy está procurando? –Duo sussurrou a Treize.
-Parece que não.
-E você não vai dizer a eles?
-Talvez. –O homem deu de ombros e o americano arregalou um pouco os olhos, para logo depois abrir um pequeno sorriso travesso.
-Tsc, tsc, tsc, sr. Khushrenada está se revelando um homem rebelde também. Será que é a convivência?
-Por isso creio que seria bom você fazer uma ronda extensiva essa noite. Desconfio que um grupo de vampiros de uma seita antiga esteja tentando trazer o seu mestre aprisionado de volta a terra… -Continuou falando e Duo soltou um suspiro entre dentes.
-Essa coisa de trazer mestre aprisionado de volta… nós já não passamos por isso? –Murmurou para seu ex-sentinela.
-Vampiros prepotentes e velhos que se consideram mestres existem aos montes por aí. –Respondeu o homem ao seu ex-pupilo.
-Parece que eles o trarão de volta através de um ritual que será realizado amanhã a noite, e que precisa ser impedido. Por isso quero que você traga o amuleto de consagração que está no mausoléu ao leste do cemitério, para mim. –Terminou e Duo pulou da mesa onde estava sentado, recolhendo a sua mochila do chão.
-Esqueça. Hoje tem a lasanha da Irmã Helen e eu não perco isso por nada desse mundo. Sem contar que você não usou a palavra mágica.
-Palavra mágica? –Zechs franziu ambas as sobrancelhas.
-Por favor. –Falou como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. Os ombros de Zechs contraíram-se levemente. Isso seria mais complicado do que ele pensava. Esse garoto era quase impossível de se lidar.
-Por favor Duo, poderia pegar esse amuleto para mim?
-Hum… não! Tchau! –E estava prestes a ir embora de vez, mas a voz de Treize, suave e ao mesmo tempo autoritária, o parou.
-Duo, traga o amuleto.
-Argh! Certo, certo, eu vou… -E saiu resmungando, da biblioteca, algo que lembrava muito a palavra "nazistas".
-Traga o amuleto. –Duo falou com uma voz fina, no meio da solidão do cemitério a noite, e rodando uma estaca entre os dedos. –Inglesinho que parece mais uma versão masculina da boneca Barbie. Argh, sujeitinho arrogante.
-Adoro o modo como você avalia com precisão a personalidade das pessoas.
-E eu odeio o modo como você aparece do nada para me perturbar. –Duo virou-se, mirando seus olhos violetas no intenso azul cobalto e já sentindo o costumeiro arrepio lhe descer a espinha. –Da próxima vez enfiarei uma estaca direto no seu coração.
-Eu pensei, devido a nossa última conversa, que entraríamos em um acordo de paz aqui. Garoto, eu não fiz nada a você e você já me vem com cinco estacas na mão. –Disse de maneira calma e fria, não se abalando com o olhar violeta furioso sobre si.
-Argh… -Duo suspirou em derrota, parecia que nunca venceria um argumento com esse sujeito irritante. Ponderou um pouco e o olhou de cima a baixo. Irritantemente sexy, ele poderia dizer, dentro daquelas roupas negras. Sacudiu a cabeça assim que o pensamento entrou nela, prometendo-se mais algumas Aves Maria na missa de domingo. -… Certo, mas o que você quer aqui? –Indagou, voltando a andar entre os túmulos a caminho do mausoléu.
-Bem, vivo por essas áreas. E você? –Perguntou, tentando iniciar uma conversa e o acompanhando a medida em que ele ia andando.
-Trabalho por essas áreas. -Silêncio caiu sobre eles enquanto iam atravessando o cemitério, até que Duo parou em frente à entrada do bendito mausoléu. –Bem, chegamos. Acho que é só pegar o amuleto… -E estava entrando no local quando Heero segurou em seu braço e o parou.
-O amuleto de consagração?
-Conhece? –Virou-se para o homem, erguendo as sobrancelhas em curiosidade.
-Se conheço… Seu sentinela te mandou sozinho pegar o amuleto? –Heero sabia que estava se expondo demais ao fazer essa pergunta. Mas o problema era quê, por mais que ele tentasse enfiar em sua cabeça dura que Duo era um caçador, que saberia se cuidar, que era capaz de lhe derrubar com um soco, ainda sim não conseguia ver nada mais que um menino frágil e desamparado, como naquele dia em que o encontrou chorando no parque, e que precisava de proteção. Sua proteção. Deu-se um tapa mental para afastar esse pensamento incomodo e pertinente. Esse menino arrogante não precisava de nada vindo de si. Como se para se convencer disso, rapidamente soltou o braço dele e recuperou a postura rígida que perdera há minutos atrás.
-É! O almofadinhas Barbie inglês me mandou aqui. Ele simplesmente… -O garoto de trança fez um gesto largo e indignado. -… me mandou aqui.
-Novo sentinela? –Heero mais atestou do que perguntou. Pelo que tinha visto na última vez em que tinha encontrado o caçador e seu sentinela, eles dois pareciam ter uma relação de respeito mútuo muito boa, apesar das discussões.
-Sim. Então se você me der licença… -E antes que o japonês pudesse interrompê-lo novamente, ou tirar a sua concentração mais do que já estava tirando, entrou no mausoléu.
Como toda boa cova, o lugar tinha cheiro de mofo, teias de aranha, poeira e umidade. Ou seja, estava se sentindo quase em casa, já que passou os últimos quatro anos de sua vida se enfiando em buracos semelhantes ou piores do que esse. Talvez precisasse sair um pouco mais, pensou o jovem. Aprofundou-se mais no lugar e começou a checar os túmulos, empurrando as grandes e pesadas tampas de pedras que esses possuíam. Como sempre, a única coisa que encontrou lá foram ossos e pedaços podres do que um dia deveria ter sido uma bela roupa. Abriu a primeira tampa e nada encontrou, abriu a segunda com um ruído seco e irritante, e finalmente viu algo. Um medalhão estava preso ao pescoço do esqueleto, com a pedra rubi adornada com entalhes de ouro puro. Puxou a jóia do pescoço do cadáver, crendo que aquele deveria ser o maldito amuleto, e deu um pequeno sorriso. Porém, o som seco de algo maciço sendo jogado contra a parede tirou o sorriso do seu rosto e o pôs em alerta em segundos.
-Vampiros poderem voar é novidade para mim. Pensei que isso fosse apenas historinha de terror. –Duo disse em um tom irônico, mas a sua face não continha o sorriso escarninho habitual, quando viu Heero tentando levantar-se depois de ter se chocado contra a parede cinzenta do mausoléu.
-Cuidado! –O japonês gritou e Duo só teve tempo de virar-se para ver um vampiro enorme, vestido em uma roupa de cerimonial, dar um soco em seu peito e o fazer voar pelo mausoléu, tendo o mesmo destino que Heero.
-Argh! –O garoto de longa trança resmungou, sacudindo a cabeça para afastar a tontura que surgiu diante do ataque, e em poucos segundos já estava de pé novamente, pondo-se em posição defensiva. Viu quando mais três vampiros, vestidos igualmente ao primeiro que o atacou, entraram no mausoléu. –Já que está aqui, poderia me ajudar. –Disse a Heero que tinha acabado de se levantar. –Eu pego os da direita e você os da esquerda. –Concluiu, partindo para o ataque.
Heero, se não estivesse tentando se concentrar na batalha, com certeza pararia como uma pilastra de mármore no meio do lugar, apenas observando com incrível fascinação o modo como Duo batalhava, pois o garoto parecia mais dançar do que lutar. Em um movimento ágil e preciso, o rapaz deu uma cambalhota para trás, usando seus pés para acertar violentamente o queixo do primeiro vampiro, o afastando um pouco da linha de ataque do outro que vinha por detrás desse. E, antes que pusesse os dois pés no chão, o jovem caçador deu uma girada de corpo, fazendo sua perna desenhar um arco no ar, e acertou com força o outro vampiro na cabeça, o fazendo ficar desnorteado também.
Assim que se pôs sobre as suas pernas novamente, o caçador emitiu um sorriso feral e seus olhos, sempre violetas e brilhantes, escureceram de forma impressionante. Shinigami havia se apoderado de seu corpo e só o largaria quando visse as duas criaturas a sua frente virarem pó. O primeiro vampiro acertado rapidamente recuperou-se do chute levado e avançou para cima de Duo, com o punho já erguido para desferir o seu golpe, que rapidamente foi bloqueado pelo braço do rapaz. Porém, ele não foi tão rápido para evitar o soco que o atingiu na boca do estômago, tirando o ar de seus pulmões e o fazendo curvar-se sobre o corpo. Aproveitando-se disso, a criatura cortou o ar com o braço, fazendo seu punho acertar com força o garoto no meio do rosto. Quando viu Duo cambalear tonto diante do ataque, Heero começou a ver vermelho na frente de seus olhos. Com velocidade extrema ele pegou um dos vampiros que o atacava e o jogou contra a parede com força, procurando rapidamente no chão qualquer coisa que pudesse utilizar como arma. Mas um túmulo nunca irá ter utensílios para uma batalha contra demônios quando você mais precisa deles.
-Hei! –Ele ouviu o caçador chamar, notando que esse já tinha se recuperado rapidamente do golpe, e o viu jogar uma estaca na direção dele. A pegou no ar e quando o vampiro que o atacou partiu em sua direção para uma nova batalha, cravou a madeira no peito dele. Um a menos, faltava três agora.
Duo observou como uma criança hipnotizada com uma vitrine de doces Heero girar o corpo, depois que pegou a estaca que ele lhe lançou, e cravar essa no peito do demônio com precisão, como se todos os seus movimentos estivessem sendo feitos em câmera lenta. Como se lutar para si fosse uma arte. Saiu de seu transe quando foi chutado na lateral do corpo fortemente, sendo jogado contra a parede de pedra. Aquilo com certeza iria deixar um hematoma. O vampiro novamente ergueu a sua perna para poder lhe chutar, mas antes que essa alcançasse o seu corpo, Duo a segurou entre seu braço esquerdo e com o cotovelo do direito, desceu com violência contra o membro, ouvindo com um certo prazer mórbido o barulho de ossos se quebrando. Soltou o vampiro e esse recuou, gemendo em dor. Vendo que o companheiro estava ferido, o outro demônio entrou na batalha, mas não ficou nela por muito tempo. Como se tivesse surgido do nada nas mãos do rapaz, uma foice prateada rasgou o ar com um zumbido metálico e encontrou o pescoço do vampiro como seu alvo, arrancando a sua cabeça fora. Menos um, agora só faltava dois.
Heero bloqueou um golpe, dois, três, e já estava começando a se cansar daquilo tudo. Os vampiros lutavam bem, mas pareciam que não estavam lutando para matar, mas sim outra coisa. Com um certo pânico ele viu o vampiro que lutava com Duo conseguir afastá-lo de si e vir em sua direção, enquanto mais dois vampiros entravam no mausoléu. Eles não queriam lhes matar, apenas inutilizar, pois o que queriam eram o amuleto que estava com Duo. Viu quando as duas criaturas partiram de uma vez só para cima do caçador, que com habilidade e uma certa jogada de corpo se desviou do primeiro atacante, mas não conseguiu se desviar do segundo, que o atacou pelas costas com um bastão de ferro. O garoto apenas gemeu quando sentiu o metal contra o seu corpo, mas não desistiu fácil. Virou-se para o agressor quando esse tentou lhe acertar pela segunda vez, e segurou a haste de metal com firmeza, a impelindo contra o corpo do sujeito. Certo que um pedaço de ferro na barriga não era o suficiente para matar o vampiro, mas bom o bastante para inutilizá-lo enquanto cuidava do outro que já vinha em sua direção. Rapidamente ele empunhou novamente a deathscythe, a lançando contra o demônio, mas perdendo o seu alvo. A criatura agarrou na corrente quando essa passou perto de sua cabeça, e a puxou com força, trazendo Duo para perto de si e o socando na face esquerda. Com a força do golpe o garoto soltou a arma inconscientemente e recuou um passo. O vampiro largou a arma no chão e girou o corpo, chutando o rapaz no ombro esquerdo e tirando o equilíbrio dele, o fazendo cair no chão.
O americano não teve tempo de levantar-se, pois assim que tentou erguer parte do corpo esse foi rapidamente preso com força contra o chão novamente. O vampiro estava em cima dele e com um braço tentava impedir seus movimentos de ataque, enquanto o outro percorria o seu corpo, até que entrou na parte interna de sua jaqueta.
-Hei! –Gritou Duo ao sentir aquela mão o apalpando. –Tira a mão daí! –E dobrou a perna, deslizando entre o espaço deixado entre seu corpo e o do demônio, e atingiu a criatura com um chute, a tirando de cima de si. Mas quando essa se pôs de pé que o garoto viu porque ele tanto lhe apalpava. O infeliz medalhão estava na mão do sujeito. –Isso é meu! –Berrou enquanto via o vampiro sair do mausoléu acompanhado pelo companheiro que ainda tinha a barra de ferro atravessada na barriga. Iria levantar-se novamente, quando percebeu um movimento brusco e uma sombra lhe cobrir. Em questão de segundos estava no chão novamente, com Heero sobre si e mais dois vampiros fugindo de dentro da sepultura.
-Sua vida é interessante. –O japonês comentou casualmente e Duo virou a cabeça da porta do mausoléu para observá-lo, quase engasgando ao ter inspirado muito forte. Heero estava a milímetros de seu rosto e ele poderia ver aqueles olhos cobalto com perfeição. Cada traço dele, percebendo que havia uma fina linha negra em volta da íris azul brilhante, e como a pele não era muito pálida, mas tinha uma cor saudável, estranhamente saudável em relação a alguém que já estava morto. Os traços do rosto dele eram firmes e másculos, sem contar que ele poderia sentir cada músculo do homem contra o seu corpo.
"Pai nosso que estais no céu, santificado seja o vosso nome…" Começou quando sentiu seu coração vir à garganta diante da proximidade. Talvez fosse melhor uma sessão de confissão na missa de domingo, ainda mais que estava sentindo seu sangue ser drenado de seu corpo e começar a se concentrar em uma única parte, que estava ficando bem desperta.
-Será que poderia… sair de cima de mim? –Perguntou, se parabenizando por ter conseguido manter a voz firme. Heero remexeu-se sobre o garoto para poder se levantar, e o jovem teve que engolir um gemido diante do esfrega-esfrega entre os dois corpos. Quando pensou que se veria livre do japonês, esse mal se ergueu alguns centímetros e caiu novamente sobre ele, sendo puxado por algo que fez Duo dar um pequeno grito. –Ouch! Minha trança!
-Gomen. –Disse o moreno, tendo a certeza de que se pudesse respirar já estaria tendo uma crise asmática diante das sensações de ter aquele garoto tão perto, extremamente perto, o mais perto que qualquer criatura conseguiu chegar, de si. E se seu coração batesse com certeza já estaria saindo de sua caixa torácica. Pena que não poderia ter mais essas pequenas sensações físicas que uma atração ocasionava. Bem, exceto uma, pois tinha certeza que uma parte de seu corpo, ao contrário do resto, estava ficando bem viva diante da proximidade. E o fato de seu pulso estar enrolado naquela trança, aquela trança que estava fazendo os seus dedos formigarem para soltá-la e correr a sua mão entre as mechas, não estava lhe ajudando diante do conjunto de fatores. Estava ficando excitado. Pela primeira vez, em todos os seus duzentos e vinte e seis anos de existência, estava ficando excitado pelo simples contado físico dos corpos, ainda vestidos, e pela troca de olhares. Nunca que ele ficara assim. Certo, teve as suas noites de orgia quando ainda era um demônio sanguinário, mas era preciso muita bebida e muito pega-pega para ele chegar ao estado que estava ficando agora. Um simples olhar – que não era qualquer olhar diga-se de passagem, pois aqueles orbes violetas poderiam cativar qualquer um – o estava deixando sem controle. Estava perdendo o toque, o gelo estava derretendo. Chegando a essa conclusão, Heero se pôs de pé na velocidade de um raio, deixando Duo confuso e esparramado no chão.
-Já era hora. –Retrucou o jovem caçador, quase soltando um suspiro de alívio. Se o japonês continuasse mais um segundo em cima dele, ele jurava que não responderia mais por si.
-O amuleto foi levado, e agora? –Heero preferiu entrar em um terreno neutro no assunto, para ver se voltava ao controle. Ao menos a sua voz estava fria como sempre, o que já era um começo.
-Agora, meu caro, -Duo levantou-se, abaixando-se e batendo nas calças para tirar a poeira, tudo para evitar olhar para o homem a sua frente, pois tinha certeza que coraria se o fizesse. –vou avisar a Barbie… ops… Marquise, que não consegui o medalhão. E falar com Treize sobre onde eu possa achar os vampirinhos da túnica e impedir o ritual.
-Eu vou com você. –Falou o moreno e o rapaz ergueu a cabeça com os olhos largos voltados para ele.
-O quê?
-O submundo já deve estar sentindo o apocalipse chegando, mesmo que não saibam disso. Esses vampiros querendo libertar seu mestre e apenas mais um dos muitos eventos que a Boca do Inferno está incitando antes do fim do mundo. Pode ser perigoso e você, gostando ou não da idéia, vai precisar de ajuda.
-Certo. –Duo admitiu, ele tinha razão nesse ponto. Uma grande batalha estava por vir e ele precisaria de ajuda. Mas quanta? –Escuta… do jeito que você fala parece que a coisa vai ficar feia no final, acho mesmo que só nós dois…
-Wufei também conta como ajuda.
-Só nós três somos o suficiente para essa batalha? –Indagou e Heero o mirou longamente antes de, um pouco hesitante, dar a sua resposta.
-Creio que não… por isso, se você tiver amigas… -Enfatizou a palavra amigas e Duo rapidamente entendeu a mensagem. Talvez fosse a hora de começar a fazer algumas ligações.

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