ANTES

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Um ano atrás, Annabeth sofreu outro aborto

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Um ano atrás, Annabeth sofreu outro aborto. Uma menina desta vez, Isabela.

Foi diferente de quando perderam Bernardo. Ainda doeu como o inferno, mas eles de alguma forma sabiam que tinham um ao outro para chorar, desabafar sobre seus sentimentos mais sombrios.

"E se isso for um sinal de que seremos pais ruins?"

"E se eu tiver algo errado comigo?"

"E se eu nunca conseguir ser pai?"

"E se você me deixar por meu corpo não conseguir manter nossos filhos vivos?"

"E se isso for uma maldição por eu ter concordado pelas razões erradas?"

Palavras que antes seriam enterradas nas profundezas de suas mentes, eram ditas no mais tardar da noite antes do crepúsculo, quando suas mentes estavam cansadas demais para filtrar as frases. Eles deitavam na cama de frente um para o outro e olhavam dentro dos olhos do outro, sentindo o amor entre eles; a única coisa que nunca mudaria, que nunca iria embora e seria a sua sustentação. O amor deles era o que os mantinha unidos e, acima de tudo, não desistindo.

Percy era o farol que guiava Annabeth para casa na mais escura das noites e tinha medo que um dia ele não a amasse mais, que sua luz se apagasse e ela que tivesse que guiar-lo de volta, mas não sabia se tinha força para isso; força para não se deixar afundar no mar de sentimentos que a engoliam algumas vezes e a impediam de enxergar a realidade, que a impediam de respirar.

Algumas vezes, quando estava trabalhando Annabeth tinha que largar tudo que fazia e se esconder embaixo da mesa, com a cabeça entre os joelhos e as pálpebras apertadas e sua concentração toda em respirar. Parecia impossível, exaustivo, como se não valesse a pena, apenas um gasto de energia inútil, então ela se lembrava de como Percy a abraçava todos os dias, segurando-a apertado a si, tratando-a como seu mundo e então ela se acalmava, sabendo que por Percy, ela conseguiria.

Então, enquanto a perda de Bernardo os tinha separado a um ponto quase irreversível, a perda de Isabela os tinha colados juntos, se apoiando um no outro para que conseguissem, cambaleando, seguir em frente.

Mas não durou muito quando um ano e meio se passou e eles não conseguiram engravidar. Percy queria fazer uma checagem com um médico, mas Annabeth estava com medo de ter algo errado com seu consigo, algo que antes passou despercebido por outros médicos, mais que isso, ela estava com medo de não ter nada de errado. Sem nada físico para culpar, qual seria a desculpa para seu corpo assassinar seus filhos?

Dentro de si mesma, ela sabia que esses pensamentos não eram saudáveis, mas não conseguia evitar ter-los. Não quando colegas de trabalho e amigos da família insistiam em perguntar quando, finalmente, eles teriam um filho. Afinal, era só isso que faltava. Já tinham uma casa, empregos estáveis, tinham casado a anos, viajado para inúmeros lugares; só faltava um filho para eles serem uma família, era o que diziam.

Mas eles já eram uma família, não é? Ela amava Percy, amava a casa em que estavam, sua rotina. Amava a família de seu marido, que se tornara sua no dia que disse sim, amava seus amigos que se reuniam todo primeiro domingo do mês apenas para conversar e se manterem presentes na vida um do outro. Eles eram uma família, não eram?

Porque, afinal, o que é uma família senão pessoas que amam, respeitam e se esforçam para estar na vida de umas das outras? Laços de sangue não significavam nada no fim do dia, o que importava era quem a ajudava a se levantar quando caía.

Eles eram uma família e a falta ou a presença de uma criança não mudaria isso, percebeu. Porque, mais importante que o amor, antes de tudo eles se esforçaram para segurar as pontas quando o parceiro estava impossibilitado, se respeitaram e se apoiaram mesmo quando todas as probabilidades diziam que eles iriam seguir caminhos diferentes.

A perda de Isabela ressaltou isso. Independente de quanto doía perder uma filha, eles tinham um ao outro incondicionalmente, e era isso que o significado de família para Annabeth.

Então, quando o médico disse para ela que tinha endometriose, ela chorou e mal prestou atenção em toda a explicação dele sobre o distúrbio, sobre o tratamento. Annabeth sabia o que era. Algo sobre ter uma possibilidade quase totalmente retirada de sua vida a aliviava; a certeza do não poder, não querer continuar insistindo em algo falho, em saber quais eram suas opções e quais não eram e não somente isso, mas saber que a culpa era de algo físico e não uma punição divina ou do destino, mesmo que o casal não fosse religioso. Um peso foi retirado de seu coração, um peso que Annabeth Jackson nem sabia que estava lá.

Ela apenas encostou a cabeça no ombro de seu marido e chorou, mas não apenas porque doía e sim também por um sentimento, um conceito que a muito tempo ela não experimentava.

Liberdade.

✓ HAVE YOU EVER SEEN THE RAIN?, PERCY JACKSONحيث تعيش القصص. اكتشف الآن