Capítulo 22 - Parte 1

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                A volta deveria ser mais tranquila, mas o peso de ter tirado a vida de alguém me assombrava ferozmente.

               Ouvi as ladainhas de Abner, a apresentação da história da cidade e muito por uma noite só. Fiquei ao lado de Caroline a noite inteira, mas não consegui dormir. Continuei ouvindo a voz  insuportável de Flynn ao redor da barraca e tudo oque eu queria era poder ir até seu corpo e arrancar sua língua fora. Porque ouvir Mike era o mesmo que ouvi-lo.

             Agora estava sentada no mesmo lugar, de volta para casa. Dominik me olhava sem dizer nada, em total silêncio desde a floresta onde confessei ter matado alguém. Estava com o rosto limpo, sem seu lápis ao redor dos olhos e sem suas vestes folgadas. Vestia apenas uma calça, com a camiseta do Linkin Park no ombro direito.

            Todos os alunos estavam no mesmo estado, todos os meninos. Enquanto apenas Abner estava conosco além do motorista Vince Aron, inspetora Riley não estava conosco e ouvir dizer que teve uma discussão e resolveu voltar de carro. 

           Algumas alunas estavam ao redor dos meninos, conversando felizes enquanto eu o observava tentando se enturmar. Era bom vê-lo conversar, mas todas estavam percebendo sua beleza que antes apenas eu tinha visto. Virei meu rosto para a janela e abri a bolsa, pegando uma barra de chocolate e comendo enquanto coloquei os fones.

             Talvez Peter já tenha encontrado algo sobre Adam ou Jhon, ou quaisquer coisa que fosse.

             Só queria poder esquecer Flynn e tirar sua voz de minha cabeça antes que eu enlouqueça.

             Chegamos na escola, Peter já estava a minha espera com o carro parado em frente. Ele vestia um terno cinza e estava com os braços cruzados. Desci do ônibus com a mochila de lado e senti meu braço agarrado por alguém, me virei num susto e observei Dominik me olhar atento.

— Está melhor?

— Estou. Pelo menos não ouvi as piadas ruins de Abner e Riley na volta. — Disse olhando para seu peitoral de fora e a marca geométrica que ele tinha, depois voltei encará-lo. 

— É... —  Piscou duas vezes. — Não gosto da Riley mesmo, muito curiosa. 

— Preciso ir, Peter está aqui.

— Eu sei. — Ele disse calmo e andou ao meu lado, me seguindo e dando a volta no veículo até encarar meu avô do outro lado.

                Peter logo se desencostou do carro vindo em minha direção, sério e rígido.

— Não esqueça que estamos na escola. — Falei antes dele fazer alguma coisa.

— Bom dia. — Dominik disse para ele que ficou calado. — Depois se falamos. — Virou para mim e saiu em direção a escola. Ele estava estranho e com menos medo.

— Bom dia. — Abner apareceu e ergueu a mão para Peter que a agarrou com força. — Prazer em vê-lo pessoalmente. 

— E eu te conheço? — Peter soltou sua mão sério e Abner me olhou de relance assentindo.

— Creio que não, chame-me de Abner. — Falou desajeitado. — Cooper, sou fascinado em sua história.

             Porra, assim você cava  a própria cova.

— Bom saber, Abner.

             Manter a calma, era disso que eu precisava. Manter a sanidade intacta e fingir que Flynn não sussurrava em meu ouvido a cada segundo que passava. Não piscar mais de duas vezes, ombros sempre altos e os dedos quietos. Ninguém iria notar que minha realidade estaria correndo risco de sumir.

Últimas Pistas - Livro  3Onde histórias criam vida. Descubra agora