Capítulo oito

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- Yennefer?!

O bardo dividia seu olhar de espanto entre Rience, desacordado na outra extremidade do espaço, e a feiticeira que havia acabado de nocauteá-lo com alguma onda de magia.

- O que você 'tá fazendo aqui?! - Jaskier se manifestava ainda incrédulo pela presença da mulher ali, afinal, não a via desde o incidente na montanha; o qual não parecia ter tido um resultado positivo para nenhum dos presentes aquele dia. Caminhando rapidamente, Yennefer aproximou-se do trovador tratando de soltar suas correntes com certa pressa, enquanto se pronunciava.

- O que você acha?! Salvando a sua bunda! - ao ter seus membros finalmente libertos, o trovador sentiu o peso da exaustão combinado a surra que havia levado, seus joelhos cederam indo de encontro a madeira abaixo de si, o fazendo sibilar pela dor ao mesmo tempo que pressionava as costelas machucadas. Em um movimento ainda mais inesperado para o bardo, este sentiu seu tronco ser envolvido pelo braço direito da feiticeira, ao passo que, com a outra mão, ela apoiava o membro esquerdo do trovador nos ombros, o auxiliando a se levantar. Mirando-a surpreso, Jaskier não conseguia evitar as perguntas, estava muito confuso.

- O que?! Mas, por quê? Como você me encontrou? - com a assistência da feiticeira, dava alguns passos cambaleantes. Revirando as orbes violetas com evidente impaciência, a mulher lhe replicou.

- Podemos deixar as perguntas pra depois e focar em sair daqui primeiro?! - sem esperar que o bardo retrucasse, com a palma livre, conjurou um portal esférico cujo brilho resplandecia pelo ambiente outrora parcamente iluminado. Com certa dificuldade, ambos o transpassaram, ao passo que o trovador era auxiliado a tomar assento em um tronco de árvore caído próximo.

Suspirando enquanto discernia a dor de seus ferimentos amenizar levemente, Jaskier passeou seu olhar em volta do ambiente o qual chegaram. Parecia uma espécie de clareira, iluminada pelo brilho da Lua cheia; havia árvores dos mais variados tipos com suas folhas em copas espessas agitando-se conforme a brisa noturna as atingia, o chão abaixo deles era de terra batida, em alguns pontos grama verde e flores coloridas exibiam sua beleza em pleno início de verão. Entretanto, o encanto daquele lugar deveria ser deixado de lado por hora, uma vez que, voltando a mirar a feiticeira a alguns passos de distância, o trovador decidiu retomar suas indagações.

- Afinal, por que você me salvou? - questionou, observando a mulher emanar uma risada breve e carregada de sarcasmo.

- Disponha, viu? - desviando o olhar de Yennefer e focando-o no céu estrelado acima deles, Jaskier exalou um breve suspiro enquanto refletia. Tinha que admitir que não estava sendo justo naquele instante. Independente do que ele pensava da feiticeira anteriormente, não mudava o fato dela ter aparecido do nada e salvado sua vida juntamente com a do seu filho. E, parando para ponderar mais profundamente, suas implicâncias transcorridas para a mulher eram, em sua grande maioria, movidas pelo ciúme do bardo ao ver o tipo de relação que ela e o bruxo possuíam. Sendo assim, levando em consideração o pé na bunda que Geralt havia lhe oferecido, não havia motivo para iniciar uma discussão àquela altura.

- Não pense que não estou agradecido pelo que fez. Eu realmente estou. Se você não tivesse aparecido eu... - as inúmeras suposições do que poderia ter acontecido caso Yennefer não surgisse naquele segundo faziam com que um pavor gélido percorresse seu corpo. - É só que... Imagino que você consiga entender minha confusão. - Cruzando os braços, a feiticeira dava alguns passos lentos em sua direção à medida que se pronunciava.

- É, eu entendo. - arfou mirando o bardo à sua frente. O belo rosto da mulher expressava compreensão ao passo que ela sentou-se ao lado do trovador no tronco de madeira escura. Contemplando as poucas nuvens que adornavam o céu naquela noite, voltou a se manifestar - Há várias semanas eu venho tendo uns sonhos estranhos. No início, eram só alguns flashes, percebia que alguém estava sofrendo em agonia, mas, não conseguia distinguir quem. - desviando as orbes violetas, mirou o rosto delicado do mais jovem, agora adornado com ferimentos que aos poucos ganhavam coloração arroxeada - Toda noite os sonhos voltavam. Ficavam cada vez mais claros. Então, pude perceber que a pessoa em apuros era você, bardo. - Naquele momento, a mente de Jaskier voltava a desenvolver mais questionamentos, antes que ele pudesse expô-los, a feiticeira prosseguiu - E antes que me pergunte, eu não tenho certeza do porquê logo eu estava tendo sonhos premonitórios com você. - suspirando audivelmente, ainda observando a face do trovador, continuou - Admito que demorei um pouco a finalmente decidir te alertar, ou sei lá. Na verdade, resolvi procurar por você quando, nos últimos sonhos, passei a ouvir o choro de uma criança, que, de alguma maneira estava relacionada a você e também corria perigo... Bom, quando senti que a ameaça estava cada vez mais próxima, tive que agir. Através de um feitiço relativamente poderoso fui capaz de achar sua localização e o resto você já sabe. - finalizou voltando a vislumbrar as folhas secas sendo carregadas ao longe pela brisa.

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