seventeen

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Acordei atordoada ao ser carregada de qualquer jeito por dois homens, aparentemente eu estava entrando na minha casa. Eu reconheceria esse maldito lugar até se perdesse a memória. Quase que automaticamente comecei a me tremer, odeio essa casa e não consigo nem imaginar o que vão fazer para que eu pague por toda essa situação que causei. Estou com medo.

Minha vista demorou um pouco para se ajustar á luz do enorme salão, mal abri os olhos e fui jogada no sofá da sala. Como um pedaço de lixo. Minha cabeça rodou e pedi para algum milagre acontecer, um dia e eu já me acostumei totalmente com aquela vida tranquila na praia.

- Veja quem chegou. - meu pai saiu se seu escritório com uma expressão estranhamente animada. Meu coração gelou de tanto medo. - Está se sentindo bem? Aquele canalha fez algo com você? - veio caminhando em minha direção com um olhar desesperado, até se parece com um pai de verdade. É estranho. - Mas ele está morto agora. Eu sou o novo candidato a prefeito, querida, nós conseguimos. - sorriu e uma lágrima escorreu de seus olhos, o que no mesmo segundo me deixou de cara no chão. Definitivamente tem algo errado.

- O que? - não queria falar, mas foi preciso. Preciso saber de que merda ele está falando. Como assim vai se candidatar a prefeito?

- Fizemos um acordo com a família Suna. O filho deles está desaparecido, praticamente dado como morto. E você foi sequestrada por ele mas conseguiu escapar. - explicou me fazendo ficar tão surpresa que tive medo de infartar, que merda é essa? - Seu casamento com Tsukishima Kei deve ocorrer daqui a algumas semanas, nossas empresas serão administradas por seu marido. - adicionou sorrindo e senti minha cabeça pesar só de observar a cena. Casamento? Como a família Tsukishima ainda está nos apoiando depois de tudo? - Eles estão em meu total controle agora, dessa vez é definitivo. Eles querem dinheiro, [Nome]. - concluiu como se tivesse lido meus pensamentos.

- Não pai, por favor. - implorei de forma disciplinada. Estou desesperada. - me deixe voltar, eu juro que não volto para a vida de vocês. Por favor... - perdi a sanidade. Não achava que podia ser feliz e da noite para o dia vivi isso, definitivamente não quero voltar para essa vida. Mas agora é impossível, sei disso só por observar a expressão de meu pai. Ele está sorrindo escandalosamente. Cara de que nunca vai me deixar pisar o pé fora de casa novamente.

- Querida, já chega. Converse com sua mãe, você poderá escolher tudo em seu casamento. Quero que seja feliz com seu marido, eu te amo. - sorriu vindo em minha direção provavelmente para me dar um abraço, mas que outra coisa eu poderia fazer além de correr? Eu fiz isso. E afirmo que não deu nada certo. Fui até a porta para tentar fugir mas um dos seguranças me golpeou com um taser. A dor foi infernal.

Fui carregada para meu quarto em estado de choque, literalmente. Não achei que algo podia doer tanto, mas doeu. Tanto que achei que nem viveria para contar história. Agora estou vendo esse lugar depois de dois dias e não o reconheço. Não tem meu cheiro. Não parece comigo. Não quero estar aqui, então começo a chorar no mesmo segundo. Pois, aparentemente, essa é a única coisa que vou fazer pelo resto da minha vida.

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A primeira semana foi ruim, tive que tentar me adaptar a minha vida de sempre, mas que agora parece totalmente desconhecida. Precisei fingir estar derrotada e tratar kei como sempre o tratei. Sim, eu planejo fugir daqui novamente, só não sei como. Preciso entrar em contato com Rintarou para que isso aconteça, e não faço ideia de como fazer isso.

Entrei de cabeça nos planos para o casamento, não estou fingindo muito interesse pois acho que iriam perceber. Estou sendo a [Nome] que sempre fui. Medrosa pra caralho. Não quero estragar o que nem sei se vai se realizar. Então preciso seguir firme. No início da semana mandei um recado na rádio, sei que é bem antiquado mas foi o que pensei que poderia funcionar. Mas até agora nada. Falei em códigos, claro.

Depois de amanhã é sábado e vou tentar chamar kei para ir ao shopping. Combinei de me encontrar com Rintarou lá. Bom, no recado eu praticamente marquei um encontro com ele, então espero que ele tenha entendido. Será se ele vai aparecer? Não sei. De repente ele pode nem ter contato com rádio. Ou pode pensar que desisti já que tenho essa fama de medrosa.Vai saber, né? De qualquer forma, vou fazer o possível para ir até lá, ele estando ou não. Tenho que tentar.

- Filha, qual daqueles dois fotógrafos você vai escolher? A agenda deles está fechando, temos que combinar logo. - minha mãe entrou educadamente no meu quarto, parou por dois segunds em frente a porta pois a mesma estava sempre aberta já que foi um pedido do meu pai.

- A Abby, por favor. - fingi estar anotando algo, espero que ela não me pergunte o que é pois não tenho uma resposta boa o suficiente. Olhei para ela como se estivesse prestes a chorar, não sei, acho que isso é bem a cara da antiga [Nome]. Ela precisa entender que tudo o que menos quero no mundo é me casar com Kei. Não é tão difícil fingir o que realmente é o que eu sinto.

- O que tanto escreve? - perguntou se aproximando curiosa até demais. Ah, merda. O que vou dizer? Ela parece ter expectativa e não faço ideia do que espera que eu responda. Um cartão, um diário?

- Meus votos de casamento. - não tive tempo para pensar em uma resposta melhor. Essa apareceu e decidi que seria ela. Sim, teremos votos e falta menos de uma semana e meia para o casamento. Acho bom estar fazendo isso agora. Faz sentido. - Relaxa, sei que não posso escrever o quanto odeio Tsukishima Kei. - a tranquilizei com uma voz não muito amigável, seu olhar estava tenso por pensar no que eu poderia estar escrevendo. - Você não sabe, mas curto escrever histórias onde meus personagens são muito felizes. Vou tentar me escrever assim. - adicionei puxando do fundo da alma algum tipo de sentimento para que uma lágrima descesse, e desceu. Eu não queria chorar, e sim gritar. Não sinto tristeza, ódio é o sentimento mais apropriado.

Ela saiu do meu quarto sem dar muita importância para o que acabei de dizer e eu simplesmente desabei. Ela simplesmente ingnorou. Sei que não posso esperar nada dessas pessoas, então porque me sinto tão magoada? Tão traída? Sim, essa desgraçada era para ser alguém a quem eu já deveria ter contado isso, era para ser a pessoa que mais amo no mundo. Dessa vez eu chorei apenas por puro ódio, é esse o sentimento que parece querer tomar conta de mim cada vez mais. Não gosto de odiar alguém, mas quando paro para pensar tudo o que minha própria família me causou, tudo o que eu sinto vontade de fazer é acabar com eles. Mas nunca farei isso, não da forma literal, sei que não conseguiria. Vou destruir o psicólogo deles, assim como fizeram com o meu.

Depois da onda de ódio e remorso, sinto tristeza e frustração. Tudo o que mais sinto é intensificado quando penso que ainda não tive nenhum sinal de Rintarou. Não posso passar mais tempo aqui, eu vou enlouquecer se ficar. Antes de conhecer ele como conheço agora, eu nunca pensaria em sair de casa. Iria ficar, triste pra cacete, mas ficaria. Eu não pensaria em mais nada além de obedecer. Eu teria medo.

Não entendo muito sobre o amor, ou sobre tempo, mas acredito que as horas costumam passar mais depressa quando começo a pensar nele. Acho que a ansiedade em ver ele traz isso. Ele parece um rádio que não consigo desligar, ecoando no fundo da minha cabeça.

Vou até o banheiro pois é o único lugar no momento em que posso pensar em Suna Rintarou em paz, ou melhor, com privacidade. Me sinto distante, é como se estivesse caindo em um espaço eterno, onde o tempo não é marcado com a contagem dos segundos e sim com lembranças.

E delas eu tenho milhares.

Confesso que não tive muitos momentos com Rintarou, mas os poucos que tive foram grandiosos. Capazes de fazer superar outros milhares de encontros com pessoas aleatórias. Como  pode alguém receber um pouco de amor e não querer sentir mais nenhuma coisa além disso? Acostumada com tão pouco que quando recebo o mínimo parece que não consigo mais viver sem. Não sei o que fazer, então penso em tudo que já vivemos até aqui. Poucas datas e ocasiões, mas que parecem mais longas que uma vida inteira ao lado das pessoas que chamo de família. É estranho e triste.

Desesperada acabo abraçando o travesseiro que levei comigo. Se ele pudesse, também me abraçaria apenas por dó, mas não abraça.

O dia continua caindo fora, enquanto eu estou no chão.

𝐌𝐎𝐑𝐄 𝐓𝐇𝐀𝐍 𝐓𝐇𝐈𝐒, suna rintarouWhere stories live. Discover now