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- Me solta! O que acha que está fazendo, seu idiota? - repuxei meu corpo, mas obviamente ele é bem mais forte do que eu. Ele estava com o olhar mais assustador que tive o desprazer de observar. - O que vai fazer, seu doente? - questionei em lágrimas, mesmo que eu morresse de gritar aqui, meus pais nunca entrariam para intervir.

Kei subiu em cima de mim assim que me colocou deitada na cama, depois disso foi só ladeira abaixo. Ele socou meu rosto, puxou meu cabelo com tanta força que saíram fios enrolados em sua mão, puxou minha orelha e mordeu minha mão também. Esses surtos pioram cada vez mais.

- Me solta, por favor... - gritei entre soluços, ele estava agora chorando e pedindo desculpas. Como faz isso depois que já estou só o lixo? - Vai se foder, seu maníaco de merda! - cuspi na cara dele e o chutei assim que ele colocou as mãos no rosto.

- Me desculpa, eu não... - as lágrimas desciam desesperadamente pelo seu rosto enquanto descia sangue da minha orelha e mãos. Ele arranhou e mordeu tão forte que está sangrando. - Meu amor, você me fez... desculpa. - implorou quase ficando de joelho no meio do meu quarto.

Meu rosto esquentou, odeio quando ele me bate assim, mas odeio mais ainda quando ele finge arrependimento. Odeio mais ainda quando ele tenta dizer que eu fiz por merecer. Babaca.

- Eu te odeio, sempre vou odiar. Seu desgraçado, você vai queimar no inferno. - o olhei com desdém e abri a porta do meu quarto, correndo logo em seguida para a cozinha onde está a única pessoa que se importa comigo nessa casa.

A Luana é a mulher que faz nossa comida, eu a chamo de Lu porque ela cuida de mim desde criança e é a figura materna mais próxima que posso sonhar em ter.

- Lu... - cheguei quase caindo na cozinha, seus olhos cor de mel rapidamente se viraram em minha direção e receberam um brilho de preocupação no mesmo instante. - Foi ele, de novo... - ela correu até mim e me segurou antes que eu desabasse. As forças das pernas estavam faltando. Antes que fique confuso: Se ela se preocupa tanto comigo porque não denuncia ou faz algo pra me ajudar? Simples, meu pai pendurou toda a sua vida com um acordo. É a única coisa que mantém a educação de seus filhos e comida em sua mesa, é claro que ela não acabaria com isso por mim. Ela não pode, nem se tentasse.

- Querida, se sente aqui... - ela me levou até uma cadeira na mesa de preparo. Ela estava muito preocupada. De repente me arrependi de ter vindo aqui. - Aquele... - a mulher ia se referir a kei com certo ódio na voz mas reprimiu as palavras. - Vamos limpar isso aqui.

Bom, ela fez curativos onde fica o furo do meu brinco na orelha, que foi onde ele apertou com tanta força com as unhas. Minhas mãos foram limpas e passei um remédio para limpar melhor. Ele mordeu a área. Minhas pernas estão roxas pelo peso dele. Meu rosto está arranhado e cheio de hematomas. Caramba, eu estou acabada.

- Obrigada, lu. Preciso subir, não quero que meus pais me vejam assim. - iniciei meio envergonhada, é óbvio que eles escutaram tudo, mas mesmo assim não quero passar essa vergonha. É o cúmulo do ridículo.

- Eu sinto muito, meu amor. Tudo isso vai acabar, acredite. - ela pegou no meu ombro e me lançou um olhar de mãe conselheira. Fiquei com vontade de chorar porque nunca vai acabar, não importa o quanto eu acredite. - Ele vai receber o que merece e você encontrará a felicidade. - uma lágrima escorreu do seu olho esquerdo, ela realmente se preocupa comigo. Sorri levemente e soltei sua mão, caminhando devagar e com dor de volta até meu quarto.

Tudo em mim está doendo, parece que apanhei de três pessoas ao mesmo tempo. De todos os eventos em que kei ficou assim, nenhuma vez se equipara a essa. E olha que não teve motivo algum.

Bom, fiquei o dia inteiro enfiada no meu quarto, debaixo de duas cobertas e chorando muito. Claro que meu pai nunca deixaria eu ir pra faculdade desse jeito, e eu não iria nem se pudesse. Ele até pediu para um amigo médico lhe dar um atestado de uma semana, se não sumir todas as marcas até lá, terei que ficar mais tempo "doente".

Tarde da noite e eu estou assistindo um filme não muito culto. Mesmo prometendo a mim mesma que sou alguém de cultura. Só quero me distrair. As mensagens chegam uma atrás da outra, todas de kei. Desde a tarde ele não para. Achei que ele viria até aqui mas parece que meu pai não o deixou subir.

Primeiro ato paternal legal. Oba.

Olhei meu celular para limpar a barra de notificações e notei que um número não muito familiar havia me mandado algo. Um gif de Michael Scott, personagem de uma sitcom chamada The Office, dançando muito animado. Só pode ser ele. Bom, Suna mandou outra mensagem sem eu nem ter respondido a primeira, acho que me viu online e quis chamar atenção.

"Sua casa parece bem maior de perto." - Confesso que congelei quando li, até parece um psicopata obsessivo me seguindo. Mas acho que ele nunca veio na minha casa pra saber disso, então deve estar só imaginando. - "Seu pai parece menos corajoso agora, considerando que ele faz questão de sempre mostrar o quanto sua residência é bem protegida. E olha só, eu entrei sem nenhum esforço. Juro."

Eu sorri um pouco, mesmo estando muito assustada por dentro. Ironicamenten, por um segundo me senti tranquila desde que acordei pela manhã. Me sinto leve. Meu pai errou em uma das coisas que mais se gaba, realmente vacilou nessa. Em toda festa ele grita falando que os seguranças nem dormem.

"Parece mais ainda se eu te contar que os seguranças de óculos escuros estão na realidade dormindo?" - escrevi sem ligar, no momento foi isso que me fez esquecer da manhã terrível que tive. Vou me agarrar a qualquer coisa que parecer benéfica. - "Cuidado com os arbustos, também são falsos." - completei sem ter coragem para ir até a janela e olhar se ele realmente está lá. Talvez seja só um brincadeira.

"Aparece aí, [Nome]. Preciso te ver, ouvi rumores e vim saber a verdade." - enviou juntamente com uma figurinha do shrek.

Fiquei recosa, não estou acostumada a conversar com Suna Rintarou. Pelo menos não conversas calmas e normais como essa. Ele anotou o número dele em um papel na noite passada, então como foi que ele mandou mensagem primeiro? Só pode ter achado meu contato em algum lugar.

Esquecendo isso, fui até a janela em passos calmos e arrastados. Está frio e minhas pernas ainda doem um pouco. Kei é musculoso e bem pesado.

Quando coloquei o rosto pra fora da janela, não notei nada de início. Olhei em tudo, arbustos e atrás das árvores. A mansão Halpert é cercada por uma floresta um pouco afastada da cidade. Não é muito coisa. Ele não está lá, só se for invisível.

"Mentiroso. Sabia que não tinha como você entrar aqui." - digitei rapidamente, sem tirar os olhos da floresta. Sinto uma sensação estranha. Sempre sinto quando olho para lá.

- Como assim? - uma voz me assustou, era Suna. Ele estava subindo em uma escada exatamente abaixo da minha janela. Eu estava olhando para frente, não para baixo. Se fosse um assassino eu estava ferrada. Ou melhor, morta. - Ei. - quando ele terminou de subir, estava de frente para mim, ficando distante apenas pela barra da janela. Eu não tenho varanda, ou uma daquelas áreas confortáveis para relaxar. É só uma janela.

Ele não esperou nenhuma resposta ou reação, já foi entrando de imediato no meu quarto. Fui empurrada levemente para o lado. Suna parecia assustado, surpreso e com raiva. As emoções em seu rosto estavam todas misturadas de uma vez só.

Ele se aproximou de mim, sua respiração batendo contra meu rosto. Sua expressão indecifrável.

𝐌𝐎𝐑𝐄 𝐓𝐇𝐀𝐍 𝐓𝐇𝐈𝐒, suna rintarouWhere stories live. Discover now