Síndrome de Goldfield

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Capítulo 8
Ponto de Vista
Camila Ekewaka

Nas próximas duas manhãs, eu apenas me recuso ir ao Hukilau. Dando-me tempo para discernir o que diabos há comigo. E, dando espaço a Lauren, mesmo que a essa altura, ela nem ao menos saiba que eu existo.

Então, na terceira manhã após a ida reveladora em sua casa, eu decido ir. Eu quero isso. Seu pai perguntou-me o que eu ganharia. Ah... A infinidade de coisas que eu ganharia. Seus sorrisos matinais, suas pequenas observações inteligentes sobre qualquer assunto, seu jeitinho espontâneo. Sua risada gostosa. Seu cheiro feminino em minha volta, suas mãos delicadas me procurando... São tantas fantasias...

Seu toque de mulher em minha vida. Isso eu ganharia. Eu posso vê-la colorindo tudo aqui dentro. Pintando minhas paredes em branco, com suas tintas que vibram vida. Vida sem contenção. Sem restrições.

Então quem sabe, ela não me deixaria pintar suas curvas. Tomar em meus braços, ser tomada em seus braços. Protege-la. Mantê-la segura. Seu cheiro impregnado a mim. Preciso saber como é. Seu rio em direção meu mar.

Respirando fundo. Andando em corda bamba, finalmente adentro o Hukilau. O movimento pela manhã, continua grande. Os dias que eu não vim, não mudaram em nada o local. O que mudou foi dentro de mim. Tudo tem um significado maior, agora. Por alguma razão.

O cheiro de panquecas e melado, café e biscoitos, infesta o local. Mas nada me atinge mais do que vê-la. Na mesma mesa. Os cabelos imaculados. O rostinho concentrado no livro de Alice Walker, iluminada pelo sol. Como um anjo.

Decido que não vou esperar qualquer tempo para falar com ela essa manhã. Caminho sem ressalvas, direto para sua mesa, com uma boa recarga de coragem. Preciso tentar.

— Com licença? – Peço-lhe, assim que paro a sua frente em sua mesa. Pelo canto dos olhos vejo Rue, me olhando com uma expressão nada boa, do outro lado do balcão. Não ligo, tudo que me importa é a expressão tímida de Lauren, ao erguer os olhos da página que lia em seu livro. — Me desculpa a intromissão. É que eu vi que você estava comendo sozinha, assim como eu. Então eu resolvi vir até aqui lhe perguntar, se não acha que seria legal juntarmos nossas refeições e quem sabe assim sua casinha de waffles encontre uma chuva de mel. – Sugiro, sorrindo divertida em sua direção.

Os olhos grandes de Lauren, brilham, mas não me permito criar esperanças tão rápido, porque as vezes ela me engana com esses olhos traiçoeiros. Ela faz um biquinho divertido e então sorri cerrando os olhos, toda simpática.

— Oh, eu-seria ótimo. Ótimo mesmo, mas... hãm... eu... – Puxa uma respiração exasperada, oscilando com a cabeça. — Eu já-eu já tenho um namorado, quer dizer namorada, então, – ela se interrompe sorrindo nervosa apenas com o lábio inferior. — Desculpe. – Desvia os olhos ligeiramente arregalados para o livro de novo, e franze o cenho fingindo completa concentração no livro. Para de sorrir instantâneamente, cerrando os lábios, molhados pelo gloss, parece um tanto arrependida. Ela age como se eu tivesse o poder de ler suas mentiras. E, bem, eu tenho. Mas não é como se ela realmente soubesse disso.

Nego com a cabeça, achando extremamente divertido sua mentira atrapalhada para me afastar, junto de sua expressão de arrependimento.

— Hum. – Nego com a cabeça, fingindo extrema chateação. – Inventou um namorado e uma namorada para se livrar de mim...

Apressada, ela ergue o olhar para mim, como se nunca nem tivesse se concentrado no livro outra vez em suas mãos e comprime o rosto em uma careta sem vergonha, negando com a cabeça, toda sobressaltada, fingindo estar ofendida. Péssima mentirosa.

— Oh, não, imagina, que isso! Nada disso. – Fecha os olhos, juntando as sobrancelhas, negando piamente, com uma expressão adoravelmente teatral.

— Ah, é? Então qual o nome dele? – Faço um trocadilho para ver se ela vai me corrigir, dizendo que é uma namorada. Mas não, ela morde o lábio inferior nervosamente, e olha-me como se estivesse se preparando para falar, ao invés de ganhando tempo inventando um nome qualquer, o que de fato ela está fazendo.

50 Primeiros BeijosDonde viven las historias. Descúbrelo ahora