ANTES

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Tratamento não era mais uma opção e enquanto Annabeth parecia estar bem com isso, Percy estava frustrado

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Tratamento não era mais uma opção e enquanto Annabeth parecia estar bem com isso, Percy estava frustrado.

Ele sabia que a escolha tinha que ser dela, mas não podia se impedir de se sentir injustiçado por sua esposa. Quando ela quis tentar engravidar ele aceitou, mesmo não querendo, para fazê-la feliz e agora que queria um filho, que ansiava por um como um passe de mágica ela decidiu que uma família de dois era suficiente.

E onde ficava o que ele queria?

E se para ele não fosse o suficiente?

Ele não sabia como falar isso para sua esposa depois de tudo que eles passaram, mas ele precisava, sempre que ficavam sozinhos sua garganta fechava e ele mal conseguia controlar as palavras para não vazarem. Percy respirava fundo e tentava se acalmar, se não sairiam coisas que ele não queria dizer, Sally dizia que tudo que era falado no impulso era cegado pela urgência; a melhor forma de expor seus sentimentos era estar calmo e relaxado, por mais controverso que soasse.

Era um sentimento esquisito, não sabia explicar com detalhes porquê ao mesmo tempo em que Annabeth é tudo pra si, em seu coração ele sabia que algo não estava certo, que algo faltava. Um algo que não existia quando eles estavam no processo de ter filhos. Tinha medo de confessar para ela esses sentimentos e sua esposa achar que não o fazia feliz. E Deus, como ela o fazia feliz.

Só que o desejo, que voltou com tudo na gravidez da Isabela, não tinha amenizado com o passar dos meses. E ao mesmo tempo em que sentia-se afogando em um desespero latente, como se nunca fosse ser feliz alguma vez em sua vida, Percy sentia o alívio que só existia na certeza do querer. Só restava-lhe criar a coragem para contar a verdade que quebraria o coração de Annabeth.

Durante os anos de casado, Percy aprendeu que relacionamentos duravam com três pilares essenciais: amor, respeito e saber ceder. Conviver diariamente com uma pessoa era difícil, não importa o quanto de amor seu coração pulsava existiriam conflitos e divergências, e nesses momentos ele sempre balanceava o que valia mais a pena; sempre um deles dois cedia em prol do relacionamento, buscando sempre estarem no mesmo caminho construindo o futuro lado a lado, juntos como uma unidade.

Mas dessa vez não sabia se ela cederia. Percy só sabia que ele não conseguiria ceder e tinha medo das consequências. Medo de não saber quem ele era sem Annabeth, medo da mudança de acabar sozinho sem o amor de sua vida, só de tentar pintar como seria faltava o ar de seus pulmões e um terror paralisante tomava seu corpo; embora por mais que doesse tudo passava porquê ainda a tinha. Percy ainda amava Annabeth e ele sabia que Annabeth o amava.

Se um pilar ruísse, ainda tinha dois para aguentar a reconstrução. Tinha que ter-los, Percy não podia perder Annabeth, não depois de tudo que sobreviveram, toda a destruição que presenciaram. Depois de tanto tempo em luto e sofrendo.

Por essas mesmas razões, ele também não poderia mais esconder.

- Eu sei que eu concordei em parar. Eu sei que não é justo com você. Eu sei que... Que eu provavelmente 'tô terminando de destruir o que sobrou de inteiro na gente. Eu sei o que eu 'tô dizendo. Eu sei.

- O que você tá dizendo? - Annabeth perguntou, sussurrando.

- Eu ainda quero ter um filho. Mais que tudo.

Annabeth não falou com ele por duas semanas.

Duas semanas sem lhe dirigir uma porra de palavra. Quatorze dias evitando seu olhar. Trezentos e trinta e seis horas fugindo de sua presença, virando-se de costas para ele na cama à noite; estranhamente, isso doía mais do que se ela tivesse saído de casa ou dormisse em outro quarto. Percy estava esperando que ela o largasse, brigasse, o chamasse de tolo por ter jogado o relacionamento deles fora, ele não esperava a resignação silenciosa. Duas semanas exilado de seu lar.

E Deus, como se arrependeu de ter aberto a boca e confessado algo que sabia que afetaria sua confortabilidade.

O exílio não durou muito, logo sua paciência acabou embora ele soubesse que essa não era a principal razão. Percy merecia respostas tão quanto Annabeth precisou de tempo para se curar e ele iria tomá-la. As vezes, quando olhava para situação completa, achava que seus quereres eram bobos, como ele poderia fazer isso depois de perder dois filhos? Seus sentimentos não valiam a pena continuar revivendo o que os dois passaram e continuar insistindo, alimentando esperança de algo que talvez nunca poderia ter. Talvez ele tivesse um desejo masoquista de sofrer, de não estar satisfeito com o que tinha. Ele não era feliz?

Ele pensou em ligar para sua mãe, mas já sabia o que ela iria dizer para conversar com Annabeth e dizer seus sentimentos, que nenhuma dúvida, que nenhum problema se resolveria no fundo de sua mente. Percy se lembrava de quando eles passavam a noite conversando, parecia décadas quando pensava o quão conectados estavam; atualmente eles não eram mais nem amigos.

Não tinha diálogo, não tinha conversas sussurradas no escuro debaixo do cobertor. Não tinha risadas altas ou gestos de carinho acidental; a única coisa que eles tinham como razão para ficarem juntos era o amor. O pilar que se mantinha firme e forte, sem nenhuma rachadura e ainda assim às vezes, no silêncio da solidão, amor não parecia ser o suficiente.

Ainda assim, quando a via tudo desaparecia e todos seus pensamentos desistentes se desvaneciam como fumaça no vento; seu coração ainda acelera quando ela o toca, sua respiração falha quando ela o beija e seu corpo ainda explode de felicidade quando se amam a noite. Percy sabia que nunca poderiam voltar ao que eram antes, mas talvez, se quisessem o suficiente, eles poderiam caminhar juntos para algo melhor. Só tinha medo de estar nisso sozinho, de que somente ele estivesse disposto a tentar.

Por isso ele chorou como a há muito tempo não fazia quando Annabeth disse para que ela não iria engravidar novamente, mas que eles poderiam adotar.

Mas não foi um choro triste, irmão dos últimos. As lágrimas escorrendo por sua bochecha eram de alívio.

✓ HAVE YOU EVER SEEN THE RAIN?, PERCY JACKSONWhere stories live. Discover now