Capítulo cinco

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A luminosidade dos raios solares que transpunha a solitária vidraça do cômodo atingia os olhos cerrados e, sua calidez aquecia a pele macia da face do bardo que jazia deitado entre o emaranhado de lençóis no início daquela manhã. Abrindo suas orbes azuis, Jaskier rapidamente se levanta visando finalizar os últimos preparativos para empreender sua jornada em direção à cidade de Ellander.

Ao vislumbrar a paisagem exterior através da janela, percebeu que, apesar da tempestade na noite passada, tudo indicava que o dia seria de clima quente e ensolarado, algo que o trovador considerou uma vantagem visto que uma tormenta inesperada seria um grande empecilho a sua viagem. Desde a fatídica noite anterior, na qual o bardo tomou conhecimento de sua gestação, este se encontrava extremamente instigado a bater na porta do Templo de Melitelle e, pessoalmente, solicitar as devidas explicações perante a deusa sobre as pretensões desta em transformar a vivência de Jaskier em uma grande merda. Se ele se considera uma pessoa "barraqueira"? Claro que não.

Porém, me vejo em meus plenos direitos de requerer o devido controle sobre a minha vid...

O bardo não teve a chance de concluir seu pensamento, uma vez que o desconforto repentino embrulhando seu estômago o fez marchar num piscar de olhos até a janela, debruçando-se sobre ela e despejando ao chão o escasso conteúdo consumido outrora. Encostando-se na parede ao lado, deixou escapar um longo suspiro; pondo ambas as mãos em sua barriga e, olhando para baixo, se pronunciou no quarto vazio.

- Você quer me matar, moloque?! - ao que suas palavras foram proferidas, Jaskier discerniu pequenas movimentações em seu interior - Não é possível! Você 'tá tirando sarro de mim?! - ao fazer seu questionamento, mais pulsações foram sentidas. Apoiando sua nuca à parede pedregosa atrás de si; emanou uma risada nasalada acompanhada de um meio-sorriso, murmurando em seguida - Sendo filho de quem é, não me admira. - passando a destra por entre os fios castanhos pretendendo colocar seus pensamentos em ordem, Jaskier rumou até sua bolsa que jazia no pé da cama; remexendo um pouco dentro dela encontrou o frasco transparente que abrigava o líquido esverdeado, lembrando-se das instruções da curandeira, ingeriu uma pequena quantidade do medicamento, fazendo uma expressão de desagrado ao passo que o sabor amargo preencheu sua língua.

- Ah! Como uma coisa que deveria curar pode ter um gosto tão horrível?! - guardando o objeto novamente, o bardo começou a despir-se enquanto se dirigia à pequena banheira presente no cômodo; livrado das vestes escarlate, ao levantar seu olhar teve sua atenção direcionada a um espelho de tamanho médio situado na parede à sua frente. Percorrendo a visão pelo seu corpo esbelto, Jaskier percebeu que tinha perdido um pouco de peso, felizmente, não muito; além de sua pele comumente alva, se encontrar um pouco mais pálida do que de costume. Virando-se de perfil, observou sua barriga; havia uma pequena, quase indistinguível, protuberância na região do seu ventre, bem como, este se encontrava rígido ao toque; com exceção desses detalhes nada indicava que ele se encontrava gestando uma criança. Finalmente desviando sua mirada do reflexo, adentrou na água fria sentindo arrepios percorrerem todo o seu corpo; não tardando em complementá-la com essência de lavanda, uma vez que gostaria de aproveitar o máximo possível daquela imersão; já que tinha conhecimento de que estando na estrada por vários dias, um simples banho poderia ser considerado artigo de luxo. Inspirando o doce aroma, o bardo recostou-se na base de madeira e se permitiu relaxar pela primeira vez em várias, e angustiantes, horas. Como que acompanhadas pelo cheiro, lembranças de um passado não muito distante embrenharam-se sorrateiramente em seu cerne:

Após umas horas bem sucedidas de apresentações, Jaskier se encontrava no quarto em que Geralt e ele haviam locado na estalagem situada em uma vila de mercadores na qual passavam em busca de suprimentos. Quando chegou ao conhecimento de alguns moradores de que havia um bruxo na localidade, estes foram de encontro ao de cabelos prateados visando oferecer-lhe um contrato. Pelo que o bardo ouviu; já que estava na taberna junto com o mais velho quando a discussão ocorreu, os habitantes estavam desesperados com o frequente desaparecimento de pessoas que usavam uma determinada rota comercial nas redondezas, onde, de acordo com relatos de sobreviventes, um monstro terrível e sanguinário com aparência semelhante a de uma mulher velha surgia repentinamente e atacava quem encontrasse, despedaçando o pobre coitado com suas longas garras. Não foi preciso os homens continuarem com suas narrações para Geralt descobrir com o que eles estavam lidando.

I Love You SoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora