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E lá estava eu, no banco dianteiro do seu carro. Ele deu a maravilhosa ideia de deixar meu carro no estacionamento do shopping até o final da noite para evitar qualquer problema. Prefiro que nada e nem ninguém me impeça de ser feliz esta noite. Porque eu aproveitarei cada segundo.

Quando entramos no seu condomínio eu fiquei pasma, é enorme. Claro, já havia ouvido e visto coisas sobre o lugar. É literalmente uma cidade, com casas para todos os membros da família e muitos lugares para comer e beber. Com tanto lugar assim no próprio lar me faz ficar surpresa por ele ainda frequentar um shopping.

- Chegamos. - foi a primeira palavra que ele disse depois de termos iniciado o trajeto até aqui. Ele apenas parou o carro na lateral da rua e apontou para um pequeno estabelecimento preto com marrom. Tinha luzes ao redor e parece bem sofisticado por dentro.

- Será que alguém vai dedurar? Sabe, o bar-man... - perguntei ainda receosa, não é segredo que pessoas fazem qualquer coisa por dinheiro. E eu aposto que meu pai daria uma grana boa para quem desse uma informação desse porte a ele.

- Relaxa, somos só nós dois. O bar nunca tem ninguém. - me garantiu com um olhar reconfortante. Aceitei numa boa e o acompanhei até lá dentro. É estranho estar com ele.

Era incrível, luzes piscavam e o silêncio era bom o suficiente para não chegar a ser insuportável. Ele andou até o balcão central e mecheu em algo em uma gaveta. Em segundos The weeknd começou a tocar em um volume considerável.

- O que quer beber? - perguntou pegando duas garrafas de gin, imediatamente dei de ombros como quem diz "escolhe aí, vai." Não entendo muito sobre isso, sou mais de beber vinho. - Precisa provar o Bombay Sapphire então. - pegou a garrafa que estava ao lado esquerdo, com o líquido levemente azulado. Parece ser bem forte. Em segundos o rapaz colocou uma dose com tônica e limão. - Prove. - empurrou o copo em minha direção, ele estava do outro lado do balcão então me limitei a me sentar em um dos bancos de quem é atendido.

- Tá... - assenti ansiosa, minha boca salivando ao olhar o copo a centímetros de distância da minha boca. Quando o virei de uma vez, senti tudo que era tão difícil ficar simples demais. Senti o cheiro das raspas de limão adentrarem minhas narinas enquanto o sabor incrivelmente exótico explorava minhas papilas gustativas, mostrando o quanto havia gostado do sabor. - Meu Deus. - respirei fundo assim que abri os olhos depois de toda a ardência que aquilo causou, é tão forte que já me sinto eufórica e levemente tonta. O que é exatamente o que eu queria.

- Muito bem! - Suna ajeitou a manga da camisa comprida que usava enquanto saía de detrás do balcão. Ele mudou a música para Butterfly Effect do Travis Scott. - Vamos dançar.

Meu Deus, Suna tem um gosto musical completamente maravilhoso. Ele está no meio do bar dançando e pulando feito um maluco. Exatamente como eu faço quando estou sozinha.

- É assim que se faz, olha! - falei e pulei tão alto e rápido que fiquei tonta. A emoção de ouvir travis me deixa maluca.

E por um momento, pude ver suna parar de se remexer ao som da música e apenas me observar fazendo isso. Seus olhos não piscavam e era como se estivesse paralisado. Por um instante me senti da mesma forma, como se nossas respirações estivessem sincronizadas e tudo girando em volta dos dois. Meu Deus, o que é isso?

- Você sabe remexer, tenho que dizer. - confessei quando a música parou, ele sorriu como se eu tivesse dito algo muito engraçado. Em seguida colocou uma melodia calma e se sentou no balcão, tomei isso como uma deixa para o descanso.

- Isso fez você se sentir melhor? - ele soltou a pergunta sem nem olhar para mim, mas mesmo assim me senti observada. - Como foi ver um lado da vida sem aquele pessoal que tanto quer te ofuscar? - adicionou mais uma, e fiquei perdida em seu olhar que se cruzou ao meu. - Não devia deixar eles fazerem isso com você... - sua voz tomou um tom tão triste que fiquei com pena, e isso tudo é sobre a porra da minha vida. Eu devia sentir pena de mim mesma.

- Não é tão fácil assim, eles estão em toda parte... - argumentei olhando para o balcão tão limpo que brilhava. Uma estranha dor se alastrou pelo meu corpo, como se estivesse sendo perfurada por espetos de churrasco. Estou me sentindo mal. - Obrigada pela noite, eu realmente precisava. Me desculpa por todos os outros encontros terríveis que tivemos. - me deixei levar e sorri levemente, ele precisa saber que estou feliz com isso.

Depois disso, ele ficou me encarando como se estivesse analisando cada detalhe em meu rosto, seu rosto estava vermelho e os olhos brilhavam muito. Quando menos notei, também estava prestando atenção demais nele. Mais do que deveria. Minha nossa, o que estou fazendo?

- Por que você sempre procura apenas um comprimido para amenizar a dor ao invés de arrancar o problema pela raiz sem anestesia? - ele questionou um pouco mais alto, não sei se é o álcool fazendo efeito, mas ele parece um pouco alterado.

- Se fosse tão simples assim, nossa... - mumurrei sentindo minha cabeça doer, coloquei mais uma dose do gin puro no copo e virei. Sem frescura. - Eu dependo deles para tudo. Ficarei sozinha se me revoltar igual uma adolescente de doze anos. - revirei os olhos já não tendo nenhum controle. A bebida já assumiu essa parte.

- Eu jamais deixaria... - suna iniciou meio alterado mas interrompeu a própria frase. E entre um suspiro cansado ele disse: - Melhor eu te levar para casa, amanhã você arranja um jeito de pegar seu carro. - Levantou do banco pegando no meu ombro para me ajudar a levantar.

Um sorriso me escapou, talvez seja o álcool, talvez não. Olhei pra ele de relance querendo que isso nunca acabe. Quero viver um dia igual esse pelo resto da minha vida. Não sei quando serei tão feliz assim novamente.

- Não posso ficar mais um pouco? - perguntei quase chorando. Não sei por qual motivo estou fazendo isso, praticamente implorando de joelho.

- Só mais um pouco. - ele aceitou com um olhar mais triste do que antes. Se sentou ao meu lado no balcão e puxou minha cabeça para apoiá-la em seu ombro. Meu Deus. O que é que está acontecendo? - Quero ser seu amigo, [Nome]. - sua voz doce ecoou na minha mente como minha música preferida. Teve o mesmo efeito. Foi um pedido de amizade mas parece algo muito mais profundo. - Quero isso porque somos iguais, te ajudar me ajuda também. - explicou e senti meu coração bater muito rápido, não olhei para ele. Apenas continuei ali.

Nunca tive um amigo, pelo menos não um de verdade. Sempre estive rodeada de pessoas com interesses diferentes dos meus, que queriam tudo menos minha amizade sincera. Nunca me senti tão segura com alguém quanto me sinto agora com o cara que pensei ser horrível. Ele me mostrou alguém que reside dentro de mim que eu não fazia ideia que existia, eu posso trazer ela a tona.

- Obrigada. - foi o que consegui dizer durante os vários minutos em fiquei encostada em seu ombro. Estou grata por ele querer seu amigo. Mesmo eu sendo essa pessoa maleável e terrivelmente estúpida.

Eu dormi em seu ombro, o álcool ajudou bastante para que eu não acordasse durante o trajeto de volta até minha casa. Pois, surpreendentemente, ele conseguiu ir até lá e me colocar no meu quarto. Os seguranças deviam estar aproveitando a noite de outra forma, só pode. Quando acordei, tudo que rolou na noite passada passou como um flash rápido na minha cabeça, quando notei eu estava com um sorriso no rosto. Não me lembrava qual tinha sido a última vez em que acordei sorrindo.

Ao olhar para os lados, procurando por algum vestígio que mostrasse que ele realmente esteve no meu quarto para me deixar em segurança, encontrei uma única coisa deixada por ele.

Um número. Uma mensagem.

𝐌𝐎𝐑𝐄 𝐓𝐇𝐀𝐍 𝐓𝐇𝐈𝐒, suna rintarouWhere stories live. Discover now