AGORA

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Percy acordou mas demorou a abrir os olhos graças a uma dor latejante dominando sua cabeça e sua pálpebra que parecia pesar quilos

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Percy acordou mas demorou a abrir os olhos graças a uma dor latejante dominando sua cabeça e sua pálpebra que parecia pesar quilos. Sentia-se dolorido, sentia-se exausto mesmo tendo dormido por quatorze horas seguidas.

Se levantou e esticou seu corpo, estralando todas as juntas possíveis antes de ir até a cozinha. Apesar de fazer apenas duas semanas, parecia que não entrava ali a meses com toda a intensidade de se recuperar de seus ferimentos enquanto Annabeth estava em coma. Colocou a água no fogo enquanto lavava algumas louças sujas, alguns minutos depois coando o café e enchendo uma caneca até a boca antes de tomar um longo gole. Normalmente nenhum deles bebia café, a cafeína era quase um veneno para o casal com TDAH, mas hoje ele simplesmente precisava. Só com muita cafeína em seu corpo aguentaria o dia.

Desde que estava impossibilitado de dirigir, mandou uma mensagem para seu padrasto vir lhe buscar e o levar até o hospital onde Sally tinha passado a tarde e a noite anterior com Annabeth para que ele pudesse vir em casa, tomar banho e parecer minimamente apresentável. Enquanto esperava ele arrumou uma bolsa com algumas mudas de roupa dele e de sua esposa, assim como itens de higiene e alguns documentos que poderiam ser necessários, também pegou o carregador do celular o tablet que Annabeth usava para audiobooks, talvez poderia colocar um para ela, já que algumas pessoas ao saírem do coma diziam lembrar de algumas coisas que falavam a elas e Percy não queria que Annabeth passasse o dia entediada se esse fosse seu caso.

Ao sair do quarto passou novamente pelo quarto infantil e fechou os olhos com força, segurando-se para não desabar novamente e começar tudo de novo e se forçou a dar passos que o levaram de volta à sala. Aquela casa tinha tantas memórias de amor, de superação, lembranças de momentos que eles passaram em família, momentos tão curtos mas tão significativos.

O sofá que eles mal usavam já que amava sentar no tapete felpudo que tinha ali, usando a mesinha de centro de mesa de jantar; a televisão que nos últimos anos era a protagonista do hábito dos dois de assistirem e comentarem os mais variados reality shows juntos, a estante de livros que Annabeth tinha personalizado, um hobbie que ajudou-a a superar a perda de Bernardo. No alto da estante também continha dois ursinhos de pelúcia, um verde e um rosa e na prateleira mais baixa um grande e branco, colocados ali não como uma memória triste, mas como um lembrete. Um lembrete que nem sempre pais tinham filhos e isso não os fazia menos pais.

Era engraçado como a perda de um filho poderia afetar um casal. A morte de Bernardo quase acabou com eles, a de Isabela os tinha unido como nunca pela dor compartilhada, a de Charles... A de Charles ele ainda mal conseguia processar tudo o que aconteceu. Não parecia real. Não parecia que em um dia eles estavam ali, naquela sala, felizes e fazendo planos no futuro para apenas uma ligação ir tirando Charles deles aos poucos, um soco por vez.

E doía. Doía tanto quanto Bernardo. Doía tanto quanto Isabela. E Percy não sabia que aguentava mais dor, nem Annabeth o culpando mesmo que fosse sua culpa, mesmo que até ela estar em coma fosse sua culpa.

A culpa é um sentimento sorrateiro. Ela não faz alarde, é calma; ela rasteja lentamente por toda sua mente, se alimentando de pensamentos e os incentivando até que fique um pouco difícil de respirar, mas você só nota ela quando ela deu o bote e te paralisou completamente e você não consegue fazer mais nada, sentir mais nada, além de culpa, além de arrependimentos pelo que disse, pelo que fez. Por sua irresponsabilidade.

Também colocou alguns biscoitos na bolsa antes de fechar e esperar Paul na namoradeira da varanda da casa. Quando seu padrasto chegou, um certo alívio tomou-o, estar perto de sua família era sempre aconchegante, familiar, e o homem de cinquenta anos sentado no banco do motorista era o sinônimo de segurança.

Percy e Sally tinham passado por maus bocados, um marido abusivo, pobreza extrema até que conseguiu um emprego até que, alguns anos depois e já estabilizada, conheceu Paul Blofis, um professor de literatura com piadas ruins que foi o pai que Percy nunca teve, foi seu porto seguro, sua certeza e era graças a ele que sua mãe brilhava feliz. Estelle veio alguns anos depois e ele adorou o papel de irmão mais velho, sentia-se mais próximo de Paul, a quem desejava com todas as forças que fosse seu pai verdadeiro.

Desejo esse que, aos dezoito anos, foi realizado quando Paul assinou os papéis de adoção, tendo assim seu nome na certidão de Percy no lugar antes em branco do nome do pai. Perseu Jackson amava sua família com tudo de si e faria tudo por eles. E ele estava incluindo Annabeth e seus filhos, por isso, quando recebeu a ligação daquele celular secreto, não hesitou em atender.

- Pai? Me tira daqui, por favor. - A voz temerosa de Charles mal pode ser escutada sob o barulho de música alta.

Percy também não hesitou em largar tudo e ir atrás de seu filho.

✓ HAVE YOU EVER SEEN THE RAIN?, PERCY JACKSONOnde histórias criam vida. Descubra agora