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POV S/N

"Querido diário... Ou melhor, querido Payton...

Agora é exatamente 00:03, oficialmente o pior e mais doloroso dia que passei em LA terminou. As coisas não transcorreram de maneira fácil por aqui, todos estamos muito abalados. Hoje foi só o primeiro de muitos dias em que tua ausência será sentida, é como se existisse um vazio em todos os lugares para onde olho, falta algo. Falta você. Eu sei que você não quer me ver mal, porém, hoje isso foi inevitável. Me desculpa?!

A unica coisa que me conforta por saber que você está longe é a certeza de que vai voltar livre desse vício e finalmente poderá recomeçar a vida. Como já dizia John Lennon: "Paciência e perseverança tem o efeito mágico de fazer as dificuldades desaparecerem e os obstáculos sumirem."

Então, não se esqueça que ainda que demore, as coisas vão acabar se resolvendo. Espero que estejam cuidando de você.

Te amo. S/n."

Fechei o caderno que estou utilizando para conseguir atender ao pedido de Payton, de que narre tudo que acontece e o coloquei ao lado da cama. Da cama dele. Não ia conseguir dormir em outro lugar se não aqui esta noite, ainda que para onde eu olhe meu estômago se embrulha, me fazendo ter o impulso de sair correndo e me jogar nos braços dele, preciso aguentar. Por Payton.

Então preferi dormir com seu perfume, em uma frustrada tentativa de amenizar a dor.

POV PAYTON

Parei em pé ao lado das janelas com grades, no quarto branco e com um cheiro hospitalar, via a lua ao longe, pequena, brilhando, livre. Quando cheguei a este local tive a certeza de que não conseguirei suportar por muito tempo sem antes enlouquecer. Olhei para meu braço e mexi na pulseira que S/n amarrara mais cedo, pela primeira vez em tempos eu soube o que é sentir saudade.

Bianca, minha enfermeira, adentrou no quarto para espiar o que eu fazia. Não se demorou muito, respeitando-me. Estou sendo constantemente vigiado, simplesmente isolado de tudo e de todos, nós, que estamos aqui, parecemos os coitados da sociedade, a vergonha.

Sentei-me e olhei minha mala ainda intocada, suspirei e a abri, tirando os dois porta retratos que havia trazido junto, um com uma foto de minha família e outra com S/n. Coloquei ambas ao lado da cama, na cômoda. No mesmo instante a porta se abriu e novamente Bianca entrou.

Bianca: Querido, está sentindo algo? - questionou, neguei com a cabeça. - Não está com fome?! Soube que não quis jantar. - novamente neguei. - Payton, correto? - assenti. - Os medicamentos são fortes, não pode tomá-los com o estômago vazio, precisa comer algo.

- Estou sem fome. - retruquei, sem encará-la.

Sinto vergonha de estar aqui, vergonha por ter certeza de que ela sabe o que eu fiz para ser posto nesse local.

Uma semana se completou e eu já me sentia totalmente sem forças. Passei o dedo por meu braço, sobre as marcas que as agulhas injetadas causaram, os remédios vem sendo fortes para me impedir até de pensar sobre drogas, porém é dificil não fazê-lo em um local deprimente como este. Toda vez que meu corpo começa a dar sinais de que está prestes a enlouquecer, com tremores e suor nas mãos, aumentam minha dose. Confinei-me no quarto, ainda que tentassem me fazer ir até o jardim respirar um ar puro. Bianca se tornara minha única companhia, já sabia praticamente tudo de minha vida.

Ela tem uns 28 anos e é a enfermeira mais simpática do local, pelo simples fato de não me olhar com pena, como todos os outros parecem fazer por aqui. Em alguns aspectos ela me lembra Faith, é um tanto louca, durona e adora me passar lição de moral, desafiando-me a fazer a coisa certa. Se tudo isso já não basta para que eu esteja desesperado, ainda tem a saudade. De olhar o sol. De passear livremente. De minha casa.

 𝘁𝗵𝗲 𝗲𝘅𝗰𝗵𝗮𝗻𝗴𝗲 ! 𝗽𝗮𝘆𝘁𝗼𝗻 𝗺𝗼𝗼𝗿𝗺𝗲𝗶𝗲𝗿Where stories live. Discover now