Chaos

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Deveria saber que Lena estava mentindo. Não apenas uma, mas duas mentiras. A primeira era que não deixaria Jade sozinha, a segunda era que não teria muita gente. As pessoas pareciam não se importar pelo fato de fazer um frio congelante do lado de fora. Barris velhos de metal, queimavam não só lenha, mas todo tipo de coisa que jogavam ali, o que os esquentava ao que ouviam sua música pesada.


Caos.


Jade respira fundo passando pelo meio daqueles homens cabeludos, com cara de quem não tomavam banho a dias. Não era nojo, era repulsa. A sensação de estar rodeada por aquelas criaturas primitivas. Aquilo lhe trazia lembranças das festas que ia na adolescência, mas Jade não era mais a garota de quinze anos que sentia satisfação no desejo que faiscava os olhos dos garotos de sua idade.


Se sentiu novamente aos quinze anos, não era a garota desejada, apenas a observava. Com a saia curta, permitindo que algum garoto que havia a dito o quanto era linda e especial, a acariciasse por cima da calcinha de renda preta que roubou de uma loja perto de sua escola. Aquela não era mais Jade. Mas aquela Jade ainda recebia olhares, mesmo com suas vestes longas, ainda viam um motivo para encarar seus mamilos marcados no tecido, ou o tímido decote em V.


Homens são deploráveis. Porém sua produtividade e ignorância serviam para algo. Jade sempre admirou a forte energia sexual da figura masculina, não era uma energia flirtuosa ou atrativa, mas bruta. Eles são como animais no cio, e toda aquela energia pura era ótima para a magia.


Mulheres são difíceis de se satisfazer, durante o ato sua mente pode estar em lugares inimagináveis, se esforçando a sentir prazer, até mesmo quando se é outra mulher. Nisso os homens serviam para algo, eles são fáceis, é como caçar um animal enjaulado, a energia que emanavam durante o ato era tão pura. Eles são tolos, tolos por achar podiam usá-la, toca-la e descarta-la sem consequência alguma.


Há uma ingenuidade nas mulheres, que Jade só se deu conta quando olhava para trás, para a garota que foi no passado. Tola. Tola como todas que não faziam ideia do incrível poder que tem. A magia era isto, usar seu corpo, sua alma e sua vontade para conseguir o que quer.


A neve descongelava a seus pés com o calor humano e as fogueiras, a churrasqueira e sua carne queimada. Uma lama se formava ao chão mas ninguém parecia se importar em sujar suas botas.


Jade se sentia velha, velha demais para festas.


"Para este tipo de festa."


Não é como se fosse tão velha quanto os que se divertiam, gritavam, brigavam e bebiam ali, havia desde adolescente beirando os quinze anos até pessoas que pareciam ter mais de trinta, a morena por outro lado, tinha o privilégio da juventude a seu favor, já que muitas pessoas não acreditavam que ela tivesse mais de vinte anos. Lena era dois anos mais nova, ela só não era tão chata quanto Jade, que só queria um café no fim da tarde e o sossego de estar só, apenas com a companhia de Agatha.


Pobre Agatha, será que havia deixado ração o suficiente em seu pote? E a água? Agatha só gosta de sua água fresca.


Jade voltou para dentro da casa, depois de já ter se estressado demais com um garoto que tentou agarra-la do lado de fora, do qual foi empurrado pela morena com tanta força que caiu sobre um dos barris, o derrubando ao chão, o que serviu de riso para seus amigos. De primeira vista não havia encontrado Lena, também não se esforçou a procura-la.


Saiu pela porta da cozinha, mais uma vez passando por entre as pessoas e entrando no bosque.


A lua estava no segundo dia minguante, o que ainda era suficiente para iluminar a noite. A camada fina de neve ao chão refletia sua luz branca, deixando os caminhos ainda mais claros.

Black Magic Woman (Pelle Ohlin)Where stories live. Discover now