25

701 59 9
                                    

25. Vinte e cinco anos. Era estranho imaginar quão rápido o tempo havia passado. Ainda não sei dizer se me sinto jovem ou velha. Bem, falta só mais vinte e cinco para cinquenta.


50. Aí está um número que me assusta, bem mais que o vinte e cinco. Não me sinto com vinte e cinco anos, bem, não estou como meu eu de dez anos imaginava que eu estaria aos vinte e cinco, por isso ainda estou incrédula.


Meu eu de dez anos de idade, imaginaria que aos vinte e cinco eu teria uma grande casa, ela seria lilás, teria dois andares e portas brancas. Estaria casada com meu colega de classe, Simon, que também teria vinte e cinco anos e estaria tão bonito quanto os homens dos comerciais. Teríamos um filho e eu estaria grávida do segundo, eu não teria um trabalho pois cuidaria da casa, e ainda assim manteria uma aparência impecável. Bem... Eu nunca troquei mais de duas palavras com Simon, eu o vi alguns anos atrás e ele estava casado, não se parecia nada com os homens dos comerciais, ele é balconista e mora em um apartamento pequeno com sua esposa, tal que engravidou durante o ensino médio. Fiquei feliz por não ter casado com Simon.


Vinte e cinco anos, por muito tempo achei que era do signo de capricórnio, 21 de janeiro, o que me frustrava ao não me identificar com os horóscopos, depois descobri ser de aquário, esperei que isso fizesse sentido de alguma forma. Meu ex namorado era de virgem, e pelo o que dizia, o único signo capaz de dominar aquário. Ele não acreditava em signos, mas seu ego inflou quando li tal fato em um de meus livros. Meu pai também era de virgem, talvez Freud tenha alguma explicação.


Vinte e cinco. Estou perdida como nunca, as cartas não me dizem muito, mas posso jurar que este é o caminho certo.


- Me desculpe o atraso. - Disse o advogado de minha falecida avó. Um homem de estatura mediana com grandes óculos de grau, que escorregava por seu nariz aquilino. Me esforcei para entender seu norueguês ao que ele falava rápido, explicando o motivo pelo qual havia se atrasado. Percebendo minha confusão, ele abanou as mãos pedindo para que ignorasse seu falatório. - Você é inglesa, não é? Me desculpe, vou tentar falar mais devagar para que me entenda.


Agradeço e saio de perto do velho fusca vermelho, empréstimo de uma velha amiga, trazendo comigo a caixa onde levava Agatha.


- Sinto muito pela sua avó. - Respondo com um meio sorriso. Não soube o que sentir quando soube de sua morte. Não consegui chorar, foi apenas um sentimento vazio, me senti uma pessoa horrível por isso. Não sei dizer se eu lidava bem com a morte, ou se simplesmente não me importava. Ela era uma boa mulher, eu e meu pai sempre viajamos para visita-la durante o natal e ficávamos até o ano novo. Era uma casa não muito grande. Branca, seu maior charme era a varanda, onde ela nos servia chá e doces típicos noruegueses, cujos nomes me faltavam a memória. Havia um único quarto, já que o outro havia sido destruído para que a sala de estar ficasse ainda maior, havia dois banheiros e para mim estava perfeito. Não é como se eu pudesse exigir tanto, já que se não fosse meu odiado sobrenome, não teria direito a aquela casa.


Lembro que sempre imaginei um jardim no quintal daquela casa. Fiquei animada ao imaginar aquele lugar florido, mas agora só se via branco, assim como o bosque que rodeava a casa. Agatha adoraria poder dar seus passeios diurnos por entre aquelas árvores.


O fato de estar praticamente sozinha, em um lugar onde não me conheciam, me dava uma certa esperança. Haviam casas ao redor, porém a mais próxima ficava há uns 500 metros de distância, que imaginei estar abandonada, pelo mato que estava tão alto que nem a neve o cobria.


O homem me entregou a chave da casa e respirei fundo, aliviada por estar sozinha, mas frustrada por ter tido a ideia de me mudar no início do inverno.


Voltei para o carro com Agatha, estava passando uns dia no apartamento de Lena, minha única amiga pela qual mantive contato das vezes que vim para a Noruega. O fato dela já me conhecer há alguns anos me preocupava, não queria que ela falasse mais do que devia... Mas ela me prometeu manter segredo, lhe expliquei bem minha situação pelas cartas que a mandei, e com seu coração bondoso me ofereceu abrigo até que a documentação da herança da casa de minha avó ficasse pronta. Mesmo pelas cartas, apesar da novidade para Lena, pareceu se acostumar bastante rápido com meu novo nome e me chamava por Jade, mesmo quando estávamos sozinhas. Não me importei em escolher um nome norueguês, meu sotaque inglês se mantinha forte, as pessoas percebiam no momento em que decidia abrir a boca.

Black Magic Woman (Pelle Ohlin)Where stories live. Discover now