Capítulo nove

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Na escuridão daquele lugar abandonado, gradualmente a mente desorientada de Rience retomava a consciência. Sua visão turva paulatinamente distinguia o ambiente ao seu redor; uma brisa fraca adentrava o recinto iniciando um ruído do tilintar de metais e, fazendo sua atenção ser direcionada às correntes dependuradas do teto que agora se encontravam vazias.

O maldito bardo havia escapado!

Discernindo o sangue em suas veias começando a ferver, o homem ergueu-se do piso empoeirado observando seu entorno. Ele sabia que algum outro feiticeiro o atacou e ajudou o garoto a empreender sua fuga. Esse fato fez com que a cólera de Rience fosse imensamente amplificada.

Feiticeiros são seres superiores a quaisquer outros seres vivos. São poderosos e imponentes, capazes de viver por eras e da maneira que bem lhes convier. Humanos não passam de criaturas desprezíveis; na perspectiva de Rience ajudá-los e lhes mostrar alguma empatia era um grande absurdo. Esse ultraje não seria deixado de lado e ele estava disposto a seguir no encalço do trovador até as profundezas do inferno.

Conjurando um portal esférico que passou a iluminar o cômodo, o homem não tardou a transpassá-lo. O luxuoso escritório do Lorde Pankratz o recebeu em seguida, o nobre encontrava-se de costas para si, olhando através da grande janela localizada às costas da vultosa mesa de carvalho. Na outra extremidade do recinto, recostado em uma poltrona de seda escarlate, estava Vilgefortz; este pousou as orbes castanhas de tons avermelhados no recém-chegado logo passando a se manifestar.

- Bom te ver novamente, Rience. - o feiticeiro o fitava como se buscasse por algo, o qual todos no cômodo sabiam do que se tratava - Esperava que estivesse na companhia de mais alguém. - finalizou ainda sustentando seu mirar. Com o cenho franzido e cruzando os braços sob o peito, o homem de olhos verdes peculiares passou a articular.

- Eu estava muito próximo... Mas, o moleque escapou. - antes que tivesse a oportunidade de prosseguir, Vilgefortz levantou-se de seu assento e, caminhando a passos lentos em sua direção, questionou enquanto o observava.

- Deixa eu ver se entendi. Você deixou um garoto de vinte e um anos fugir bem na sua frente? - enunciou com sua voz rouca, era possível perceber o tom escarlate em suas orbes cada vez mais forte.

- Claro que não! - vociferou Rience com sua face próxima à do outro homem - Alguém o ajudou. Um outro feiticeiro. - a simples memória do ocorrido fazia com que uma fúria amarga percorresse toda sua corrente sanguínea. Naquele instante, uma risada carregada de sarcasmo ecoou pelo ambiente. Seguindo a direção do som, encontrava-se Telios Pankratz ainda de costas para os dois sujeitos.

- Pelo visto o meu filho Julian arranjou um amiguinho. - finalizou com evidente repulsa em sua sentença. Revirando os olhos verdes, Rience prosseguiu.

- É, parece que sim. Mas, eu vou encontrar os dois. - concluiu mais como uma afirmação para si mesmo do que para os demais indivíduos ali presentes.

- Espero que sim. Imagino que você não gostaria de tomar o lugar do garoto. - ameaçou Vilgefortz em um tom grave que reverberou em seus tímpanos. Sem esperar uma resposta, o feiticeiro girou em seus calcanhares e se retirou do cômodo.

Pois bem, o indivíduo que alega que a vingança é amarga claramente não possui paladar. Assim sendo, Rience estava decidido: seria a sua mão que empunharia a adaga que atravessaria o coração do bardo.

[ . . . ]

Percorrendo o que para a mente confusa e abalada de Jaskier foram quilômetros de corredores naquela fortaleza de pedra, no presente momento Nenneke o auxiliava a tomar assento em uma cama situada em um quarto pequeno, porém, não menos confortável.

I Love You SoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora