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Any Gabrielly

Eu já estava em casa me recuperando há quase uma semana. Por mais que eu tenha me recuperado do acidente, meus pais fizeram questão de se certificar que eu teria uma consulta semanal com um terapeuta. Eu não reclamei, até porque eu queria mesmo conversar com alguém que não sentisse pena de tudo o que eu estou enfrentando. Se antes Priscila e Silvio eram superprotetores comigo, agora eu estou quase presa dentro de uma bolha de proteção.

Meu atestado durava até quarta da semana que vem, mas Priscila me disse que eu não precisava voltar, se ainda não estivesse me sentindo a vontade. O acidente tinha me deixado com uma cicatriz no pescoço, e uma na perna. Mas nem por um segundo eu pensei em tentar escondê-las. Não vou mentir e dizer que elas são das mais bonitas, mas agora elas fazem parte de mim. Fazem parte de quem eu sou, e eu não posso ter vergonha delas.

— Vamos? — Silvio perguntou, assim que eu desci as escadas.

— Sim. — Sorri de lado.

Nós caminhamos até o consultório, porque eu ainda não me sentia muito confortável em andar de carro. Meus pais me entenderam sem sequer questionar muito. Parece que Priscila também está com medo de que algo possa me machucar outra vez, e banir o uso do carro, já é um item a menos na lista dela. Além do mais, eles disseram que precisam mesmo fazer exercício físico.

— Pai, podemos passar na Senhora Michaels? — Perguntei, enquanto caminhávamos. — Eu estava pensando em comprar um pen drive e fazer um mix de músicas... O doutor disse que pode ajudar na recuperação do Josh.

— Tudo bem, filha. — Ele sorriu largo, e eu retribui o sorriso. — Alguma notícia boa sobre o Josh?

— Ainda não. — Dei de ombros. — Eu tenho falado com a Ursula e ela me disse que ele está estável agora.

— Você acha que ele pode nos surpreender e acordar? — Silvio perguntou um pouco hesitante.

— Eu espero que sim... — Murmurei.

Assim que nós entramos no consultório, eu me sentei na sala de espera e aguardei para ser chamada. Como estamos andando a pé, eu sempre prefiro sair um pouco mais cedo, já que não gosto de andar com pressa. Eu rolava a timeline no twitter, enquanto meu pai lia alguma revista sobre futebol. Noah tinha postado um pedido de melhoras ao Josh, e eu fiz questão de comentar que tudo daria certo. Eles se conhecem desde bem novos. Noah e Josh sempre foram melhores amigos, mesmo que estivessem seguindo por caminhos diferente, eles sempre estariam ali um pelo outro. É uma das amizades mais bonitas que eu já tinha visto.

— Any, vamos? — Eu ergui a cabeça, e guardei o celular.

Entrei no consultório do Luca, e sorri ao ver alguns desenhos infantis. Pelo que eu soube, ele também atende o público infantil. Eu me sentei no sofá, e o assisti se sentar na poltrona na minha frente. Ele sorriu pra mim. Estava empolgado com a sessão de hoje.

— Como estamos? — Ele perguntou.

— Bem... Eu acho. — Disse e encolhi os ombros.

— É a primeira vez que eu vejo a sua cicatriz na perna... — Ele disse contente. — É algum avanço na terapia?

— Eu nunca a escondi de verdade. — Dei de ombros. — Minha mãe me ensinou alguns truques com a maquiagem, mas eu não quero ter que me sujeitar a isso.

— Por quê? — Ele perguntou, e apoiou os cotovelos nos joelhos.

— Porque elas me lembram toda vez que eu sobrevivi. Elas me lembram que eu consegui superar, quando a ciência dizia que a chance era mínima. — Disse encarando a cicatriz na minha perna. — Eu não me envergonho delas.

HeartbrokenWhere stories live. Discover now