31 | Cúmplices

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Jimin sentiu o corpo retesar ao que o peito foi esmagado por uma dor profunda e que estilhaçou o restante das teias da inconsciência que o mantinham ali, preso a uma memória que se repetia e repetia e repetia e repetia.

Sem fim, sem paz e sem a calma que ele tentara ordenar a si que possuisse, que voltasse a ter controle do próprio corpo e segurasse aquela mão mais firme.

Ouviu o grito que escapou de sua garganta dezenas de vezes.

Viu o sangue coagular ao lado do corpo de Appa mais vezes do que poderia contar.

Viu Omma se debruçar sobre o corpo do marido despedaçado e a ouviu gemer, fugindo das mãos de sua irmã e de outros mortos que chegaram até onde estavam, mordendo sua derme e arrancando pedaço, sangue jorrando de seu corpo assim como os gritos, que cessaram assim que seu corpo caiu sobre o do esposo sem vida.

Sem vida.

A praia parecia ter despertado e tentava, de todos os modos, devorar a todos que ali estavam, os pés repousados na areia intocada enquanto os fogos de artifício coloridos se tornavam a trilha sonora de horror que Jimin mais temeria pelo restante de sua vida, fosse ela o quanto conseguisse prosseguir sem se deixar adentrar as trevas e provar do sabor da morte.

E Jimin continuava parado, parado aos prantos ao lado dos pais ao que gritava, ao que pedia perdão, ao que jurava que ia ficar tudo bem sendo que nada nunca mais ficaria tudo bem novamente, ao que chorava e chorava, sentindo a dor partí-lo ao meio ao que a cena se repetia e repetia e repetia, como uma ampulheta que não tinha fim, onde os grãos de areia se duplicavam e não deixavam com que o tempo se esgotasse.

Jimin gritou ao que a cena recomeçou, tentando impedir que seu pai seguisse com sua tia nos braços, mas falhando miseravelmente ao que todos passavam por si como se fossem um fantasma, um pequeno grão de areia que voou pelos ares.

E então tudo se movia e a vida perdia o som, Jimin implorando para o seu eu do passado segurar a mão de Woobin com mais força, para que fosse até os mortos que vinham até eles e os matasse sem dó ou piedade. Não eram muitos. Ele conseguiria. Ele conseguia.

ENTÃO POR QUE NÃO HAVIA FEITO ISSO? POR QUÊ?!

Por que havia o deixado morrer? Por que não havia corrido para longe assim que viu o que acontecera com seus pais? Por que deixou com que Woobin assumisse o controle?!

ELE SÓ TINHA QUATORZE ANOS!

Woobin tinha só quatorze anos, mas agiu como se fosse o mais velho, o mais sábio, o irmão que deveria se sacrificar pelo outro.

Jimin chorou, sua garganta doendo e os dedos se movendo pela areia ao que seus joelhos falharam e ele caiu na areia.

Viu a si mesmo correr com Jungkook.

Viu a dor em seus próprios olhos mesmo de longe.

Viu as mãos de Woobin tremerem.

Ele estava com medo e mesmo assim... mesmo assim fez o que fez.

Ouviu-o gritar.

Seu coração disparou e seu corpo retesou, os músculos se contraindo e a respiração falhando ao que despertou, os olhos arregalados encontrando o ambiente escuro e os lábios tremendo tanto que os dentes rangiam, choando-se uns com os outros em um som agonizante.

Sentiu o estômago afundar no corpo e o ácido amargo subir pela garganta. Levantou as mãos e acolheu o rosto, dobranco as pernas e apoiando os cotovelos neles. Puxou o ar, fez com que entrassem com força e se acumulassem em seu pulmão antes de expelir, soltando-o lentamente ao que repetia mais e mais vezes.

THE DEAD ARE BACKWhere stories live. Discover now