Capítulo 15, aquele sobre ceder

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     Faço tudo o que está ao meu alcance quando me comprometo com algo, sempre fui assim, e me desgasta quando meu máximo não é o suficiente. Assim me sinto agora, insuficiente para esse caso.

Há algo mais que deveria estar notando e não estou. Isso sim é um balde de água fria caindo na minha cabeça. Só que não paro. Nunca vou parar. Eu não consigo dormir e acordar sem pensar nesse caso. Um minuto perdido pode ser o suficiente para determinar a vida ou a morte de duas mulheres, não posso me dar ao privilégio de parar. Talvez, se eu e Juan estivéssemos bem, ele poderia me ajudar a desafogar a mente, mas está tão imerso nesse esgoto quanto eu.

Pouco antes de chegar na delegacia, Matheus me ligou. Ele e Laerte estavam bem perto e mudei de direção antes que os jornalistas que vissem.

— O Pastor vai ser interrogado? — Laerte tentou confirmar se ouviu direito o que eu disse. — Eu tô certo? Se eles venderam as crianças?

— Esse é um outro crime, não está nas minhas mãos.

— Foi ele quem pegou elas? — Matheus argumenta. — Não as crianças. Eu sei que o fundador da igreja já morreu. Falo da Cecília e da Cassandra. Foi ele?

— Não acha mais que foi a Cassandra? — pergunto, Matheus faz uma careta. — Nem a Amanda? — Olho Laerte.

— Ah, investigadora, eu nem consigo mais dormir. Só quero que a Cassandra fique viva. Não quero que você e o delegado apareçam hoje ou amanhã falando que encontraram o corpo dela na TV. — Laerte dança de um pé para o outro, como se quisesse muito ir no banheiro.

— Porque não me importo com toda essa história do Pastor se não for ajudar a encontrar a Cecília também. — Matheus olha para Laerte.

— Eu me importo com os dois — rebate Laerte e se afasta, era quase como se quisesse me repelir.

— Você mentiu, Laerte. Se tivesse dito a verdade desde o começo o caso teria andando mais rápido. — Ele me apontou o indicador ao se virar. — Por que a braveza toda agora?

— Porque vez que tentei falar a verdade vocês ameaçaram me prender. Eu precisei mentir. Se dependesse de vocês eu seria preso e o assassino continuaria solto.

As mãos dele estão trêmulas quando Laerte começa a bolar um cigarro de tabaco, e molha todo o papel antes de conseguir. Matheus falo:

— O Pastor é o Caçador de Olhos.

Meu rosto inteiro se tensiona de uma só vez. Com quais bases ele pode afirmar algo tão imenso como isso? Chego cada vez mais à conclusão que esses dois homens estranhos em minha frente buscam culpados de forma tão desesperada e cega que apenas soltam os achismos de maneira aleatória.

— Religioso. Velho. Mentiroso. Vendeu crianças — Matheus argumenta.

Não são bons argumentos, apesar de parecerem. Eu não desconsidero a possibilidade, claro, mas o Pastor João Miguel não era responsável pela igreja naquela época. O que podemos descobrir é o que ele sabe, que não é pouca coisa, mas responsabilizar esse pastor é fantasiar ao redor de um crime de 20 anos.

Apesar de tudo, esse foi um dos pontos altos desse encontro. As informações estão se chocando e a resposta está no ponto cego. É lá que preciso conseguir colocar meus olhos.

— Caralho, onde você está? Essa delegacia virou uma loucura! — grito ao telefone, há 3h tento falar com Rogério e só agora ele me atendeu. — Temos o DNA do Caçador de olhos, escutou? Você precisa vir agora — exijo, mas o outro permanece mudo. — Por que não foi você que me disse isso? Preciso do meu perito. Não quero outro. Você precisa estar aqui agora! — argumento. — Escutou o que eu disse?

Não Deixe a Puta MorrerOnde as histórias ganham vida. Descobre agora