Capítulo 11, aquele com provas concretas

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     Quatro dias se passaram desde que fomos à casa de Thiago. Não aceitei Juan de volta ao caso, mesmo que ele tenha insistido com muita perseverança e cheio do melhor tom de superioridade que é capaz de fazer, já que todo o seu orgulho foi ignorado. Aprendi a fazer isso ao longo dos anos, às vezes é necessário, mas então Juan não está falando comigo. É estranho porque moramos juntos, dividimos a mesma cama e a mesma filha, mas nenhum de nós quer mudar de ideia.

Queria ter mais informações sobre o caso das garotas, mas os olhos de Cinthia não possuíam nada além do que já sabíamos. Cocaína. E agora é certeza que Cecília foi sequestrada também.

Eu fiz questão de demitir Nayara depois do vazamento de informações confidenciais. Não há dúvidas de que a estagiária as vendeu por uma nota ao jornal principal do estado, que enche o saco do delegado e que por sua vez enche a porra do meu saco com razão, porque a culpa é minha.

Nem tudo foi tão ruim em outro âmbito. Desde que notei o padrão sobre os filhos das mulheres mortas pelo Caçador de Olhos, ocupei o tempo que deveria descansar em busca das correlações entre as crianças, e não as mães, como fizeram sempre. Nada disso eu disse a Juan.

Do que pude analisar, 5 das mulheres tiveram gêmeos, de diferentes sexos, e 2 tiveram trigêmeas. Isso já é uma coincidência, mas uma coisa muito diferente do que esperava saltou aos meus olhos. Imaginei que talvez as crianças tivessem estudado na mesma escola, ou frequentado algum grupo de apoio igual, mas não.

— Você vai ficar louca com isso — julga Ana.

Ela o copo de suco sobre a mesa de vidro da cozinha. Aqui espalhei papeis sobre o antigo caso abaixo da luz branca. Ana se senta e tensiona a testa.

— O que você descobriu? — pergunta ao reconhecer meu rosto empalidecido.

— Os filhos... Eles nasceram todos em datas próximas. 72 dias de diferença entre os mais distantes. As datas se distribuem entre maio e julho, o que isso significa? — Ana me dá os ombros, mas está interessada no que falo, porque pega os papeis da minha mão para verificar por si só.

— Com isso não dá pra saber nada — atesta ela.

— Na mesma maternidade — conto. — 16 crianças nascidas na mesma maternidade em um espaço de 3 meses.

— A mesma maternidade? — Ana abre muito a boca endireita as costas.

Eu coço o couro cabeludo com as duas mãos e abaixo a cabeça.

Nunca estive tão desgastada quanto agora, mas ao mesmo tempo também tenho a impressão de que que há algo a ser descoberto bem diante dos meus olhos, mas que sou incapaz de enxergar. Ana empurra o copo fino preenchido por o líquido corado de amarelo e levanto a cabeça, aceitando alguns goles. Volto a mexer nos papéis, encarar as fotos de crianças que tiveram suas vidas arruinadas sem a menor chance de defesa, e penso que talvez também não seja a pessoa ideal para esse caso, já que ver a imagem do meu marido aos 8 anos após perder a mãe me dói como se tivesse eu mesma perdido a minha.

— Vai lá? — pergunta Ana e me puxa dos pensamentos no qual me afundei sem notar. Apenas a olho. Ana aponta para o endereço marcado no papel que imprimi mais cedo. — Ah! você vai sim.

— E se não for nada? — Estou arrepiada. — Como pode que ninguém viu isso antes?

— Pô, Lau, modéstia agora? Não faz seu tipo. — Ana está sorrindo. — Nenhum desses investigadores era você. Nenhum deles estava escondido na minha casa pra ajudar o marido a fechar uma ferida. — Ela coloca a mão sobre a minha. — Por que ainda não foi dormir?

Não Deixe a Puta MorrerOnde as histórias ganham vida. Descobre agora