nineteen

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Quando falei com Rin ontem a noite parecia que meu mundo inteiro estava com ele. Não senti mais nada além de solidão depois que voltei para a casa da minha família. Ele estava tão lindo e cheirava tão bem. Tive que me segurar para não passar horas em cima dele cheirando seu pescoço e o beijando. Quis muito fazer isso. Não sei o que é isso, nunca me senti assim com ninguém. Ele estava lá, me olhando com aqueles olhos maravilhosos desde que a gente tinha dez anos. Fico pensando em tudo o que poderia ter acontecido se meus pais tivessem simplesmente me vendido para a pessoa certa. Eu seria feliz. Eu conheceria o amor. Eu seria amada. Não tenho nenhuma dúvida sobre isso.

Sentada na cama do meu quarto, logo após ter provado uns vinte vestidos de casamentos, a raiva e ansiedade eram as únicas sensações que me mantinham ligada na tomada. Sei que deveria ter ido logo com Rin, mas meu lado ruim quis ficar só para roubar deles tudo o que roubaram de mim, ou pelo menos metade. Estou pensando em assaltar o cofre do meu pai na tarde do meu casamento. Sei que dinheiro não é nada para ele, mas vai ser muito para mim e Rintarou. Pelo menos por um tempo. Também quero sujar a imagem do meu pai, de alguma forma. Quero destruir suas chances de ser adorado pelas pessoas, algo que ele preza tanto. Se sente um rei quando as pessoas chegam aqui para o visitar por ser o candidato a prefeito mais relevante.

Passei o resto do domingo e a segunda feira inteira pensando sobre isso, sobre tudo que vou fazer com essa família. Minha mãe nunca foi nada na minha vida, tampouco fez algo para mudar minha situação. Então foi como se ela não existisse, como se fosse só um fantasma ao lado do meu pai o acompanhando em todos os lugares. Mas mesmo assim vou deixar alguma lembrança ruim para ela. Já para Kei, não posso lhe dar nada mais do que a solidão eterna, sei que se ele ficar sozinho por muito tempo irá se destruir por completo. E ele merece isso. Merece por cada pedaço meu que arrancou. Um belo filho de uma puta.

Respirei fundo após voltar do jantar em família, amanhã é o dia em que mais terei que correr contra o tempo já que o casamento é um dia depois. Vou fazer unha, massagem e todas essas coisas idiotas para ficar linda demais para casar com o homem mais sujo do mundo. Já passei para o papel tudo o que vou fazer. Essa tarde fui ao escritório do meu pai quando o mesmo havia ido para alguma reunião de campanha, minha mãe foi junto. Descobri a senha de seu cofre e o abri ansiosa demais para ver o que tinha dentro. Uma mala de dinheiro, uma carta e uma pasta de documentos. Fiquei em choque quando passei o olho em todos os papéis. Acho que sempre imaginei o pior do meu pai, mas nunca pensei em algo tão imundo. Tão feio e tão nojento.

Meu pai trafica pessoas, prostitui adolescentes.

Eu quis vomitar na hora. Quis fechar os olhos e apagar da mente tudo que li. A carta falava sobre como um amigo seu estava lidando com o comércio de pessoas na Inglaterra, dizia que em breve viria buscar outra remessa. O dinheiro não tinha destinatário, aparentemente, só estava lá. Os documentos apontavam para diversas viagens e recursos enviados para a América latina, com o intuito de traficar pessoas. De as manter presas para vender para pessoas que poderiam fazer mil e uma coisas com elas. Puta merda.

Por que ele guarda toda essa sujeira aqui? Na porra de um cofre não tão explícito que fica atrás de um quadro na porra do seu escritório. Burro. Idiota. Sujo pra caralho. Meu instinto foi tirar fotos com o celular que minha mãe me deu ontem para mandar atualizações sobre meu dia pra ela. Muitas fotos e gravei vários vídeos. Coloquei tudo na mesma posição e fechei o cofre. E antes da merda do meu casamento acontecer, eu vou pegar a porra dessa maleta e jogar tudo na Internet. Maldito asqueroso de merda.

Agora, minha terça feira estava uma bagunça. Já fiz unha e muitas mulheres mexeram em meu rosto e corpo. Me rasparam feito uma galinha e deixaram meu rosto muito macio depois de tantos produtos aplicados. Depois de tudo isso, ainda falta alguns detalhes como provar o salto e escolher um dos véus que minha mãe trouxe. É simplesmente a coisa mais entediante do mundo. A ideia de uma cerimônia sempre me agradou muito em filmes, mas agora não parece tão incrível. Talvez porque seja com Kei.

Voltando ao assunto da minha vingança, essa noite vou tentar achar alguma forma de contatar os amigos de Rin ou ele mesmo. Preciso descobrir seu e-mail para enviar as fotos e vídeos, não posso correr o risco de pegarem meu celular antes do casamento e verem tudo o que descobri. Acho que me matariam. Sim, sem dúvidas. Essa merda toda é de uma proporção inimaginável. É uma merda gigantesca.

- Filha, o que achou da depilação brasileira? - minha mãe perguntava ao longe enquanto eu estava nas nuvens com as mãos de alguém lavando meu cabelo delicadamente. Realmente estou gostando de algumas partes disso tudo. Não tenho mais nenhum pelo, me sinto tão estranha mas ao mesmo tempo tão bem.

- Gostei sim. É um pouco estranho não ter nada nesses lugares. - respondi de olhos fechados. Quero aproveitar o momento e fingir que não estou planejando destruir a vida dela e a do meu pai amanhã. - Vou querer fazer mais vezes. - adicionei puxando mais desse lado que ela acredita ser uma nova [Nome]. Calma demais. A que cansou de se debater feito um peixe sem oxigênio.

- Claro. Quando quiser surpreender seu marido, me mande uma mensagem e chamo uma das meninas para virem fazer. - a ouvi sorrir e imaginei sua expressão mesmo com os olhos fechados. Nesses últimos dias ela tem tentado ser uma mãe de verdade, até parece que não passei minha vida inteira sem receber um abraço dela. É engraçado. Sorri de volta. Devo parecer legal no momento.

A tarde passou muito devagar, e tive que aturar conversas tolas sobre o amor. Minha mãe acha que isso que nossa família tem se chama amor. A palavra mais adorada do mundo não significa porra nenhuma para mim. Odeio isso. Puta mentirosa. No fim de tudo, pela noite tive que procurar muito pelo meu quarto. Me lembrei que quando Rin me deixou aqui depois que fomos naquele bar em seu condomínio familiar, deixara um bilhete com seu número.

Fiquei maluca procurando, só para no fim me dar conta de que estava no fundo falso da minha gaveta que fica na mesinha ao lado da cama, guardo muitas coisas importantes lá. Chorei ao me lembrar do dia em que acordei e encontrei o bilhete lá em cima, me sentindo totalmente confusa por ter acordado em casa. Me senti tão segura mesmo que ele tenha entrado na minha casa sem ninguém perceber. E ler o bilhete me fez rir e chorar um pouco.

"Promete cuspir nas cabeças deles quando ousarem nos ordenar a fazer algo que não queremos? Promete nunca mais abaixar a porra da cabeça? Eu prometo."

Seu número estava logo abaixo. Mesmo feliz, tive medo de que ele tenha descartado o número quando a gente fugiu na noite do jantar. É a coisa mais provável do mundo.

Espero muito que não, se tiver jogado fora, não vou ter nenhuma outra maneira de enviar os vídeos e fotos.

𝐌𝐎𝐑𝐄 𝐓𝐇𝐀𝐍 𝐓𝐇𝐈𝐒, suna rintarouWhere stories live. Discover now