Capítulo 05

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Augusto 

Carmem sumiu, procurei por ela em quase toda a cidade, mas nem notícia. Bem que podia estar morta. Olho pro céu pedindo perdão a Deus por desejar isso, pois o que ela fez não tem perdão. Estou ficando maluco sem respostas.

— Hey cara, está pensativo. — Eduardo aparece do nada. — Aconteceu algo?

— Sim, aquela peste da Carmen apareceu.

— E o que ela queria? — Ele se surpreende, ninguém esperava que ela fosse voltar jogar uma bomba em cima de mim e sumir novamente.

— Veio com umas conversa mole, mas viu que não sou o mesmo e acabou falando algo que me matou por dentro. — Meu peito dói só de lembrar das suas palavras.

— O que ela disse? — Eduardo diz com um semblante sério, sei que ele também deve estar com raiva dela, minha família nunca gostou dela.

— Ela ia ter um filho meu. — Digo e ele me olha com espanto.

— Ia? Cadê a criança?

— Ela simplesmente tirou, sem piedade alguma. — Vejo o choque, a indignação em seu olhar e entendo bem.

— Eu não acredito, Augusto sinto muito mesmo, nunca imaginaria que ela faria algo assim. Mamãe tinha razão de não gostar dela.

— Todos vocês tinham razão, eu que era idiota demais e não fui capaz de enxergar a falta de caráter dela, mas á quero ver pela última vez, dizer umas boas verdades.

— Estou aqui sempre. — Ele diz me abraçando. — Vou estar no restaurante qualquer coisa vai lá.

— Ok. — Digo e volto pro meu trabalho. Só então me lembro que não perguntei o que ele veio fazer aqui, mas agora já é tarde e ele se foi.

Fico imaginando como alguém pode ser tão cruel ao ponto de tirar a vida de um inocente assim, como se a criança não valesse nada, como se fosse algo qualquer que você vai lá e joga fora. Ela poderia me entregar a criança e sumir.

Era meu filho, hoje ele poderia estar aqui, nem sei se era uma menina ou um menino, não tive a chance de pegar meu bebê no colo, porque ainda no ventre daquele monstro ela resolveu matar, porquê não queria um filho meu.

Recebo uma mensagem de Eduardo, ele me convida para passar no restaurante mais tarde e aceito. Termino meu serviço, vou em casa e me arrumo pra ir até meu irmão. Eu sou o mais velho, logo depois vem Eduardo e o caçula é Álvaro, sempre fomos muito apegados uns aos outros, unidos, foi assim que nossos pais ensinaram que devíamos ser.

Quando saio de casa pra entrar no carro uma voz estridente me grita. Paro a olhando com desprezo.

— O que você quer aqui? — Grito as palavras a ela, que somente ri na minha cara.

— Queria saber como você estava, sabe, depois de descobrir que perdeu um filho. — Ela diz rindo, ela é louca, só pode, minha vontade é de entrar nesse carro e passar por cima dela.

— Vai embora Carmem pro seu próprio bem. — Digo entre dentes a ela que sorri mais ainda.

— Me diz Augusto, como está sendo pra você, saber que eu ia ter um filho seu, mas acabei por decidir que seria melhor não. — Meu peito dói somente de ouvir ela falar assim, sem remorso nenhum. Como alguém pode ser tão sem escrúpulos desse jeito?

— Está sendo maravilhoso. — Digo a olhando com desprezo.

— Maravilhoso? Achei que estava sofrendo. — Ela questiona confusa.

— Sim, é bom saber que meu filho deve estar em algum lugar melhor agora, afinal quanta tristeza e desgosto ele teria ao saber que foi você quem o deu a luz. Se é que o filho era meu. — Digo indo até ela parando na sua frente. — Imagina tão pequenino e com um desgosto enorme ter que aturar você.

— Acha que vai me desestabilizar falando isso? — Ela diz, mas vejo em seu olhar que estou atingindo, assim como ela fez comigo.

— Não sei, mas duvido muito, você é totalmente sem escrúpulos, sem caráter, sem coração. — Digo dando de ombros. — Mas pensando melhor agora agradeço a você por não ter deixado a criança nascer, imagina eu ter que dizer a ele ou ela quem realmente era a progenitora deles? Imagina o desgosto deles ao saber que é alguém tão baixa, tão mesquinha, tão fútil.

— Eu odeio você. — Ela grita e eu sorrio.

— Estamos empatados então, por que meu ódio por você é enorme. — Digo a ela que está com o rosto vermelho de raiva. — Não sei onde eu estava com a cabeça quando me envolvi com você, sabe eu até hoje tomo banho e esfrego meu corpo, com nojo de lembrar que um dia ele lhe pertenceu.

— Eu odeio você, você vai me pagar caro por tudo. — Ela grita. — Seu bosta, eu traía você desde o segundo mês de namoro, nunca foi o suficiente para mim, sempre pensando pequeno, um caipira nojento. — Ela grita e eu somente fico a olhando com desprezo. — Odiava seu jeito de querer opinar em tudo, seu jeito meloso, somente te usei e você como um bobo caiu na minha.

Não sinto mais nada por ela, mas ouvir que sempre fui usado, que ela nunca chegou a gostar de mim de verdade, faz eu me sentir um nada, e eu não deveria deixar isso me afetar mas me afeta.

Achei que tinha superado, me enganei, isso fere meu ego, achei que ela já não tinha mais nenhuma influência sobre isso em mim, mas ainda têm e isso me irrita. Decido dar as costas, o melhor é enterrar de vez o passado, Carmem já me fez sofrer demais pra ainda ganhar minha atenção.

Entro no carro e saio com raiva, com nojo, com remorso. Nunca vou poder ter meu filho comigo, sei que tem a possibilidade da criança não ser minha, mas mesmo assim dói. Carmem fez questão de me esconder a gravidez, não me deu a chance de tentar salvar a criança e agora volta do inferno para me fazer sofrer com essa informação.

Fico tão distraído em meus pensamentos que não presto atenção na rua, passo um sinal vermelho e decido ficar mais atento, não posso morrer ainda, minha mãe me mata. Não sei de onde surge, mas uma criança aparece em minha frente, eu nunca pisei tão fundo nesse freio quanto hoje, quando o carro para, destravo o cinto e corro para fora, meu Deus que não tenha acontecido nada a criança.

O menino me olha assustado com um carrinho nas mãos e respiro aliviado de vê-lo bem. Me abaixo para falar com o garotinho, mas surge então uma mulher gritando comigo, fico atônito e sem entender, até que encontro seus olhos e vejo o medo, o desespero, uma mãe assustada com a situação.

— Está louco? Não presta atenção não? Quase matou meu filho! — Ela me empurra e puxa a criança para sí, analisa o pequeno da cabeça aos pés, ela treme, admiro seu amor pelo filho. — Como saí andando por aí sem prestar atenção? Crianças são desatentas, poderia tê-lo matado! — Ela ainda grita, vejo que isso assusta o pequeno, tento dizer algo, mas ela não deixa, está muito nervosa. — Seu louco, é por pessoas como você que acontecem tantos acidentes! — Abro a boca para pedir desculpas, não vou discutir, ela está alterada, assustada, e eu estava mesmo errado, mas ela não me deixa falar e fica gritando e acho que só não xinga por causa do pequeno.

— Cecília se acalma querida, está assustando o Adam. — Vejo Carlos tentando abracá-la, mas ela está muito nervosa e continua gritando impropérios dirigidos a minha pessoa. Fernanda amiga da minha mãe surge, ela fica assustada com a situação.

— Maluco, inconsequente, é isso que você é!

— Cecília se acalma! Fernanda leva ela para dentro, está tremendo querida, o Adam está assustado. — Ela toma consciência do garotinho e o abraça, pega no colo e chora, Fernanda leva os dois para dentro e fico observando mãe e filho, ela aperta o menino, parece que ele é o centro do mundo dela, é bonito, todas as mães deveriam ser assim. Mas o que ela está fazendo com Fernanda.

— Me desculpe Carlos, eu estava distraído, a criança surgiu do nada, mas ainda bem que consegui frear a tempo.

— Graças a Deus não foi algo sério, descuidamos um instante do pequeno e ele saiu, crianças. Desculpe a reação dela, Adam é o mundo dela, ela ficou muito assustada.

— Eu entendo a reação dela, não se preocupe, desculpe novamente. — Aperto a não dele entro no carro e parto. Que situação meu Deus, quase atropelo uma criança, nunca mais fico desatento às ruas. Mas porquê Carlos e Fernanda a trataram com tanto carinho, será que ela é parente? Amiga?

Trilogia Irmãos Guerra - Amor Além Do DNAOnde as histórias ganham vida. Descobre agora