Capítulo três

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Havia decorrido quase um mês desde o que Jaskier considera o pior dia de sua vida. Mais especificamente: vinte e oito dias regados de noites de lágrimas e lamentações; sim, ele estava contando.

Após sua descida deplorável da montanha, o bardo se sentia quebrado física e emocionalmente, também já sabia que a partir dali, teria que seguir sozinho; ele não tinha noção do que exatamente faria; visto que voltar para Oxenfurt nunca seria uma opção, então, resolveu que por hora ia implementar o que sabe de melhor: levar suas canções aos lugares onde passasse, quem sabe assim trouxesse algum brilho à vida de algum infeliz; já que dentro dele não conseguia enxergar nada além de um vazio escuro.

Assim que chegou na primeira taberna que encontrou, ele soltou sua voz melancólica em sua mais recente composição; os presentes ao ouvirem uma canção com letras carregadas de tanta tristeza não puderam evitar de se perguntarem qual bela donzela havia ferido o coração daquele bardo. Ah, se eles soubessem que a pressuposta moça tinha barba, quase dois metros de altura e um dom extraordinário em fazer Jaskier se sentir um trouxa.

No momento, o bardo estava hospedado em uma pequena, mas agradável, cidade que tinha um fluxo constante de mercadores, dando a chance do trovador ganhar uma boa quantia em dinheiro com suas apresentações na taberna local. O ato de cantar ajudava-o não apenas financeiramente, como inclusive, a manifestar todos os sentimentos que estavam presos dentro de seu peito; a raiva, a mágoa, a tristeza. Enquanto acompanhava o bruxo, ele realmente achava que tinha encontrado alguém que, de certa forma, entendia como era ser rejeitado, que conhecia na pele o peso do desprezo; de modo que o de olhos azuis nunca achou que logo Geralt o rechaçaria de maneira tão impiedosa... Não levando nada do que eles viveram juntos em consideração. É, talvez de fato os bruxos não sentissem tanto quanto Jaskier gostava de acreditar.

Ao fim de mais uma apresentação; a qual as pessoas no estabelecimento já altas pela bebida, pediram para o bardo cantar sua mais nova música sorumbática, este se encontrava exausto. Não era fácil ter de reviver mentalmente todas aquelas cenas que o levaram a compô-la.

Há alguns dias o trovador já não vinha se sentindo o mesmo, por vezes, ao acordar, encontrava-se cansado como se a noite de sono não lhe proporcionasse o merecido descanso; suas feições eventualmente encontravam-se abatidas, não vinha se alimentando adequadamente uma vez que algumas refeições oferecidas pelo dono da pousada/taberna; o qual o bardo já tinha conquistado amizade, não lhe apeteciam o paladar, o simples odor de alguns ingredientes, antes tão comuns ao seu olfato, agora faziam seu estômago nausear.

Provavelmente, em decorrência de seu atual estado emocional, ele vinha negligenciando cuidados à sua saúde, porém, Jaskier era adepto do pensamento de que deve-se dar tempo ao tempo; uma hora todas as feridas se fecham, por mais que demore, nenhum sofrimento é eterno, pode ser difícil mas ele vai superar, em algum momento, seu amor pelo bruxo há de desvanecer... Infelizmente, por mais que o bardo se odeie por admitir, sentia falta do desgraçado. Todavia, o trovador havia prometido a si mesmo que não ia aceitar ser tratado como saco de pancadas por ninguém e, assim seria.

No presente momento, o castanho estava sentado em frente ao balcão do bar, hidratando sua garganta seca com um copo de água após a cantoria, visto que era uma das poucas coisas que seu estômago incomumente sensível estava aceitando. Ele girou no banco para olhar ao redor do estabelecimento, estava ficando tarde e em poucas horas a noite fria se mostraria presente; restavam apenas algumas mesas ocupadas por pessoas tomando seus últimos goles antes de se recolherem aos seus cômodos. Surgindo atrás do balcão e apoiando os cotovelos na madeira envelhecida, o dono do comércio, um homem de meia-idade chamado Voerse, passou a observar o ambiente junto ao mais novo.

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