Foi no Hukilau Cafe que..

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Capítulo 2
Ponto de Vista
Camila Ekewaka

"Diário de bordo, 5 de novembro, 6h45 da manhã. Rodeei com o Serpente do Mar, a ilha de Oahu. É a maior viagem que ele já enfrentou. Se der tudo certo é um sinal que está pronto para a grande jornada, até a Baía de Bristol, habitat natural de morsas, onde vou colher grandes amostras e,-"

— Ah merda! MERDA! - A porcaria de um dos mastros quebra bem no meio, as cordas da vela mestra cortam o ar e tudo desmorona. — Aaaaaaah! – Grito quando o objeto de madeira pesada cai arremetendo bem em minha direção, arremesso-me para o lado, mas o mastro arranca o timão de meu barco. Caída na lateral do barco, assopro o cabelo de meu rosto. — Você só pode estar de brincadeira comigo! – Olho para o céu lindamente iluminado pelos primeiros raios solares e bufo para Deus.

Qual é? Ele é meu amigo, as vezes, mas agora ele realmente me pregou uma peça, quase fui conhecê-lo. Ainda não, amigo! Ainda não.

Ainda repleta de adrenalina pura fluindo pelo meu corpo, desato o bote para emergências da lateral do Serpente e o deixo cair na água. Com muita dificuldade, lanço a âncora pesada no mar, embora seja um barco velho, ainda é minha casa.

Pego apenas minha carteira que estava sobre o sofá fofo atrás do timão e desço os degraus da lateral do barco, até conseguir pular sobre o bote motorizado sem que eu caia no oceano e fique com a calça fresca de tecido, molhada.

Desato as cordas que mantinham o bote ao lado do barco e me sento próxima ao motor de popa exposto. Engato a alavanca e o bote estremece com o rugido do motor, parece uma tosse seca de cachorro, mas ajuda o bote a ser impulsionado sobre as ondas suaves do mar. Não estou longe da costa da ilha, embora esteja longe da clínica, estou próxima ao pequeno centro comercial de restaurantes, então sigo com o bote até a costa.

Assistindo minha casa de madeira envelhecida flutuante, sendo deixada para trás a deriva, me amaldiçoo. Exigi demais do Serpente e ele é só um barco velho.

— Merda! – Praguejo mais uma vez, para não perder o hábito, e depois de alguns minutos deslizando sobre as águas acosto na costa.

Recomendação: Could You Be Loved – Bob Marley

Assim que meu botezinho salva vidas, alcança a areia da baía, eu respiro fundo, completamente frustrada. Que ideia mais idiota! Eu sabia que as coisas não terminariam bem. Não posso evitar, no final das contas tenho o mesmo gene de Ula.

Pulo para a areia com minhas fiéis sandálias de couro ecológico, deixando meu bote para trás e adentro a trilha aberta cercada pela vegetação daquela área da ilha.

Nem tudo está perdido, a paisagem é pacífica e os passarinhos voam cantando, o sol brilha através das folhas nas árvores altas, e é lindo, eu adoro esse lugar. Em meio minha admiração, a caminhada se torna apenas uma miragem e em poucos minutos, avisto o Hukilau Cafe.

O Hukilau Cafe, é uma das lanchonetes mais requisitadas da ilha, não só pela vegetação ao redor, muito atrativa aos turistas, mas também, pela comida deliciosa da Rue.

O cheirinho de panquecas doces, com uma pitada de bacon frito, cobriam o ar ao redor da estrutura simples de madeira. Era simplesmente delicioso.

Antes de entrar no Hukilau, saco uma moeda para usar o telefone público do estabelecimento ali na área externa e contato a guarda costeira sobre meu pequeno incidente com o Serpente.

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