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Esse capítulo irá abordar temas que podem ser considerados sensíveis, como problemas alimentares, ansiedade e bullying. Caso você se sinta mal, não leia. A saúde em primeiro lugar sempre.

•••

Todos estavam quietos. Tudo o que se escutava eram os talheres batendo contra a cerâmica do prato. Any brincava com a comida, porque não sentia vontade nenhuma de realmente comer. Priscila tem notado o comportamento da mais nova, e ela já vem adiando uma conversa séria com Any há alguns dias. Para ser exata, há quatro dias. E ela sabia que elas precisariam conversar hoje, porque amanhã Any precisaria voltar para a escola.

Desde que Josh acordou do coma, Any tem andado muito pra baixo, ao contrário do que todos esperavam. Ela estava feliz porque ele estava bem, mas se sentia chateada por ele não se lembrar mais dela. Era como se, de repente, ela acordasse sem namorado. Sem alguém para observar as estrelas sob a luz do luar. Sem alguém para ser compreensivo e paciente com ela. Ela tinha acordado sem ele.

— Você ainda pode faltar, se quiser. — Silvio disse, enquanto levava uma garfada de comida para a boca.

— A Nour me mataria. — Ela deu de ombros. — Eu estou bem, papai. De verdade. Acho que estou pronta para voltar pra escola.

— Tem certeza? — Silvio perguntou um pouco apreensivo. Ele estava mais preocupado do que ela. — Não quero ver ninguém fazendo piadinha sobre o que aconteceu, ou te dizendo que foi culpa sua. Eu quero que me conte tudo o que acontecer, tudo bem?

Ela assentiu de leve.

— Você não vai sair da mesa, enquanto não comer um pouco. — Priscila disse. Ela se levantou para buscar mais suco, e quando voltou, encontrou uma Any com os braços cruzados e sem paciência. — Você não está comendo direito, Any! Não posso deixar que você continue assim!

Any sabia que a mãe tinha razão, mas ela odiava ter que comer forçada. Contra a sua vontade, ela colocou duas colheres de comida na boca e se levantou. Ao terminar de mastigar, Any retirou seu prato da mesa e bebeu todo o suco que estava no copo. Ela sorriu falsa para a mãe, e subiu as escadas sem sequer dizer mais alguma palavra. Tudo o que ela precisava agora, era de um bom banho e uma boa noite de sono porque o dia seguinte seria longo e cansativo.

No andar de baixo, Priscila respirou fundo e permitiu que seu corpo relaxasse na cadeira. Ela acariciou as têmporas e encarou Silvio com os olhos quase que transbordando de água. Ele imediatamente se levantou de seu lugar, e caminhou para abraçar a esposa. Ele afagou os cabelos dela, e a escondeu em seu peito, enquanto Priscila deixava algumas que lágrimas rolassem. Ele se afastou um pouco e limpou o rosto dela.

— Você está fazendo um ótimo trabalho! — Ele garantiu.

— Então, por que eu não sinto isso? — Priscila perguntou um pouco decepcionada. — Parece que eu estou sempre enchendo o saco dela. Poxa, eu só quero vê-la bem!

— Ela está passando por um momento difícil, Priscila... Vamos tentar ter um pouco de empatia, mesmo que eu entenda que tudo o que estamos fazendo, é apenas pra que ela se sinta bem. — Silvio diz, enquanto ainda recolhe Priscila em seus braços. — Você é a melhor mãe do mundo, meu amor!

Enquanto isso, Any lutava contra seus próprios fantasmas dentro de seu quarto. Luca tinha dito que ela precisava começar um hobbie que dependesse apenas dela, e ela tinha escolhido pintar. Naquela tarde, Silvio comprou uma tela e algumas tintas pra que ela pudesse começar. Sem querer pensar muito sobre amanhã, Any pegou os pincéis e começou a se expressar. Ela desenhava o que estava sentindo. Mesmo que nada parecesse muito bom, ela sabia que estava colocando seus sentimentos pra fora. As linhas eram todas as vezes em que ela tinha se sentido pra baixo naquela semana, as bolinhas preenchidas eram todas as vezes que ela tinha forçado vômito e os quadrados eram todas as vezes em que ela pensava em Josh. Grande parte da tela estava preenchida por linhas e quadrados.

HeartbrokenWhere stories live. Discover now