capítulo 29 • maternidad.

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Joaco Piquerez.

Becca é a mulher mais foda do mundo. A nossa filha saiu de dentro dela; ela pariu aos 19 anos!

O seu maior desafio desde que engravidou foi superado e agora estava superando outro: a primeira amamentação. Pelos relatos da paraguaia, amamentar não era difícil e nem doído, era agonizante. Eu me preocupava com isso, mas ver as minhas garotas juntas não tinha preço... eu estava definitivamente em paz.

— eu admiro demais a sua força. — eu comentei enquanto assistia à cena sentado em uma cadeira. Eu não dormi essa noite, nem Becca, a única pessoa que conseguiu foi Gustavo; ele dormia nos meus ombros desde às 05h da manhã. Agora eram 08h.

— foi difícil, mas a nossa filha já está entre nós. — ela esboçou um sorriso confortavelmente calmo.

— o que a levou a nascer? — eu questionei, curioso.

— todo o meu estresse e ansiedade. Esses sentimentos se acumularam e deu no que deu... mas passou, amor, esquece isso. — ela dissera, demonstrando desconforto com o assunto.

Eu sabia que Becca não queria falar sobre isso, e também sabia que se sentia culpada pelo nascimento prematuro da nossa bebê. Eu não a culpo por nada do que houve.

— eu sei que não deveria estar prolongando o assunto, mas não é culpa sua... não se sinta culpada, culpe à mim por te enfiar dentro de um estádio lotado. — eu disse na tentativa de ajudar.

— eu fiz tudo errado e agora estou com medo de falhar com ela. — a sua voz saiu como um sussurro. Seus olhos se encheram de lágrimas e antes de me levantar para abraçá-la, encostei a cabeça de Gustavo na poltrona. Nosso abraço era desajeitado, tanto por ela estar sentada em uma cama, quanto pela bebê em seus braços.

O seu choro baixinho despedaçava o meu coração... sabia que ela estava desabafando, afinal, quando a dor não cabe no peito transborda nos olhos.

— você vai ir bem, eu acredito em você.

— mesmo quando eu deixei de ir à cursos e palestras para mães de primeira viagem? — ela me encarou, os seus olhos mostravam esperança.

— sim. Você terá eu, Jazmín, seu irmão, os seus pais, Cami... não se preocupe com isso, minha linda. — deixei um beijo na sua bochecha. Ela esboçou um sorrisinho e eu sequei as suas lágrimas com as minhas próprias mãos.

— eu te amo muito.

— eu também te amo muito.

•••

Becca Gómez.

Estava exausta e sem forças alguma, mas não queria dormir, queria ficar acordada apenas admirar cada detalhe da minha Bella.

Quando a pequena não estava comigo, estava com as enfermeiras e era o momento em que eu mexia no telefone, usava o banheiro, andava pelo quarto ou comia algo.

Joaquín estava adormecido em uma poltrona, Gustavo havia ido para casa dormir e eu me encontrava assistindo ao jogo de ontem do Palmeiras no celular, chorando por conta da virada. Foi realmente muito emocionante.

— chorando, né? — a voz de Jazmín soou no ambiente, me assustando de imediato.

— caramba, Jaz! — eu exclamei.

— me perdoa. — ela gargalhou. — como você está?

— estou... bem. — suspirei fundo.

— não está, mas eu vou te ajudar, prometo. — ela deixou um beijo na minha testa. — você já dormiu hoje?

— não e nem quero. Dormir só vai me fazer perder a melhor parte da maternidade. — eu dei de ombros e minha cunhada me encarou incrédula.

— você vai ter a vida inteira para ficar com ela, vai descansar mulher!

— não é só esse o problema. As enfermeiras entram e saem do quarto à todo momento, não posso dormir nem que se quisesse. — bufei. Estava estressada, confesso.

— dorme, qualquer coisa eu estou aqui. — ela insistiu e eu acabei cedendo. Precisava mesmo descansar.

[...]

— Becca...? — uma voz familiar me chamou. Uma de suas mãos me chacoalhava levemente e eu abri os olhos vagarosamente, tentando me acostumar com a luz.

— Dudu! — eu exclamei em um gritinho e o abracei, sendo retribuída pelo brasileiro.

— eu vim te ver. — ele esboçou um sorriso e eu fiz o mesmo. — fiquei sabendo que você passou por 9 horas de parto, e caramba, como você é forte!

— eu não sabia que era tão resistente, Bella veio para me mostrar isso. — ri fraco. — você precisa vê-la, é a cara de Joaquín! Os olhinhos dela são da cor de âmbar, o cabelo é clarinho... a única coisa que puxou à mim foi o nariz.

— eu sei, Joaco me mostrou ela através do vidro do berçário, muito linda!

— falando em Joaquín, onde ele está? E Jazmín? — eu questionei.

— Jazmín foi embora há pouco tempo, Joaco foi na sua casa buscar roupas para você porquê você e a Tche-tche vão ficar por mais três dias aqui. — ele respondeu e eu gargalhei do apelido que deu à minha filha.

— Tche-tche?

— sim, achei legal. — deu de ombros. — você já levantou dessa cama hoje?

— sim, levantei para andar pelo quarto... minhas pernas doem e o meu corpo está meio dolorido. — eu reclamei enquanto levantava da cama. Eduardo me ajudou a levantar e eu passei a andar lentamente no quarto.

— o Deyverson disse que não vai conseguir vir hoje, a filhinha dele adoeceu, mas Kuscevic e Rony estão por aqui. — ele avisou.

— por que a maconha é ilegal se ela é uma planta? — a voz de Kuscevic ecoou no corredor. Eu e Dudu caímos na gargalhada, afinal, a resposta era bem óbvia.

— vai se danar, Cu de Vidro. — dessa vez, era a voz de Rony.

— se dane você.

A porta do meu quarto foi aberta, revelando Benjamín, Rony e uma enfermeira. Ao me verem, os meninos abriram um sorrisão.

— As suas visitas, senhora Gómez. — a enfermeira informou. Eu assenti e esperei que ela se retirasse do quarto para ir abraçar os meninos.

— vocês são os melhores! — eu os elogiei por conta do jogo.

— e você é a mais foda. — Kuscevic dissera.

Eu passei o dia inteiro ouvindo que era forte, foda e resistente. Isso me deixava orgulhosa de mim mesma, porque me fazia acreditar que tinha uma força sobrenatural. Bella veio e expôs isso à todos, e eu fico feliz; tanto por isso quanto pela sua chegada ao mundo.

nós 3 - joaquín piquerezWhere stories live. Discover now