Capítulo seis

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A exígua brisa daquela tarde especialmente quente oscilava as folhas presentes nas árvores ao entorno; estas que agraciavam quem optasse por descansar às suas sombras com o fornecimento de temperatura mais amena, bem como levantava a escassa poeira existente no decorrer da estrada de terra vermelha. Era neste caminho relativamente isolado, que se encontrava o bruxo de cabelos prateados montado em sua fiel Plotka; a qual galopava de maneira tranquila uma vez que o clima poderia facilmente causar cansaço.

Estavam a uma curta distância do vilarejo mais próximo, onde Geralt esperava que houvesse mais um trabalho para si. No que se refere ao tão corriqueiramente evitado assunto; também conhecido como: "o bardo de cabelos castanhos", o bruxo; após muito debater internamente, chegou a conclusão de que o fatídico acontecimento era inevitável. Afinal, Jaskier o conhecia por tempo suficiente para saber que, em algum momento, o mais velho explodiria. Era da natureza de um bruxo no fim das contas; fazia parte de sua personalidade, foi apenas uma fatalidade sua ira ter encontrado o bardo como alvo naquele momento. O trovador tinha ciência dos limites de sua curta paciência, então, as ações que se sucederam não foram totalmente culpa de Geralt. Era assim que ele enxergava aquela situação agora.

Não havia razão para ficar se lamentando sobre o leite derramado. De fato, o melhor a se fazer era seguir em frente. O mais sensato é deixar seu passado para trás. Assim como trancafiar em seu interior qualquer sentimento inconveniente que um dia ele pensou sentir. Os bruxos não sentem e, isso é um ponto final.

Após mais algum tempo de caminhada, Geralt percebeu que conforme se aproximava da vila, o clima antes aquecido se convertia em lufadas de ar abafadas e pesadas. Ao levantar suas orbes douradas, notou que o céu antes tão azul e ensolarado, agora se encontrava nublado e escuro por nuvens pesadas. Algumas árvores ao longo da estrada com seus caules apodrecidos e folhas secas aparentavam estar mortas; os poucos frutos dependurados fracamente em seus galhos não pareciam seguros para o consumo de qualquer ser vivo. Foi uma drástica mudança em comparação a ambiência anterior.

Ao alcançar, por fim, o vilarejo, não podia-se dizer que o ambiente era divergente do visualizado previamente. Conforme o bruxo adentrava o lugar; através do que se supunha ser a rua principal, passava por entre residências de aspecto decrépito, com suas paredes revestidas de musgo e uma umidade aparentemente ininterrupta. Voltando seu mirar para o solo abaixo de si, encontrou um chão coberto de lama escura que fazia os cascos de Plotka afundarem consideravelmente perante o peso de ambos, fazendo-a emitir um relincho de desagrado, este que foi cessando gradativamente quando a destra do bruxo passou a acariciar seu longo pescoço no intuito de acalmá-la, como uma promessa silenciosa de que ela ganharia várias maçãs pelo seu esforço.

Ao passo que percorria a viela, Geralt reparou que haviam pouquíssimos habitantes transitando-a; estes caminhavam de maneira apressada, com as cabeças baixas e, pareciam não reparar na presença do forasteiro, como se quisessem passar o menor tempo possível fora de suas casas. Os moradores que aparentavam notar o homem alto de capa escura em uma montaria atravessando a rua, logo desviavam o olhar quando encontrado com o de Geralt, rapidamente trancando suas portas, como se temessem a presença do estranho. Bom, o bruxo tinha que admitir que ele não exalava a presença de pessoa mais amigável do mundo.

Depois de poucos minutos enfrentando o solo lamacento, depararam-se com um pequeno estabelecimento cujo letreiro desgastado na placa de madeira decomposta indicava que ali funcionava uma taberna. Sendo um bom lugar para a coleta de informações sobre algum contrato, Geralt desceu do animal; utilizando os arreios para prender Plotka próximo a um cocho com água para que ela pudesse se refrescar da viagem e, adentrou o comércio.

Ao atravessar a porta, foi recebido por um ambiente pouco iluminado, apresentando odor contínuo de álcool mesclado a madeira gasta e envelhecida. Seus passos pesados ressoavam em um ruído seco conforme se encaminhava a uma mesa prostrada em um canto afastado; ao tomar assento, retirou o capuz da capa escura deixando seus fios claros à mostra. Não demorou muito para que um homem grisalho viesse ao seu encontro, era um funcionário, aparentemente; o bruxo solicitou apenas uma cerveja, o vendo se retirar em seguida para buscar seu pedido. Antes mesmo que ele voltasse, uma caneca com a bebida foi posta de forma brusca a sua frente, fazendo o sonido do golpe ressoar pelo estabelecimento e derramando uma parte do líquido amargo sob o móvel.

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