A ghost in the woods

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-Ei, seu fodido! - Øystein invade o cômodo sem pedir licença, escondendo seu nariz dentro de sua jaqueta, evitando aspirar o ar de putrefação. - Metalion trouxe a câmera, vamos tirar algumas fotos.

Pelle estava deitado de bruços no chão, as pernas esticadas e o queixo apoiado sobre as mãos. Encarava fixamente o corvo que achou a dois dias atrás. O animal estava morrendo, provavelmente havia batido em alguma árvore. Pelle o trouxe ainda vivo, mas o que aconteceu depois somente o loiro sabia.

O moreno se aproxima, olhando para o animal com nojo, as penas negras já estavam se desprendendo da carne, que adquiriu um tom cinzento-esverdeado e bolorento.
- Pelle anda logo! - Chutou de leve o quadril do loiro, que sequer se moveu.

- Ele apodreceu rápido para o frio. - Comentou baixo, ignorando o que o moreno havia falado. - Com o aquecedor quebrado, o cheiro vai durar mais.

- Que se foda. - Øystein deu de ombros. - Se vista logo, entendeu? As pessoas estão chegando. Temos que tirar as fotos. - Aarseth bufou ao que não teve nenhuma resposta do loiro. Odiava quando Pelle parecia se desligar do mundo real, mas infelizmente não podia chutar a bunda dele de volta para a Suécia, pois duvidava achar outro doente mental com a mesma voz. - Esteja lá em baixo em quinze minutos!

O guitarrista bateu a porta com força, saindo do quarto, podendo finalmente respirar ar puro.

Pelle olhou de relance para a porta. Não sabia a quanto tempo estava ali apenas encarando aquele corvo. Queria poder ver o processo de putrefação com seus próprios olhos, mas era lento demais para que pudesse assimilar.

Levantou seu tronco e se sentou no chão, as pernas cruzadas estilo borboleta. Fechou os olhos e massageou as têmporas. Sua visão estava turva. Ouviu o barulho alto que seu estômago fez e pôs a mão sobre sua barriga.

A dor da fome.

Dois dias inteiros e oito horas.

Cinquenta e seis horas.

Durante esse tempo não precisou de sua faca ou das navalhas. A dor do ácido puro em seu estômago o fazia se sentir... não vivo... mas o fazia sentir algo.

Queria saber qual era seu limite, até onde seu corpo aguentaria.

Levantou sentindo seu corpo fraquejar e cambaleou para o lado ao que sua visão escureceu. Piscou os olhos algumas vezes, apoiando -se em sua escrivaninha. Vestiu a jaqueta jeans e calçou seu tênis velho, que já não era mais branco, e sim um cinza escuro. Saiu do quarto vendo o corredor girar. Apoiou-se nas paredes até o banheiro.

Ao encarar sua imagem no espelho, sorriu satisfeito. As olheiras escuras ao redor de seus olhos azuis, olhos tão pálidos quanto a neve fina do lado de fora, os cabelos desgrenhados e a pele pálida como papel, seus lábios estavam secos, azulados, rachados. Com o dedo indicador puxou sua pálpebra inferior para baixo, observando sua ausência de sangue.

" Assim como deve ser..." pensou.

Se continuasse assim nem precisaria mais se pintar para os shows. Seria um cadáver ambulante, estaria finalmente morto.

Saiu do banheiro sem se preocupar em fazer o corpse paint. Aarseth iria dar um de seus chiliques, mas ele não se importava.

Tinha muitas pessoas na casa e seu reflexo não estava dos melhores, sentia que poderia desmaiar a qualquer momento.

- Aí está! - Disse Øystein ao que Pelle desceu as escadas. - Cadê a porra do seu corpse paint?

O moreno o seguia tentando puxa-lo pelo ombro, mas Per apenas empurrou sua mão e continuou andando em direção a cozinha. Com o andar arrastado, como um zumbi. As pessoas que esbarrava o ignoravam.

Black Magic Woman (Pelle Ohlin)Where stories live. Discover now