I'm With The Band - Part II

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"Volto em alguns minutos."



Foi o que Per disse antes de sumir por mais de uma hora, levando consigo a sacola de papel que carregava sua roupa de palco.



O loiro andou pela ruas de Sarpsborg até chegar a um parque, não é como se fosse difícil encontrar natureza na Noruega. Ele procurava alguma paz, tal paz que apenas as altas árvores, com sua imensidão verde carregava. Desviou da trilha por onde andava e andou poucos metros até encontrar o lugar ideal. Sentou -se ao chão, com a sacola a sua frente, cruzou as pernas em posição de borboleta e fechou os olhos. Per havia adquirido o costume de sentar por horas na floresta, apenas meditando. Sempre que sentia a brisa, ouvia os pássaros, tocava a terra na ponta dos dedos, o êxtase invadia seu corpo e durante aquelas horas, nada mais existia. Talvez aquilo era o que o mantinha são. Aspirando o ar fresco, sentiu seus ombros relaxarem, sua coluna ficando ereta, o peso saindo aos poucos de suas costas. Seu cenho franzido também some, assim como a tensão de seu corpo.



Esquilos subiam as árvores com as sementes e grãos em suas bochechas. Pássaros despejando minhocas no bico de seus filhotes e Pelle desejava fazer parte daquilo. Ele queria poder ser as árvores, poder ser um pássaro, ser a terra, estar na terra, afundar ao solo e sentir a paz eterna, sem as preocupações do mundo real. Como odiava o mundo real.



Ele não podia mentir, mas ainda tentava esconder, estava com medo, estava nervoso. Assim que a banda chegou ao local do show, que apesar de não ser um dos locais mais atraentes, era mais do que Per imaginava que seria. O fato do palco ter mais de um metro de altura já era muito, pois com os shows do Morbid, apenas havia conseguido se apresentar em salas de estar para jovens bêbados enquanto maioria bêbada também bebia do lado se fora. O dono do local havia dito que o limite era de 100 pessoas, e Per podia contar em sua mente que em todos os poucos shows do Morbid, os números não se excederiam a mais de dois dígitos. Então sentindo que iria surtar, preferiu sair para uma caminhada antes de tudo começar.



Per abre os olhos, o azul pálido encarando o azul celestial do céu. Havia acordado, infelizmente tinha de encarar o mundo real. Pelle suspirou ao se levantar e desfivelar seu cinto, abrindo o botão de sua calça jeans e a descendo por suas pernas finas sem cerimônias, logo após tirou sua jaqueta e sua camiseta, ficando apenas com uma boxer desbotada e as meias de cores diferentes, já que não havia tirado as outras da secadora. Os pelos de seu corpo eriçam ao que uma leve brisa passa por ele. Tirou seus trapos de dentro da sacola, que emanava um forte cheiro de solo, do qual aspirou fundo antes de colocar seu traje de palco. Fazia tudo como um ritual, era calmo e sem pressa, se sentia agora parte daquele solo, pertencia abaixo da terra, como um morto-vivo que fincava suas unhas e cavava até ver a luz do sol, deixando sua caixa de madeira para caminha por entre os vivos.



Dead guardou as roupas que veio antes de tomar o caminho de volta.



XX


- Você acha que está vivo? - Um garoto ruivo e sardento pergunta.



- Óbvio que não, não vê que está fedendo? - O outro, loiro com um boné de caminhoneiro, responde irritado. - Vamos cutucar ele.



Os dois garotos estavam agachados observando um corvo que parecia ter morrido a algumas horas, o animal tinha a cabeça amassada e seus miolos de espalhavam pelas folhas secas, grudando no chão. Provavelmente algum outro garoto encrenqueiro em uma brincadeira mórbida havia matado o animal.



- Aposto que foi Lukas e os amigos dele. Soube que outro dia pegaram o canário da senhora Korhonen e o devolveram sem uma das asas. - Disse a única garota do trio, tão ruiva e sardenta quanto seu irmão. Diferente dos dois garotos, se recusava a olhar o animal morto, se mantendo de pé, olhando para o lado oposto.

Black Magic Woman (Pelle Ohlin)Where stories live. Discover now