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Acordei mais dolorida do que me recordava noite passada, o quarto estava bagunçado e a janela estava aberta. Mas eu tenho certeza que a fechei ontem a noite. Suspirei com sono enquanto tentava manter meu olhos abertos para despertar de vez. Em segundos fui direto ao banheiro, se eu não jogar água na minha cara imediatamente, durmo até o mundo acabar. Aproveitei e tomei um banho, para vestir logo em seguida uma roupa leve. Já que não pisarei fora de casa tão cedo.

Quando voltei do banheiro, notei algo surpreendente que me deixou sem reação. Tem a porra de um litro de whisky na minha mesinha ao lado da cama. Quem colocou lá? Me aproximei meio receosa, essa merda está aqui totalmente exposta e poderia ter sido vista por qualquer um que entrasse no meu quarto. Eu estaria extremamente ferrada, em níveis inimagináveis. Observei que havia um pequeno papel ao lado, aproveitei e o peguei para ler.

"Não beba muito rápido. R.S."

Foi suna, ele deixou isso aqui. Mas porquê voltou depois que eu dormi? Será que saiu só para ir comprar? O sorriso no meu rosto se abriu e não quis mais sumir, estou feliz porque alguém fez um gesto legal e que realmente vai me fazer bem. Ri mais ainda de sua assinatura, não parece muito a cara dele. Achava que ele usaria tudo em um bilhete, menos o sobrenome.

Fiquei pensando onde colocar a maravilhosa garrafa de felicidade, por fim achei um lugar infalível. Onde ninguém procura, nem mesmo a Mitis que limpa aqui todo dia. A caixa de descarga do vaso sanitário me parece a opção mais viável, tem uma tampa que posso abrir para colocar o whisky lá. Tudo bem que pareça nojento, mas é um local provisório. Quando eu tirar o lacre eu a coloco em outro lugar.

- [Nome]? - a voz de Mitis ecoou atrás da porta, ela está no meu quarto. Provavelmente já é para o limpar, preciso sair sem parecer uma fugitiva da polícia. - Seu pai exige sua presença no escritório dele. - ela anunciou formalmente assim que eu abri a porta, seu olhar revelava que algo havia saído dos trilhos. Meu Deus, o que aconteceu dessa vez? - Vou aproveitar e limpar o quarto, tudo bem? - ela perguntou educadamente, é um doce de pessoa. Pena que trabalhe para pessoas tão desprezíveis assim.

- Claro, obrigada Mitis. - agradeci com um sorriso, ela sempre é legal comigo e me trata super bem. Gosto muito dela. - Com licença, mas você acha que é algo ruim? Digo, ele estava carrancudo? - a interrompi quando ela pegou a vassoura próxima a um balde do lado de fora do quarto. Estou nervosa e ansiosa pelo o que me espera. Preciso saber.

- Bom, ele parecia um pouco. Houve uma discussão hoje cedo, mas não ouvi nada. Desculpa. - ela se justificou desesperada como se eu fosse brigar ou algo do tipo. Parece assustada, e obviamente ela escutou tudo.

- Obrigada, bom dia. - agradeci novamente e me virei para ir em direção às escadas, já que o escritório fica próximo à biblioteca e a sala de conversa. Quando cheguei na sala, minhas mãos suavam tanto que achei que estava no deserto. A porra da casa é climatizada. Estou nervosa demais além da conta. - Bom dia, pai. - falei quando bati e entrei em seu local de "trabalho". Ele não faz nada aqui, só fica aqui dentro para parecer ocupado. É o que ele faz para fingir que não tem tempo para a esposa e filha.

Ele me observou entrar e me sentar em uma cadeira de frente para ele, com a distância apenas de sua enorme mesa de vidro escuro. Seus olhos estavam inexpressivos mas mesmo assim sei que está com raiva, ele não consegue esconder isso de mim. É como ele fica sempre que estamos no mesmo cômodo. Abri os lábios duas vezes tentando falar algo mas nada saiu, não consigo iniciar uma conversa com meu próprio pai. Somos estranhos um para o outro.

- O que você tem a dizer sobre essas marcas de agressões? - ele foi quem iniciou o assunto, perguntando logo o que menos pensei que seria mencionado. - O que fez para merecer? - não esboçou nenhuma expressão, que merda ele está pensando? Ninguém faz uma pergunta dessa.

- Nada. - respondi sem enrolação. Não quero dar detalhes. Eu não fiz nada e ponto.

Ele inclinou a cabeça para o lado, como se tentasse mostrar que sabia que eu estava mentindo. Mas não vai conseguir, porque eu sei que estou completamente certa. Ele não sabe de nada.

- Conta outra. O que fez? Tranzou com alguém ou estava nua em uma festa? Não sei, me conta logo. - desistiu como se não soubesse de mais nada. Mas por que fez essas sugestões totalmente sem noção? - Ninguém bate assim em alguém se não tiver um bom motivo.

Minha cabeça rodou, ele não está dizendo isso. Por favor, por que meu pai é assim? Eu queria muito saber.

- Kei é um doente, me bateu porque não consegue aceitar que o odeio com tudo que tenho. - respondi tirando um pouco da pressão em minha garganta, me senti estranhamente mais leve. Ele vai escutar o que deve.

- Você não pode odiar ele. - o homem na minha frente riu da situação, como se fosse discussão de criança. - Pare de birra, ele é o seu noivo e futuro pai dos seus filhos.

- Prefiro morrer a ter um filho dele. Eu o odeio e não quero que meus filhos tenham um pai tão boçal. - falei dando de ombros, meu pai quase caiu da cadeira. Acho que nunca deixei minha raiva aparente. Sempre fingi o amar com todas as minhas forças.

Mas graças a uma certa motivação, estou demonstrando tudo.

- Você está maluca? Se os Tsukishima sonharem que você está rejeitando o filho deles, vamos ficar sem o seu apoio! - gritou tão alto que senti lá dentro da cabeça. Seu rosto ficou vermelho e parece bem zangado agora. - Bote na sua cabecinha vazia que mulher só serve para procriar e aparecer diante das câmeras. Vocês só precisam gerar novos herdeiros para nossa família continuar existindo, é tão difícil assim ter que dar essa vagina nojenta? - ele se levantou da cadeira e praticamente cuspiu isso tudo na minha cara. Se antes tinha nojo do meu pai, agora tenho cinco vezes mais. Que babaca. - Você só tem que abrir a porra da sua perna e esperar calada, sem fazer nenhum barulho feio e nojento.

A essa altura, eu já não estava bem das ideias. Ouvir meu pai falando todas essas idiotices me fez querer voar em cima dele e bater na sua cara feia até pedir socorro, mas optei por falar umas poucas e boas.

- Quem vocês pensam que são? Acham que temos que aceitar e receber o pau sujo e fedorento de vocês na nossa cara? Ah, vá se fuder! Kei é um lixo que nunca me deu satisfação, se é isso que quer saber. - gritei me sentindo nas alturas, estou falando o que penso e sinto. Não ligo para a cara de cu que ele está fazendo nesse exato momento. - Vocês falam tanto de gemidos lindos e finos, até parece que querem tranzar com uma criança. Seus doentes do caralho! Estou cansada de vocês que se acham no direito de impor algo, inúteis de merda. - empurrei sua mesa e me levantei, meu querido pai só me encarava como se estivesse vendo algum animal estranho.

E talvez esteja mesmo.

- Quem você pensa que é para falar assim com seu pai? Você tem absolutamente tudo o que quer, por que não pode obedecer a única coisa que exigimos de você? - perguntou tentando parecer uma vítima, que vagabundo.

- Meu pai, é isso que você acha que é? Seu misógino de merda! - gritei sentindo a raiva se alastrar cada vez mais pelo meu corpo. Minha cabeça dói tanto que sinto vontade de bater ela contra a parede. - Você é um velho egoísta que não tem consideração por ninguém e que quer se sentir no topo de tudo. Talvez esteja tentado desesperadamente compensar por algo que aconteceu em sua infância, seu desgraçado. - revirei meus olhos já estando completamente irritada com essa situação. - Bom, tenho certeza que tenho algo mais útil para fazer. - me virei para sair de sua sala fedorenta. Fumante vagabundo.

- Sua vadiazinha, pode se revoltar a vontade, nunca sairá daqui. Está marcada para sempre, é propriedade dos Halpert e dos Tsukishima. Putinha barata. - sua voz tomou um tom totalmente diferente para mim, era nojento e mais asqueroso do que todos que já ouvi. Minha nossa, ele é o pior.

Tentei parecer forte na frente dele, mas ao chegar no meu quarto, desmoronei..

𝐌𝐎𝐑𝐄 𝐓𝐇𝐀𝐍 𝐓𝐇𝐈𝐒, suna rintarouOnde histórias criam vida. Descubra agora