Capítulo 18, aquele sobre padrões

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     Minha cabeça dói como se tivesse tomado um porre. O cheiro de café está espalhado por todo o ambiente quando me sento e encaro a Ana bem-vestida e entretida, vendo o noticiário, com uma xícara rosa em mãos. Ela está sentada aos meus pés e olho para a televisão grande que ocupa a parede do seu apartamento. Ainda estou confusa com as informações ditas pela repórter do jornal da manhã e umedeço meus lábios, retirando o cobertor de cima das minhas pernas.

— Já falaram do caso, não têm informação nova — sussurra.

— Eu sei disso — respondo, resmungando.

— Acordou melhor? — Dou os ombros e Ana se levanta. — Vou pegar um café pra você. Vai ajudar.

Agradeço com os olhos e Ana caminha até a cafeteira branca. O som do líquido no caindo na xícara branca parece alto demais, tem um coração pulsando dentro da minha cabeça;

— Juan me ligou — conta, de costas para mim. — Queria saber se você estava aqui, se estava bem. Só disse que dormiu aqui, pra ele não ficar preocupado.

— Ah, mas ele merece ficar preocupado.

Escuto a risada tímida, o que não é comum. Isso significa que Ana concorda comigo, mesmo que não vá assumir porque seria alimentar minha raiva. Ela volta para a sala e aceito a xícara preta que só eu uso nessa casa.

— Eu preciso ir trabalhar, vai ficar bem aqui sozinha, ou fazer o seu trabalho também? Falou com o Rogério? — Ana se sentou. Eu confirmo.

Ontem, às 2h30, Ana apareceu na sala e verificou se eu ainda estava acordada, e de fato estava. Não chorava mais, mas meus olhos apenas não se fechavam. Ela disse que

Acontece que, para os círculos se fecharem, criei uma hipótese que tinha três premissas.

Primeiro: o Caçador de Olhos estaria morto.

Segundo: Alguém muito próximo a ele, e com acesso ao seu arsenal de olhos, estaria tentando copiá-lo.

Terceiro: o DNA da Bianca seria compatível ao DNA do envelope. Não 100%, mas muito.

Só que Rogério terminou as análises do DNA e não tinha quase nenhuma compatibilidade com o da saliva nos envelopes. Estou na estaca zero de novo e isso me perturba.

Bato os olhos vagarosamente, triste, depois me levanto de uma só vez. Acho que a raiva me mantém com as pernas firmes.

— Está atrasada? Me dá 15 minutos? — pergunto, Ana franze o cenho.

— Você ficou animada em 5 segundos?

— Nayara não consegue me mandar tudo por telefone e o Rogério mal consegue entrar no laboratório por causa da suspensão. Eu preciso ir para a delegacia. — Escuto minhas próprias palavras com desprezo, porque sei que Reinaldo não vai retirar Juan do caso e ele estará lá. — 15 minutos — repito e ela assente.

A ideia de ir até a delegacia não me desanima apenas porque vou encontrar meu marido depois da pior briga que tivemos no nosso relacionamento, mas também porque minha teoria caiu por terra. Ela era que ligaria todos os pontos: o assassino, a maternidade e a igreja.

— O herdeiro da maternidade? — Ana pergunta em minha direção quando apareço depois de lavar o rosto.

— É... Mas ele é irmão da Bianca, o mínimo que precisava era que o DNA fosse parecido e então eu poderia colocar a suspeita 100% nele. — Termino de beber meu café. — Os Trevisan financiaram a construção da igreja.

— Pô, não é possível...

— Não adianta nada parecer uma coisa muito fechada se não tenho uma prova concreta. Mexer com o Laerte já foi enfiar a mão no vespeiro, não vou enfiar a cara agora. — Encaro Ana, ela está com as sobrancelhas erguidas, como faz quando está me julgando. — Nem provas circunstanciais eu tenho, Ana.

Não Deixe a Puta MorrerOnde as histórias ganham vida. Descobre agora