Capítulo 8 - A Verdade

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“Mas é que a verdade nunca me fez sentido. A verdade não me faz sentido! É por isso que eu a temia e a temo. Desamparada, eu te entrego tudo – para que faças disso uma coisa alegre. Por te falar eu te assustarei e te perderei?

Mas se eu nunca falar eu me perderei, e por me perder eu te perderia.”

– Clarice Lispector (A paixão segundo G.H)

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Quando a mão de George soltou a sua, Dream a sentiu deslizar para longe, dedos apertando os seus uma última vez antes de deixar ir, e depois disso os dois não conversaram sobre isso. Não conversaram a respeito daquele momento na mesa de jantar depois, quando se levantaram e voltaram para sala para terminar de assistir ao jogo ou quando outra partida começou. E com certeza não conversaram sobre aquilo quando eles se despediram dos seus pais e da sua irmã e foram embora, ou enquanto Dream dirigia por estradas já escuras e eles chegaram em casa, e parecia que o momento estranho estava de volta, só que diferente dessa vez.

Talvez ele tenha demorado muito no banho, porque quando desceu as escadas encontrou George assistindo a um filme enrolado em um cobertor velho laranja e amarelo e com um pote de sorvete no colo.

Dream olhou para TV, passava O Grinch (o antigo com o Jim Carrey). Porque já havia começado aquela fase natalina, filmes de Natal, decorações de Natal, preparativos para o Natal, tradições de Natal. O Natal em todos os lugares.

Ele passou por George e foi para a cozinha, voltou com uma colher na mão e se sentou ao lado dele. George não disse nada enquanto ele roubava o pote de sorvete para o próprio colo e comia uma colherada.

Na tela Cindy Lou subindo a montanha para tentar convencer o Grinch a ir para Quemlândia e receber o prêmio de Quem-Animador. O barulho do macaco batendo pratos na cabeça do Grinch, porque ele não aguentava mais as canções de Natal cantadas pelas pessoas na cidade. Então Cindy Lou aparece na sua frente.

"Oi, garotinha!" Dream fala junto com ele, puxando as palavras no mesmo tom de zoação e sarcasmo.

George ri da voz que ele faz. Os olhos saindo da TV para Dream. "Você é tipo o Grinch" ele diz "odeia o Natal e é verde e rabugento."

"Eu não odeio o Natal, e eu não sou rabugento."

"Patches é o seu Max."

"O quê?"

"Ela é a sua rena Rudolph" George continua. "Wow e você também é um ladrão, igual ele." Ele se endireita no sofá e pega o sorvete de volta. "Você tem que parar de pegar a minha comida, sério."

"E você precisa aprender a dividir, Gogy."

"Já pensou em pedir primeiro?"

"Não, não acho que eu precise."

Na TV o Grinch fazia Cindy Lou entrar pelo cano de voltar a Quemlândia. Então ele entra naquele grande dilema, discutindo consigo mesmo se iria ou não receber o prêmio.

George estava acomodado do mesmo jeito que Dream o encontrou quando desceu as escadas, costas encostadas no braço do sofá, o cobertor sobre as pernas, os pés com meias coloridas agora cutucando a coxa esquerda de Dream. Ele assistia ao filme com atenção, mas com olhos cansados. Dream sabia que nenhum dos dois era muito bom em manter uma boa rotina de sono, acordados em horas em que deveriam estar dormindo e dormindo nas horas em que todo mundo estava acordado. Ele sabia que boa parte do porquê do sono deles ser tão fudido era por culpa dos fusos horários diferentes. Mas George já estava na Flórida há 2 semanas, era mais do que tempo suficiente para eles terem se acostumados, ainda assim, ali estava George com cara de quem não conseguia dormir bem já fazia um bom tempo, o que não combinava com ele. Fala sério, era George, aquele cara conseguia entrar estado de hibernação e não sair mais, em qualquer lugar, quando ele quisesse.

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