Capítulo 12

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— O céu não é lindo? — Minha mãe acariciou meu cabelo e apontou para o teto de meu quarto em direção as diversas estrelas de borracha coladas e brilhantes. Eu sorri de lado, estava feliz em saber que estava sentindo o cheiro de rosas de novo.

Mamãe... — Sussurrei sonolenta.

Hm, querida? — Ela beijou o topo de minha testa e eu lutava para não dormir e ficar mais alguns minutos deitada por cima de seu braço quente. Essa foi minha última lembrança com ela, e em vez de ter quatro anos eu tinha dezesseis e estava feliz assim. Bem assim, dessa forma e dessa maneira.

                   Eu tinha tudo em minha mãos, a calmaria e o anseio de mais histórias de finais felizes contadas para crianças. Eu tinha o cheiro bom em meu nariz e a pele suave que me abraçaria no choro, eu tinha ela e era apenas isso que eu precisava em todos os momentos.

 — Não quero dormir. — Falei sincera e ela sorriu, trazendo quase todas nossas lembranças a tona. O sorriso calmo, fogoso e arrepiantemente singelo.

— Vou ficar aqui contigo, confia na mamãe. Pode dormir...

— Rose? — Ouvi chamar e abri os olhos assustada, batendo minha mão ferida na mesa escolar e rangi os dentes com raiva por terem me acordado. — Estava dizendo que não pode dormir na sala de aula.

               Levantei o rosto e observei o olhar do professor Abner me encarar, parecia Peter quando esmurrei seu maxilar. Tirando as vestes de um velho rabugento de quarenta anos. Roupas folgadas e tênis antigo, um pouco diferente do que essa escola é capaz de suportar.

— Mas eu sempre dormi. — Levantei o olhar sonolento e observei a sala, com todos me olhando em silêncio e alguns rindo escondido.

— Aqui não é dormitório mocinha. — Falou autoritário. —  Detenção depois das aulas.

— O que? — Levantei a voz e observei Caroline em minha frente, dar de ombros desajeitada e voltei a olhar Abner com desdém. — Está brincando comigo, Abner? Todo mundo dorme nessa aula.

— Professor Abner. — Me corrigiu passando a mão na camiseta folgada e se virando, voltando para a mesa. — Voltando ao assunto da guerra de Secessão, também conhecida como Guerra Civil Americana que aconteceu por volta de 1861 e 1865, entre o norte e o sul dos Estados Unidos...

— Merda. Eu mereço.

              A aula hoje pareceu uma vida inteira. Abner não parou de tagarelar um minuto. Tudo oque conseguir imaginar, ou por um segundo tentei, foi o rosto de minha mãe pela última vez que a vi. Lembro-me da voz de Suzanne, das brincadeiras sem graça de Luine. Lembro-me tão bem das duas que me odeio por não conseguir ver o rosto de minha própria mãe.

            Meu estômago estava contorcendo pela angustia, ou até pela falta de realidade. Tudo oque alcancei foi o corpo dela atrás do professor Abner e um rosto borrado. Sem uma face ou qualquer faísca humana. Não deveria me derreter a certas melancolias, mas eu sentia a falta dela como um pulmão sente falta do ar.

            Assim que a aula acabou, eu me levantei pronta para sair pela porta da frente e ir encontrar Peter. Eu precisava dele, mesmo que seja um soco no rosto ou mais alguma ameaça, mas era tudo oque eu tinha e eu estava precisando encostar num ombro e dizer a vontade imensa de sumir. Sumir de mim mesma, antes que eu mate mais alguém.

— Rose. —  Ouvi me chamar e me virei, observando o rosto sem face e o redemoinho sobrevoar sobre ela. Uma terrível e longa jornada para fora da realidade nesse momento.

Últimas Pistas - Livro  3Where stories live. Discover now