ANTES

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A cabeça de Percy doía como o inferno

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A cabeça de Percy doía como o inferno.

Fazia um mês que ele e Annabeth não paravam de brigar um com o outro. Tudo começou naquele dia que Percy queria apagar de sua memória, mas que ela não deixava. Quando Annabeth chegou e descobriu que Charles estava a salvo, todo o nervosismo se transformou em raiva direcionada a ele, e o homem honestamente achava justo até, mas algo aconteceu quando Hannah apareceu e os acalmou.

Ela disse que crianças eram assim mesmo, que isso acontecia e que provavelmente não iria afetar em nada a luta pela guarda. Foi um alívio para ele, mas Annabeth só conseguiu escutar o provavelmente.

Provavelmente os pais de Charles nunca voltariam para exigir sua guarda. Provavelmente ela não sofreria dois abortos. Seu marido provavelmente não estragaria tudo e perderia seu filho no shopping, fazendo-o ligar para a assistente social. Annabeth não gostava de brincar com a sorte, sua experiência de vida lhe ensinou que se algo tivesse a mínima chance de dar errado, daria.

E ela simplesmente não conseguia mais ignorar isso. Não aguentava mais se obrigar a pensar positivo, sua negatividade estava dominando-a e ela não tinha mais energia para segurar e foi aí que as brigas começaram.

Eles discutiam pelas coisas mais bobas do mundo. Uma louça suja ali, algo que foi esquecido no supermercado, "Porque você não pode ser mais atento, Percy? Já perdeu nosso filho, quer perder mais o que?". Simplesmente saía e quando ela percebia, tinha sido cruel com o amor de sua vida. Ela poderia pedir desculpas, sabia que Percy não hesitaria em perdoá-la imediatamente, esse era o tipo de homem amoroso e gentil que era, mas ela não pediu desculpas nem uma vez. E ele também não pediu desculpas quando disse que se ela queria tanto assim cobrar responsabilidades, não deveria passar cada segundo do seu dia trabalhando; era um exagero, Annabeth estava sim com um projeto grande em suas mãos, mas ela nunca ficava mais que o necessário e não trabalhava as sextas justamente para ficar em casa com eles dois.

Mas mesmo que ambos soubessem e não gostassem das brigas, eles não conseguiam evitar. Percy e Annabeth eram duas bombas atômicas que só precisavam de um mínimo motivo para explodir.

Percy começou a odiar ir para casa. Ele amava Annabeth, amava Charlie amava ter uma família para quem voltar, mas o que antes era um local de acolhimento e amor virou uma guerra fria e tudo que ele queria fazer era chorar e criar uma máquina para voltar no tempo e desfazer tudo que fez de errado, estava no ponto de quebrar e não sabia como estava aguentando tanto tempo. Não sabia o que fazer e parar de agir daquele jeito, de brigar de volta e atacar de volta e ofender de volta, ele nunca foi assim porque estava agindo assim dessa vez?

Ele não sabia como mudar a situação.

Percy não bebia. Poderia ser contado nos dedos de uma mão todas as vezes que ele pôs álcool em sua boca. Deus, ele raramente tomava até energético, quem dirá algo mais forte, mas todas as veze que ele saía do trabalho, sabendo que quando chegasse em casa o que o receberia era uma Annabeth silenciosa, que fingiria estar tudo bem para Charles e assim que o menino fosse dormir uma discussão sobre um motivo idiota começaria ele tinha vontade de parar em um bar e tomar uma dose forte de qualquer coisa.

As pessoas diziam que a bebida amortecia os sentidos, ele queria isso. Queria, ao menos uma vez, não lembrar da noite infernal que teve na manhã seguinte, quando tinha que fingir que nada aconteceu para não deixar Charles assustado, embora ele já soubesse que algo estava errado, a tensão entre o casal estava tão densa que poderia ser cortado com uma faca.

Cada vez que eles lançavam palavras para machucar um ao outro, uma parte do amor deles se tornava dor e eles simplesmente não conseguiam parar.

Todas as noites quando ele se deitava ao seu lado, virava as costas para ela, assim poderia tentar fingir que estava sozinho na cama e não ao lado do amor de sua vida que chorava baixinho achando que ele tinha dormido. Ele nunca dormia antes dela e ela sempre chorava a noite.

Algumas vezes ele conseguia sentir seu choro balançando o colchão e tudo que ele queria era se virar e abraçá-la, confortar e empurrar toda a dor para longe. Ele queria pedir desculpas e fazer tudo voltar ao normal, mas em vez disso ele ficava lá, deitado ao seu lado, se torturando com seu choro. Uma vez ele mesmo não aguentou e começou a chorar quando escutou, finalmente, sua respiração profunda de sono.

Sentia que seu relacionamento estava se esvaindo a cada dia. Seu amor, o seu futuro vazando entre seus dedos e ele não sabia o que fazer.

Ele não sabia o que fazer.

Ele não sabia o que fazer.

Mas ele tinha que fazer algo se não o casamento deles seria destruído.

Com sua última gota de coragem, em uma madrugada de quinta-feira em que Annabeth chorava silenciosamente, ele se virou na cama e a abraçou, ignorando o arfar assustado dela.

- Não importa o que aconteça, eu vou te amar do mesmo jeito.

Sua mãe sempre lhe dizia para ter cuidado com o amor, que ele distorce suas ideias e faz você pensar que em cima é embaixo e que o

certo é errado. Mas como algo que o fazia tão feliz poderia ser errado?

Ele a abraçou forte a noite inteira.

Na noite seguinte eles brigaram novamente. E ele não a abraçou.

✓ HAVE YOU EVER SEEN THE RAIN?, PERCY JACKSONOnde histórias criam vida. Descubra agora