Stratosfear

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A primavera finalmente dava as caras, para a felicidade de quem já não aguentava mais o inverno de bater queixo norueguês.

Gotas do que já foi gelo deslizam calmamente pelas folhas verdes, até caírem no solo fértil. Os campos eram pintados de amarelo, rosa, verde e branco, onde as vacas voltavam a pastar. O clima se mantinha húmido, forçando os residentes continuarem com seus casacos de frio e aquecedores ligados, resquícios do inverno.

Øystein dirigia concentrado na estrada, já que era comum raposas e até animais maiores cruzarem as vias. Tangerine Dream tocava no toca fitas, Stratosfear o transportava para outro mundo.

Jade podia ver finalmente as cores das casas, em como agora pareciam mais vivas, em como os campos pareciam mais atraentes e a fazia ter vontade de sentir a terra em seus pés descalços. Seu braço apoiado na janela do carro, onde descansava seu queixo. Estava feliz, se sentia calma aquele dia. Sua vida estava finalmente indo pra frente, sua nova vida. A morena havia conseguido um emprego em uma livraria em Ski, só tinha que andar um pouco até a parada de ônibus que em quinze minutos chegava ao trabalho. Mesmo que Lena lhe dissesse que poderia ficar o tempo que quisesse, Jade ainda se sentia um incômodo, estava acostumada a ficar sozinha. Então esperou ansiosamente pelo início da primavera e se mudou assim que o sol começou a brilhar alto e a neve grossa acumulada cair violentamente do telhado na calçada.

Observando toda a cidade sem toda aquela neve. Suas malas, alguns outros pertences pessoais estavam no porta-malas, já Agatha dormia calmamente em sua caixa no banco de trás do carro.

- Você não é bem o tipo de pessoa que eu imaginaria escutar Tangerine Dream. - Diz a morena, colocando a cabeça para dentro do veículo, olhando para Aarseth, que tinha as mãos no volante. E pareceu ser acordado de um transe ao ouvir a voz da morena.

- Você está me encaixando em um estereótipo, é isso mesmo?

- E você não é? - Brinca Jade. - Eu deveria espalhar pra todo mundo que você traiu o Death Metal Norueguês.
Øystein ri sem mostrar os dentes.

- E é Black Metal Norueguês, ok? Se não estiver gostando é só falar... que eu aumento o volume.

- Acho que minha única opção é saltar do carro em movimento. - Jade faz que vai tirar seu cinto para abrir a porta, mas para e ri.

- Você quem tem mal gosto. Pelle também reclama da minha música.

- Coitado. Você trouxe o garoto da Suécia pra torturar ele aqui. - Øystein ri, agora mostrando seus dentes pequenos. - Obrigada.

- Por torturar Pelle?

- O que? Não! - Jade ri com o cenho franzido. - Obrigada por estar me ajudando com a mudança e por ter me ajudado a arrumar a casa quando fiquei doente. Só agora percebi que não o agradeci.

- Não tem do que agradecer, eu estava com tempo livre.

O carro entra em uma estreita estrada de duas vias, onde as poucas casas que encontravam, Kråkstad não era muito povoada, e aquele parte do município era ainda mais deserta. As poucas casas, duas ou três a cada 500 metros, se destacavam com cores únicas, diferenciando-se do verde das árvores altas e dos arbustos espalhafatoso.

O carro passa na frente da casa vermelha onde os dois homens moram. Jade nota como a casa de sua vó, que agora é sua, era apenas um terço daquele casarão, tal qual tinha um jardim tão mal cuidado e a parte interior pouquíssimos móveis. Se perguntava como os dois conseguiam manter aquela casa e ao mesmo tempo faltava dinheiro para comida.

- Ele fica sempre sozinho?

Pergunta Jade, fazendo o moreno tirar os olhos da estrada.

- Quem?

Black Magic Woman (Pelle Ohlin)Where stories live. Discover now