Capítulo 8, aquele sobre conselhos

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     Depois de buscar Michele na escola, nós tomamos sorvete na padaria perto de casa e chegamos às 18h. Juan não estava porque era seu dia de plantão. Eu, cansada de pensar, aceitei o convite de Rogério para tomar uma cerveja perto da delegacia. É um lugar onde os policiais vão com certo costume, principalmente no começo da carreira, e onde eu estava quando Juan me ligou falando da morte de Cinthia. Michele ficou com a babá, que nunca se importa em dormir na nossa casa alguns dias por semana caso receba um extra. Assim, saí às 19h30.

Encontro Rogério de roupa informal na entrada do lugar.

Nos sentamos na mesa, no fundo do bar, bem longe da bancada que Ana adora subir. No salão não cabem mais de 8 mesas de 4 lugares, mas a decoração vermelha e amarela faz com que as pessoas não se importem em ficar de pé só para estarem aqui. Antes das 22h o cheiro é de incenso, depois desse horário começa a feder ao álcool que derrubam no chão dançando. O casal que é dono e sua filha mais velha são os únicos mantendo o lugar, então não é sempre que conseguem manter tudo sob controle. Hoje é uma quarta e é a única razão para sermos apenas nós dois e mais um grupo de três pessoas aqui.

A garota loira de piercing na sobrancelha vem nos atender e traz a cerveja rotineira. Rogério não está com o olhar divertido, não que isso seja comum, mas me parece incomodado.

— Se me perguntar sobre o caso eu vou embora — estabeleço de imediato, dando um gole no líquido gelado e amarelo. — Como vai em casa?

— Péssimo e não vou mais falar disso — conta de forma inegociável. — Se preocupa com seus problemas. — Ele bebe sua cerveja. — Não vou falar do caso, mas é algo entre os mundos.

Entre os mundos é uma expressão que criamos para problemas que envolvem nossa vida pessoal e profissional, logo, não se pode deixar de falar do caso e eu sei que Rogério está me enrolando.

— Fui na delegacia hoje e você pode brigar comigo por isso depois — diz rapidamente. — Juan estava brigando com sua estagiária. — Minha careta desmancha em surpresa. — Você mandou uma estagiária analisar o caso? Aquilo é coisa muito sigilosa. O maior suspeito é filho do advogado dessa cidade inteira.

Desço na cadeira de madeira dura e procuro a maior e mais plausível desculpa para dar.

— Ela encontrou uma coisa — fala antes de mim e pulo para frente, me apoiando na mesa, de uma só vez. Rogério sorri e bebê mais de sua cerveja. — Não deixei ela te ligar, mas amanhã vai ficar sabendo de tudo. Mas uma estagiária, Laura?

— O que ela descobriu? — grito, pessoas desconhecidas nos encararam. — O que ela descobriu? — em sussurro. Ele se mantém em silêncio. — Nada de falar do caso — lembro, frustrada, cruzando os braços cobertos com uma jaqueta de couro preta. — Por que isso é entre os mundos?

Rogério se ajeita na cadeira, preparando seus argumentos.

— Juan não brigou com ela da forma que deveria — começa, o encaro interessada. — Estou acostumado a trabalhar com ele e conheço a necessidade de controle, mas aquilo... O delegado chamou a atenção dele. Juan estava gritando com a garota como se ela tivesse contaminado uma das provas, foi muito desproporcional e eu sabia que você iria querer saber disso.

— Por quê?

— O caso mexe com Juan, todos sabemos disso, e ignorar porque não quer irritá-lo só está piorando as coisas, Lau.

— Caralho, Rô. — Dou grandes gole na minha cerveja,

— O que vai fazer se realmente for o mesmo assassino? Melhor, o que Juan vai fazer? — Ele me analisa enquanto minhas expressões mudam. Odeio isso, mas sei que Rogério tem razão e eu só estou adiando o pior.

Não Deixe a Puta MorrerOnde as histórias ganham vida. Descobre agora