AGORA

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- Ela 'tá bem, filho

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- Ela 'tá bem, filho. - Sally repetia uma e outra vez enquanto esfregava as costas de Percy.

Colocaram ele em uma maca própria na emergência e chamaram Sally e Paul, informando tudo o que ocorreu. Como já fazia algumas semanas que estavam ali, o staff já conhecia a família, enquanto Paul ficou fazendo companhia para Annabeth, Sally não tinha saído de seu lado, seus instintos dizendo que seu filho precisava dela.

Annabeth tinha tido um ataque cardíaco, que rapidamente foi revertido e atualmente ela estava estável - o que para eles não significava muito desde que antes ela também estava estável -, mas o estrago em Percy estava feito e ele tinha quebrado naquele corredor. Ficou apagado por mais de duas horas quando finalmente acordou, só queria voltar para Annabeth e pedir mil desculpas pela noite do acidente.

Ele não conseguia parar de se culpar pelo acidente, por perder Charles, por tudo de ruim nos últimos anos e ela nem estava consciente para saber que ele estava sim se desculpando e que ainda a amava, que nunca deixou de amá-la, obviamente. Ele só não queria continuar daquele jeito que estava, ela precisava de mudanças. Não poderiam continuar daquele jeito e fingir que estava tudo bem, queria vê-la feliz apesar de tudo que aconteceu, talvez vê-la feliz pela primeira vez na vida, desde que obviamente tudo que Percy trouxe para sua vida foi dor e desgraça.

Seu destino - pensou, sarcástico - Nunca deveria ter nos unido.

Ele estragou sua vida com essa maldição que estava o perseguindo. Percy não foi feito para ser feliz, e ele definitivamente tinha tentado.

Percy seguiu toda a cartilha, ele foi um bom aluno, um bom filho que defendia sua mãe do pai agressor, com dezesseis anos trabalhava fazendo bicos para ajudar nas contas, não hesitou em ser gentil com Paul quando sua mãe os apresentou. Ele era educado e realmente tentava se importar com as pessoas, ele até entendeu e explicou sobre a bissexualidade com a maior delicadeza do mundo quando contou a seus pais com vinte anos. Entrou em uma das melhores faculdades do país e se formou com honras, um emprego e uma namorada; eles foram morar juntos, noivaram e se casaram, tudo como deveria ser, no tempo que deveria ser. Engravidaram e embora eles não tivessem planejado, Bernardo não foi nada mais que querido e amado. Então eles perderam Bernardo. E se perderam, e se acharam. E perderam Isabela e estava tudo bem porque dessa vez eles estavam em um lugar bom e apesar da dor excruciante, conseguiram passar pelo pior do luto. Então eles desistiram e então tiveram uma nova oportunidade.

E foi maravilhoso. Foi como se ele finalmente tivesse completo, tudo que mais amava e queria em seus braços, na distância de sua mão, mas que, por culpa de Percy, foi-lhes afastado e isso foi como arrancar um pedaço de sua alma. E novamente, por culpa dele, ele perdeu a única coisa que tinha que estava a seu lado durante todo o pico de dor.

Ser agredido por seu pai biológico não foi nada comparado a perder Bernardo, Isabela e Charles. A dor e o trauma não chegavam nem perto.

E se Charles achasse que ele e Annabeth não o queriam? Que não o amavam?

Seu coração acelerou com o pensamento, ele não podia deixar isso acontecer. Mas o que ele faria?

Não. Sabia. O. Que. Fazer.

Isso estava o matando lentamente. Ele sentia o definhar de seu coração, de sua alma. Não sabia impedir.

Nesse ponto não tinha mais nada na cartilha. Não tinha ninguém para dizer a ele o que ele faria com seu filho com a assistência social e com sua esposa em coma em uma cama de hospital, ninguém sabia o que fazer com ele, imagina em sua situação? Sua mãe não entendia o motivo de ele dizer que era sua culpa porque ele não tinha contado a ninguém o que levou ao acidente. Percy não conseguia nem pensar que tinha pedido o divórcio para ela, não naquele momento, quando tudo já parecia destruído; não poderia destruir mais isso.

Ao que parecia, ter seus entes amados tirado de si colocava as coisas em perspectiva.

Ele realmente queria o divórcio? Casais passavam por momentos ruins, não é? Isso fortalecia o vínculo deles, não é?

Percy não sabia mais a resposta de nada. Não sabia o que fazer, não sabia o que sentia. Ele era uma criança de três anos que não sabia identificar seus sentimentos e o grito silencioso do desespero era tudo que ele sabia fazer.

Então, como sempre fazia quando precisava de conforto, Percy abraçou a mãe.

Durante duas horas.

Sally não era a mulher mais inteligente do mundo, ou a mais calma e paciente. Ela não sabia tudo, apenas amava seus filhos com tudo de si e tentava; então ela ficou ali durante aquele par de horas e o abraçou apertado, sussurrando como ele era querido e que o amava. Era a única coisa que podia fazer. Amar seu filho.

Quando ele perguntou a ela, com a voz mais frágil que já tinha visto: - Mãe, o que eu faço? Sobre Charles, Annabeth... O que eu faço?

Ela respondeu: - Lute por seu filho.

E ele lutou.

✓ HAVE YOU EVER SEEN THE RAIN?, PERCY JACKSONWhere stories live. Discover now