Capítulo 5 - Bloom

945 65 147
                                    

Tocando agora
Bloom by The Paper Kites

×-------×

Era sábado, fazia uma semana e meia que George estava com eles.

10 dias.

Dream havia se acostumado com algumas coisas nesse período, como o fato de que George sempre tomava uma xícara de chá antes de dormir. Era um dos hábitos dele que ele passou a acompanhar. Ele colocava água no bule para ferver e enquanto esperava os dois conversavam e assim que o bule começava a chiar George o tirava do fogo e preparava uma xícara de chá para os dois. E em algumas noites eles saíam com canecas fumegantes e iam se sentar na sala de estar ou nas cadeiras de balanço na varanda dos fundos e conversavam mais pouco. Parecia que quando se tratava dele e de George os dois sempre tinham assunto para uma conversa.

George gostava das noites em que eles se sentavam do lado de fora. Ele encarava o jardim de Dream e o céu noturno quase sem estrelas, mas ainda assim, aquela parte do céu de Orlando parecia brilhar mais do que a vista da sua janela em casa. Lembrar de casa também o fazia lembrar do quanto ele sentia falta da chuva, desde que chegou não havia caído uma gota, ele sentia falta de escutar o barulho da água caindo. Não estava fazendo muito calor, no entanto, fazia uma temperatura agradável, e, agora na varanda, um vento fraco batia contra eles.

Aquelas conversas acompanhadas de chá sempre aconteciam tarde da noite, como ontem quando eles foram dormir 4 da manhã e ainda assim George insistiu em fazer o chá, e parecia que todo o mundo em volta deles já estava dormindo, tudo em silêncio, só o som das folhas nas árvores batendo por causa do vento e insetos zumbindo como pano de fundo. Dream nunca admitiria, mas ele amava aquelas conversas.

Sapnap se juntava a eles algumas vezes, mas nunca aceitava o chá, ele implicava com George dizendo que aquela merda era britânica demais para ele.

Outra coisa que Dream nunca admitiria como amava era o sotaque de George. Palavras ditas aos sussurros em noites silenciosas pareciam quase um segredo. Pareciam, mas não eram. Principalmente quando os dois já estavam bêbados de sono e Dream tinha que tomar cuidado para a sua língua não escorregar, e nenhum dos dois queria se retirar. Dream tinha que se obrigar a levantar às vezes, a deixar as canecas sujas na pia e ir para o seu quarto. George dizia boa noite a ele, e ele tentava se lembrar de que ele ainda estaria lá amanhã, que ele não iria embora, não ainda.

Eles haviam feito alguns streams naquela semana, era uma logística meio complicada, mas eles davam um jeito. George ficava com Dream ou com Sapnap ou usava o próprio notebook. Ontem ele havia participado de uma live com Sapnap — no mesmo quarto, câmera ligada, — Dream havia se juntado a eles, sentado no chão longe das lentes. George se lembra dos comentários no chat sobre ele olhando para o lado toda hora, que só aumentaram depois que Sapnap explicou que Dream estava lá com eles.

Alguém perguntou como o rosto de Dream era, ele inventou uma resposta idiota sobre Dream usar barba e ter aparência de sem-teto. Dream tinha um rosto bonito, George gostava de como ele se assentava de maneira simétrica, como as proporções do rosto dele combinavam num arranjo agradável aos olhos, as sobrancelhas marrons, as maçãs do rosto, o nariz longo e lábios finos. Ele tinha mesmo uma barba, rala e desleixada, só uma sombra por fazer, mas que caía bem nele.

Eles saiam de vez em quando, tentavam mostrar a cidade a George e às vezes iam comer fora. Na maioria das vezes eles só pediam comida em casa, Dream tinha medo de sair com os dois e alguém os reconhecer. Não seria tão difícil juntar 2+2 e descobrir quem era o cara loiro sentado no outro lado da mesa com George e Sapnap.

Às vezes ele achava que não mostrar o seu rosto era ao mesmo tempo uma benção e uma maldição. Ele podia ir aonde quisesse, poderia ser só mais um cara normal de vinte e poucos anos enchendo a cara em alguma festa, ou a pessoa na sua frente na fila do supermercado. Não havia ninguém que soubesse como ele era, e isso o dava certa liberdade, ao mesmo tempo em que essa liberdade vinha acorrentada à falta da liberdade em si. Porque ele não conseguia sair com os seus amigos sem ter medo que algum louco paranoico o reconheceria, que alguém jogasse o seu rosto na Internet pro resto do mundo ver, que aquilo que ele fragilmente chamava de liberdade fosse pelos ares. Ele não conseguia relaxar e ele odiava isso.

Gallery of Time (dnf)Where stories live. Discover now