II

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Um roupão

Um mês depois de chegar Estêvão a S. Paulo, achava-se a sua paixão definitivamente morta e enterrada, cantando ele mesmo um responso, a vozes alternadas, com duas ou três moças da capital, - todas elas, por passatempo. Claro é que dois anos depois, quando tomou o grau de bacharel, nenhuma idéia lhe restava do namoro da rua dos Inválidos. Demais, a bela Guiomar desde muito tempo deixara o colégio e fora morar com a madrinha. Já ele a não vira da primeira vez que veio à Corte. Agora voltava graduado em ciências jurídicas e sociais, como fica dito, mais desejoso de devassar o futuro que de reler o passado.

A Corte divertia-se, como sempre se divertiu, mais ou menos, e para os que transpuseram a linha dos cinqüenta divertia-se mais do que hoje, eterno reparo dos que já não dão à vida toda a flor dos seus primeiros anos. Para os varões maduros, nunca a mocidade folga como no tempo deles, o que é natural dizer, porque cada homem vê as coisas com os olhos da sua idade. Os recreios da juventude não são decerto igualmente nobres, nem igualmente frívolos, em todos os tempos; mas a culpa ou o merecimento não é dela, - a pobre juventude, - é sim do tempo que lhe cai em sorte.

A Corte divertia-se, apesar dos recentes estragos do cólera -; bailava-se, cantava-se, ia-se 

A Mão e a Luva (1874)Onde histórias criam vida. Descubra agora