Capítulo sete

163 25 30
                                    

Os raios solares daquele final de tarde lutavam para transpassar as nuvens pesadas que pairavam no céu. Pelo caminho de terra escura, em suas respectivas montarias, se encontravam Eskel e Geralt em direção à residência do homem que estava à procura de bruxos para um trabalho. Ao longo da estrada, encontraram a mesma vegetação apodrecida que consumia o vilarejo; folhas secas quebradiças esvoaçavam conforme o vento abafado as carregava. Entretanto, ao finalmente chegarem à propriedade do comerciante, houve uma mudança extrema em comparação às casas caindo aos pedaços da vila com a vultosa residência de pedra cinza que surgia perante os olhos felinos dos dois bruxos.

Percorrendo o caminho de tijolos cobertos de musgo esverdeado, direcionaram-se à grande porta de entrada, que era preenchida com diversos adornos de ferro nobre, destacando o ar suntuoso da construção. Sem que precisassem bater para anunciar sua chegada, a entrada se abriu revelando uma idosa que aparentava trabalhar na residência. A mulher passou a encarar os dois sem se manifestar. Após alguns segundos de silêncio constrangedor; antes que Geralt pudesse afugentar a pobre senhora com seu jeito nada delicado, Eskel resolveu falar.

- Ern... soubemos que seu senhor está à procura de bruxos. - em seguida, sem que pronunciasse uma única palavra, a mulher fez sinal para que eles a acompanhassem. Adentrando na mansão, passaram por corredores; que mais pareciam labirintos, cobertos de itens de decoração luxuosos que nenhum dos dois bruxos sequer saberia nomear. Por fim, chegaram a uma desnecessariamente ampla sala de jantar; a senhora que os guiava parou bruscamente e indicou duas cadeiras para que se sentassem, estas estavam localizadas à esquerda e à direita da cabeceira da mesa, onde o anfitrião se assentava.

Em poucos segundos, dúzias de empregados começaram a surgir, eles passavam de um lado para outro, organizando e limpando; aparentemente para deixar tudo impecável antes do patrão aparecer. Um detalhe em particular chamou a atenção dos bruxos fazendo ambos se entreolharem: todos os funcionários, sem exceção, eram homens e mulheres de meia-idade ou idosos. Quando pararam para pensar, eles igualmente não haviam visto qualquer pessoa jovem na vila. Eskel estava pronto para comentar isso com o irmão quando as portas da sala de jantar se abriram, revelando um homem por volta dos quarenta anos, de cabelos loiros com alguns fios grisalhos, vestido ricamente da cabeça aos pés, este não custou a se pronunciar.

- Bem- vindos, senhores! Finalmente bruxos apareceram por essas bandas. Não fazem ideia do quanto estive esperando. - enunciou enquanto se aproximava da mesa e tomava assento em seu lugar - O trabalho que proponho precisa de mais de um de vocês, afinal. Gostariam de beber alguma coisa? - continuava a se manifestar ao mesmo tempo que gesticulava ambas as mãos. Sem mesmo dar a chance de um dos dois homens responder, prosseguiu - Ótimo! Mande a Celinna vir aqui. - disse para um dos funcionários que imediatamente se retirou.

- Qual é o contrato? - Geralt pronunciou-se pela primeira vez, queria saber logo do que se tratava para sair daquele lugar esquisito o quanto antes. Voltando-se para o bruxo, o comerciante começou a articular.

- Bom, há algum tempo uns monstros vêm aborrecendo o cemitério da vila. Qualquer morador que tente se aproximar de lá para cuidar do túmulo de algum parente é atacado e, dificilmente sai vivo. - enquanto ele explicava, ambos os bruxos esquadrinharam em suas mentes a lista de criaturas que conheciam, as quais procuravam vítimas em sepulcrários. Olhando para o irmão, Eskel sugeriu.

- Carniçais, talvez? - Geralt apenas concordou com um menear de cabeça. Sim, era possível, uma vez que carniçais são criaturas necrófagas. Ainda nessa linha de raciocínio, Eskel continuou - Certo. Então, qual seria o pagamento?

- Ofereço trezentas moedas para cada um. - de fato, era uma quantia justa, ao passo que eles possivelmente enfrentariam um bando daqueles monstros.

- Nós aceitamos. - foi Geralt quem se manifestou dessa vez, fazendo o dono da propriedade abrir um sorriso de satisfação. Naquele instante, surgiu a única pessoa mais nova que eles viram desde a chegada no vilarejo. Era a jovem esposa do contratante; a garota de cabelos claros andava rapidamente e com os olhos no chão; em um tom duro, o marido a mandou servir seus convidados, gesto que ela iniciou sem rodeios. Não era preciso ter olhos aguçados para reparar que ela tinha medo dele; as mãos tremiam enquanto executava a tarefa que lhe foi dada. Quando ela se aproximou de Eskel para encher seu copo, este reparou em um hematoma arroxeado localizado abaixo de seu olho esquerdo; o fazendo perceber o quanto o homem que os contratou era sujo. Em decorrência dos tremores em suas palmas, a garota acabou derramando um pouco do líquido que servia ao bruxo. Sua voz saiu em um sussurro enquanto se desculpava com ele.

I Love You SoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora