Sonhos

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Capítulo 14
Ponto de Vista
Camila Ekewaka

"Diário de Bordo, dia 1º de janeiro de 2011, estou abordo do Serpente do Mar, hoje inicia minha tão esperada, sonhada e planejada jornada até a Baía de Bristol, estou me sentindo estranha, mas não posso desistir agora, meus pais já vão chegar no Porto para dizer-me um último adeus, junto de minha família, George e Paul me ajudaram a carregar meu estoque com alguns peixes a mais para o consumo. Eu os avisei que partiria hoje e prometeram que viriam se despedir de mim também. Sinto falta dela, mas já tento não pensar como antes. Meu barco está novo em folha, abastecido e pronto para partir. As festas de final de ano já passaram e por aqui o clima é tropical e inverno não é aterrador, mas na Baía de Bristol é congelante, então levo roupas extras, espero que sejam suficientes para minha exploração."

Escuto algumas risadinhas e uma movimentação inquieta no Porto, espio de cima do Convés e estão lá meus pais e as crianças que passam o final de semana com eles. Sorrio abertamente para eles. Desço correndo a escadinha pequena para o casco do meu barco e salto a pequena ponte improvisada, que dá acesso ao porto.

As crianças saltam em mim sorrindo e me lembrando como as amo. Abraço todas o mais forte que posso.

— Filha! Você está linda. – Ouço minha mãe dizer, emocionada. Abraço-a mais uma vez também.

— Ah, que isso, mãe. – Passo os olhos depressa pela minha roupa fresquinha. A regata branca apenas, sem sutiã, a calça de tecido folgadinha, azul marinha e chinelos de couro sintético. Não era um look muito elaborado, ao menos para minha mãe eu sempre estaria linda.

— Te trouxemos isso. – Meu pai, ao lado de minha mãe me estende uma caixa de papelão, interrompendo meus pensamentos bobos. — São algumas revistas e livros, para você se distrair quando o mar estiver tranquilo. Também estão aí algumas fotos da família, para quando der saudade.

— Ah, papai, isso é demais. Muito obrigada. – Apanho a caixa repleta de livros, e algumas fotografias, repouso-a no chão por um instante, para abraçar meu pai também.

Meus irmãos chegam um instante depois, com suas esposas.

— Nossa estacionar por aqui está impossível! – Koi reclama.

— Por isso eu disse para vir a pé. – Rebato.

— Vir a pé? São dois quilômetros inteiros, está maluca? – Nalu diz, com Beatrice no colo, minha sobrinha mais nova.

— Nossa! É praticamente outro país. – Reviro os olhos.

— Sim! É outro país quando se está com esse saquinho de arroz nos braços!

— Está pesadinha Beatrice! Muito pesadinha... é... meu bebê fofo. – Brinco um pouco com Beatrice que remexe os bracinhos animada, abrindo aquele sorriso banguela que eu amo. — Eu te amo. Te amo. Te amo. – Repito em uma voz esquisita, remexendo um bracinho gordinho de Beatrice.

— Agora venha cá! A pirralha cresceu vai rodar o mundo! — Koi me puxa para um abraço.

Kaleu está calado, mas quando me puxa para um abraço vejo-o fungar.

— Ah meu Deus, Kaleu, não chora. Maillie por que ele está chorando? Para Kaleu!

— Eu não sei. Ele chora. – Maillie, nega com a cabeça.

50 Primeiros BeijosWhere stories live. Discover now