The String Is Always Ready

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Aviso importante: Este capítulo trata de temas como depressão e suicídio. Se você não se sente confortável com o assunto, por favor preserve sua saúde e não leia se for causar algum gatilho. Por enquanto é isso 🙏
Boa Leitura!


Birmingham, 1969.



Ser mãe é uma experiência mágica. A maternidade é divina. O corpo feminino e os milagres da criação da vida, nove ciclos completos, o sangue sacro como alimento. Não há ligação mais forte que a de uma mãe com sua prole, exceto quando, há dolorosas exceções.




Katherine Virtanen, uma típica dona de casa de seus tempos, tinha sua rotina programada por seu relógio biológico, o desapego a seus pertences e sua própria vida, que a consumia de pouco a pouco, de dia a dia.




Pelas manhãs vazia o café, com seus chinelos folgados e cabelos desgrenhados, punha a mesa e tomava vinho às sete da manhã. Desejava um bom trabalho ao seu marido e observava da janela, sua única filha, Madison, esperar o ônibus da escola. Aqueles eram outros tempos, a vizinhança não era tão perigosa, os outros pais também esperavam o ônibus com seus filhos, não precisava estar no pé de Madison, a garota sabia se virar.




Katherine tomava mais calmantes do que comia, alguns anos atrás ficaria feliz por estar tão magra. Ela estava perdendo o controle.




- Eu já perdi. - Dizia para si mesma enquanto chorava no banho, puxando os fios de seu cabelo loiro e arranhando suas coxas brancas até que ficassem vermelhas. Depois recorria as pílulas e dormia.




Quando o vinho acabava se sentia mais acordada. Se masturbava na sala de estar, imaginando um amante que só existia em seus pensamentos. Em uma vida inexistente, onde se sentiria completa, uma vida que parecia cada vez mais distante.




"Ela não nasceu para ser mãe."




Era o que dizia sobre sua própria mãe, e era o que pensava de si mesma.




Quando contou estar grávida foi expulsa de casa, se casou com o homem indesejado, teve uma prole indesejada. Jurou para si mesma que jamais sentiria a dor do parto outra vez. Ao ver a criança suja de sangue e placenta nada sentiu, a segurou em seus braços, esperando a conexão entre mãe e filha que tanto ouvia falar, ali ela descobriu, que era igual a sua mãe. Katherine nunca chegou a amamentar, preferia o trabalho de tirar e armazenar seu próprio leite, o que ainda achava inconveniente.




Jakob a irritava com as cobranças, para ser uma boa mãe, para ser uma boa dona de casa, para ser uma boa esposa, para se cuidar mais.




" Você não é mais a garota que eu conheci."




Ele dizia. Katherine não havia outra opção se não concordar, pois seu eu de seis anos atrás, já não se reconhecia. A garota sorridente, no segundo semestre de Literatura inglesa, uma romântica incurável que percebeu de amar cegamente só era romântico nos livros.




Eram onze da manhã mas o jantar já estava pronto e bem embalado na geladeira. Fazia apenas cinco graus na cidade, quando trajando uma camisola fina, Katherine arrastou seus pés descalços até o quintal. A camada fina de neve sobre a grama machucava seus pés. Seu peito doía, sentia como se carregasse uma tonelada em suas costas.




Os remédios não eram mais suficientes.

Desajeitada se apoiou no carvalho solitário do Jardim, e escalou até o galho mais grosso, que fosse alto o suficiente. Com seus dedos vermelhos, quase dormentes, amarrou a corda. O laço já havia sido feito dias atrás, estava apenas guardado, esperando o momento certo.

Os fiapos da corda de sisal arranhavam a pele de seu pescoço, deixando imediatamente vermelha com o contato.

Seus olhos escuros encaravam o céu, que por um momento jurou ver a luz do sol brilhar naquele inverno cinzento. Os pés balançavam livres no ar, quando jogou seu corpo para frente. Por milésimos flutuando no ar, até que a corda a impedisse de continuar. Sequer houve tempo para se debater ou lutar pelo ar, o solavanco foi forte o suficiente para que o som de seu osso hioide se quebrando fosse audível.


Então houve o silêncio.

Naquele mesmo dia o ônibus da escola parou novamente a frente a da casa simplória, do qual Madison desceu animada, ansiosa para sentar a frente da TV e assistir aos Flinstones.

Como de costume foi direto para seu quarto. A garotinha largou a mochila no chão quando algo chamou sua atenção. Em passos lentos se aproximou da janela, de repente todos os seus sentidos pareciam inexistentes. Ficou mais tempo do que devia naquela janela, sem reação alguma.

Madison saiu de seu quarto, ainda devagar, andando até a porta dos fundos, onde sentiu o vento frio daquele fim de tarde em seus braços desnudos. Encarou a mulher, a analisando detalhadamente; os cabelos loiros que voavam escondendo seu rosto, onde flocos de neve grudavam, entrando em seus lábios azuis entreabertos. Os olhos estavam fechados, suas últimas lágrimas congeladas, grudadas a pele, que agora tinha um tom de lilás.

- Está gelada.

As mãos pequenas tocam os pés frios de sua mãe, e empurra levemente, vendo o cadáver balançar na árvore. A criança empurra novamente, agora com mais força, vendo o corpo fazer a mesma coisa, só que se balançando com mais força.

Madison sabia exatamente o que estava acontecendo ali, apesar de que, não conseguia entender o motivo de alguém querer tirar sua própria vida. Parecia burrice. A garota passava o dia na frente da televisão, muitas vezes sem ser supervisionada. Sua mãe dormia por causa dos remédios e seu pai chegava tarde, então os filmes de adulto a educava de maneira errônea sobre a vida.

Já havia visto pessoas morrerem de todas as formas possíveis em filmes, enforcamento era uma delas, e sempre funcionava.

Não aguentando mais o frio, a garota entrou em casa. Escalando o armário da cozinha, chegou até a caixa de bombons que sua mãe havia escondido no alto. Com a caixa em mãos sentou -se no tapete na sala, ligando a TV, frustrando-se pois seu desenho já havia começado.

A noite havia caído e o carro de seu pai estacionou na calçada.

Jakob andava despreocupado, mas se assustou ao abrir a porta e ver que Madison ainda estava acordada, com os olhos vidrados na TV, onde agora transmitia O Vale das Bonecas, exatamente em uma cena de sexo com a personagem de Sharon Tate.

- O que está fazendo acordada?! Desligue logo esta TV, essas coisas não são para a sua idade. - Dizia Jakob ao puxar a garota pelo braço para que ficasse de pé, ele tinha a outra mão na cintura e parecia bravo pelo descuido de sua esposa. - Katherine!

Ele puxava Madison pela casa, a arrastando como uma boneca de pano.

- Ela não vai vir!

- Katherine!

- Não adianta chamar!

- Onde está sua mãe? - Jakob segura a garota pelos ombros, a fazendo olha-lo nos olhos.

- Ela está na árvore.

- Na árvore?

- Ela está pendurada. O vento balança ela.

Os olhos de Jakob se esbugalharam, o norueguês abandonou sua filha no meio do corredor e partiu desenfreado rumo ao quintal da casa.

Madison ouviu o grito de seu pai, e seguiu até a porta da cozinha. Onde o viu pela primeira vez chorar. O homem agarrava as pernas gélidas de sua esposa, como se pudesse tira-la dali de tal maneira. Ele segurava em suas mãos, buscando algum sinal de vida naquele corpo vazio.

- POR QUÊ? - Jakob se ajoelhou no chão gélido, olhando para a mulher, agarrou- se a seus pés e chorou como uma criança. - Por que você teve que me deixar? - repetia tais palavras como um mantra

Uma mão pequena tocou seu ombro, tentando acalma-lo. Madison o abraçou pelas costas, o que era possível já que seu pai estava de joelhos. Jakob segurou o braço a garota, o apertando com uma força exasperada.

- Por favor não olhe pra ela. - O homem pedia entre soluços. - Não olhe para a sua mãe agora.

- Está tudo bem. - Disse a garota calmamente, apenas agora sentindo lágrimas descerem por suas bochechas.

- Por que não me ligou, eu te ensinei a usar o telefone. Deveria ter ligado, eu disse onde estava o número! - Jakob falava segurando o rosto da criança entre suas mãos.


- Não iria fazer diferença. Posso ver TV?



N

/A:

Acho que vocês já conhecem a Madison, não é? Talvez por outro nome...

Afinal ela é louca ou a criação dela a deixou assim? A gente vai saber depois!

Me deixem saber o que estão achando, a opinião de vocês é muito importante.

Até a próxima! ( Vou voltar mais rápido do que vocês imaginam 😎)




Black Magic Woman (Pelle Ohlin)Onde histórias criam vida. Descubra agora