Capítulo 2

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Christopher: Eu...hum - me viro para olhá-lo, um senhor alto, de terno alinhado, sapatos brilhantes e cabelos bem penteados me encarava, suas feições eram finas e o corpo esguio. - sou um dos trabalhadores, precisa de algo, senhor...

Nigel: Nigel, chefe dos empregados do navio - meu rosto perde a cor e as pernas bambeiam. - então, como se chama o jovem que conseguiu se enfiar no navio?

Christopher: Christopher - estou envergonhado e cabisbaixo. - vai me colocar pra fora?

Nigel: Só se te jogasse no mar, filho. E não pretendo fazer isso. Por que está aqui?

Christopher: Precisava ir para o mais longe possível.

Nigel: Está fugindo da polícia?

Christopher: Não, senhor.

Nigel: Vai me roubar?

Christopher: Não, senhor.

Nigel: Venha comigo.

Sigo Nigel pelos corredores, toda aquela estrutura me deixa tonto. Chegamos a uma mini cabine alguns andares abaixo, e contrariando minhas teorias sobre me prender no subsolo, Nigel me manda entrar e me surpreende:

Nigel: Ali tem um banheiro, uma cama e um uniforme. Te espero ali fora em meia hora.

Christopher: Mas...

Nigel: Se apresse ou vai perder o café da manhã.

Sua promessa de comida faz com que eu concorde imediatamente. A ducha quente me recebe de maneira acolhedora, é bom tomar banho e vestir roupas limpas. Nigel me leva a um refeitório e sou servido: pãezinhos quentes, ovos mexidos, queijo, bolo, café, suco de laranja e salada de frutas... é como estar no céu. Depois de estar limpo e alimentado, Nigel me recebe em seu escritório:

Nigel: Tenho uma proposta para te fazer, Christopher.

Christopher: Que tipo de acordo?

Nigel: Vai haver um luau no cruzeiro hoje a noite, precisamos de mão de obra para o evento. Se trabalhar hoje, pago o valor integral e não te denuncio para a segurança do navio e te deixo no próximo porto.

Christopher: Só isso?

Nigel: Sim.

Christopher: Eu topo, o que preciso fazer?

Quando anoitece, o luau está pronto e os passageiros se divertem na festa. Nigel me dá meu pagamento como prometido e me pede para cuidar do bar quase no fim do evento, já que o barista passou mal. Não há quase ninguém no convés então não vejo problemas.

Um homem se senta no bar, são quase quatro da manhã:

Homem: Gin e tônica, por favor.

Christopher: Aqui está senhor.

Quando nossos olhares se encontram, fico chocado: esse cara é uma versão engomada, sem barba e provavelmente rica de mim, mas somos iguaizinhos! Ele parece tão surpreso quanto eu.

Ucker: Cassete, acho que já bebi demais! Estou até...

Christopher: Vendo um cara igual a você?

Ucker: Como sabe?

Christopher: Porque não bebi uma gota e estou vendo também.

Ucker: Quem é você?

Christopher: Sou Christopher.

Ucker: Espere... está me dizendo que seu nome é Christopher?

Christopher: Sim.

Ucker: Esse também é meu nome. Você se parece comigo, como se fôssemos gêmeos!

Christopher: Mas não somos. Bem, aliás parece que você está bem melhor que eu.

Ucker: Bem melhor? - ele tira seu paletó e o joga sobre o bar - porque acha isso?

Christopher: Bem, pra começar você está do outro lado do bar.

Ucker: E acha que isso me faz melhor? Vou te contar uma coisa, senhor versão barman de mim - diz ele, está completamente entorpecido pelo álcool - aposto que a sua vida de barman num cruzeiro é bem melhor que a minha.

Christopher: Melhor que a sua?

Ucker: Nem ao menos tenho vida, cara! Nunca pude tomar uma decisão por conta própria, sempre fui um objeto na mão do meu pai. Nesse momento, por exemplo, estou num cruzeiro apenas porque detesto voar, mas pensa que estou me divertindo? Naaaaaaaaaaao. Sabe porque? Estou nessa viagem rumo a uma droga de casamento arranjado com uma mulher que nem conheço, e com qual objetivo? Apenas juntar uma pilha de dinheiro com outra pilha de dinheiro. Minha vida é uma droga!

Christopher: Nossa eu...

Ucker: Eu nem gosto de me chamar Christopher! Sem ofensas - ele me encara.

Christopher: Não me ofendi.

Ucker: Ah, vou até ali tomar um ar.

Christopher: Espere, senhor... Christopher! Não acho que deva se aproximar tanto da borda, você bebeu muito e ...

Ucker: Ah, não enche cara! Estou ótimo, olhe vou provar, posso até me debruçar assim e...

Antes que consiga impedir, o outro Christopher cai na água. Ai meu Deus, e agora, o que devo fazer? Me debruço no convés, não há sinal dele em parte alguma. E se Nigel pensar que foi minha culpa? Nem posso estar no navio, devo desembarcar em algumas poucas horas no próximo porto como prometi.

O que faço agora? Bem, eu devo descer nesse porto, procurar um emprego aqui em Portugal e me estabelecer. Ou posso ir até o porto final, na Espanha, escondido na cabine do outro Christopher. Lá pelo menos falam meu idioma. Pego o paletó e vou até a ala dos gabinetes mais luxuosos do navio, alguns passageiros desembarcam para o passeio.

Pego a chave eletrônica e abro a porta, a cabine é enorme! Observo cada detalhe com atenção, sei que viagens de cruzeiro já são previamente pagas com antecedência, então ligo para o serviço da cozinha e peço um reforçado café da manhã. Olho em sua carteira: Christopher Alexander Von Uckermann. Ele disse que era milionário, então deve ter algo sobre sua família na internet. Felizmente o celular e notebook de Uckermann estão no quarto, então decido que é hora de fazer uma pesquisa.

Caramba, ele é mesmo parecido comigo! Leio as matérias, aparentemente Uckermann é argentino, e sua família acumula uma fortuna de milhões de dólares. Uma ideia louca passa pela minha cabeça. Não Christopher, é loucura! Bem, talvez não seja...temos uma semana até chegar a Espanha e não preciso nem sair do gabinete...Uckermann se jogou no mar deixando todos os seus documentos no paletó...e se...? Não, é insano demais... ou seria perfeito demais? Eu pedi uma chance de recomeçar a vida e recebi, e Uckermann se foi. O que tenho a perder?

Ponho meu plano louco em prática, dedicando cada minuto da semana seguinte a estudar a vida de Christopher Uckermann, lendo suas conversas no celular, vasculhando notícias e tentando aprender sobre esse homem com quem me pareço.

Também preciso parecer mais como um milionário e menos com um pobre trabalhador, então vou ao salão do navio e faço um dia de tratamento de beleza completo. Olhando no espelho, ainda me vejo, mas ele também está lá. Espero que essa loucura funcione.

O navio para em seu destino final, cá estou eu em Madrid. Não há muito o que pegar na cabine, coloco tudo na mala e desembarco. Olho em volta, preciso encontrar o motorista com o nome dele, ou melhor, meu nome. Agora sou Christopher Uckermann. Um homem de meia idade de uniforme sorri ao me ver chegando:

Motorista: Seja bem-vindo senhor Uckermann, espero ter feito uma boa viagem.

Christopher: Obrigado. - ele pega minha mala, depois abre a porta para mim e partimos rumo ao meu novo endereço, a mansão da noiva que ainda não conheço.

Ser o ParecerWhere stories live. Discover now