twenty one

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O dia tão esperado teve início com um grito desesperado da minha mãe, não entendi muito mas ao que parece o decorador da festa cancelou hoje cedo. Acho bom, assim o coitado não perde tempo fazendo algo que nem será admirado. Saí do quarto após a gritaria toda e desci para tomar café. E se na minha imaginação eu pensei que estaria tudo em ordem, fui fortemente atingida por uma realidade diferente. Tudo estava uma bagunça completa. Muitas mulheres caminhando por todo canto com panelas e bacias enormes. Minha mãe estava no sofá da sala mexendo no celular, parecendo totalmente diferente do que escutei minutos atrás.

- Desceu agora por quê? - ela questionou no instante que pisei no último degrau da longa escada. Seus olhos não me alçaram totalmente, pareciam cansados e distantes.

- Vim tomar café. - respondi meio óbvia como se o horário já deixasse explícito o suficiente. No mesmo instante ela me olhou como se eu tivesse dito a maior idiotice do mundo. - O que foi?

- Não é adequado comer no dia do casamento, fica com a barriguinha inchada. - ela simplesmente falou como se fosse normal. Esperei alguns segundos para saber se era brincadeira ou não, mesmo sabendo que minha mãe não é nenhum pouco fã de humor. - Estou falando sério, tá? Vê se bebe uma água e um pouco do chá que preparei. - apontou para a cozinha para que eu fosse buscar o chá e eu não tive nenhuma outra reação a não ser caminhar até lá. Não posso acreditar que ela realmente ache que não vou comer nada o dia inteiro. Mesmo se eu quisesse eu não conseguiria.

Entrei no cômodo e preparei um sanduíche natural muito rápido, várias pessoas estavam preparando lasanhas e outros pratos diversificados e nem tiveram tempo de olhar para mim. É muita comida.

- Eu não vou contar. - Luana sorriu ao me ver devorando o alimento em questão de segundos. - Que ideia feia de passar o dia sem comer só porque vai se casar. - sorriu mais uma vez mas dessa vez revirou os olhos. Sorri de volta e percebi que só vou sentir falta de uma pessoa nessa casa inteira. Lu sempre esteve comigo, em todos os momentos em que precisei.

- Obrigada. - agradeci antes de virar o copo de suco que coloquei no copo, em seguida caminhei de volta para o meu quarto. Preciso aproveitar os poucos minutos de paz que vou ter antes de toda a arrumação para a cerimônia.

Fiquei no quarto por umas três horas, ouvi música e até mesmo assisti um filme. Aproveitei para mexer em tudo com o propósito de achar alguma coisa que realmente valha a pena levar para a minha nova vida. Infelizmente não achei nada de muito valor, só coisas comuns e que não retratam nem um pouco da minha personalidade. Queria ter alguma lembrança boa, uma foto. Sei lá.

Mais tarde, como não teve almoço, tive que improvisar. Fui até a cozinha sem ninguém me ver e pedi algo para Luana. Comi todo o macarrão com queijo que ela me deu, acho que era o que tinha sobrado de uma receita que elas estavam fazendo. Em seguida descansei um pouco até alguém bater na minha porta. Não dormi muito, acho que cerca de trinta a quarenta minutos.

- Boa tarde. - assim que eu disse que estava aberta, o homem que eu menos esperava ver essa tarde apareceu na porta. Kei está tão cheiroso que consigo sentir aqui da cama, seus cabelos estão cortados e seu rosto tem um aspecto muito macio. Ele é tão jovem e em forma que o odeio. - A gente precisa conversar. - ele se aproximou e eu logo me endireitei na cama, o que será que ele quer? Não dar para esperar algo normal vindo dele. É o dia do nosso casamento. - Vim pedir perdão, por tudo que eu fiz. Quero uma nova chance, para dessa vez fazer diferente. - sua voz estava triste e seus olhos lacrimejando atraíram minha atenção. É um fenômeno raríssimo. - Sei que fui o pior homem do mundo mas estou disposto a mudar, eu te amo e prometo nunca mais te machucar de nenhuma forma. Quero te fazer feliz, quero que você não me odeie nunca mais. - Suas mãos encontraram as minhas assim que ele se sentou na cama. Seus olhos exalavam um sentimento tão profundo e enigmático. Não sei se está sendo sincero de verdade, e nem me importo se estiver sendo.

- Por que você faz isso? - abaixei minha cabeça e pensei nos sentimentos que estavam querendo aparecer, não posso surtar agora. - já vai me ter pelo resto dos nossos dias e ainda quer que eu te ame e te perdoe por destruir minha vida? - retruquei sem alterar muito a voz, quero parecer zangada e triste de uma forma normal.

- Estou dando uma chance de fazer com que o resto de nossas vidas sejam menos chatas, quero que seja repleta de felicidade e amor. Eu te amo! - apertou minhas mãos e eu logo as puxei, seu olhar estava tão focado em mim que tive medo de que ele conseguisse ler minha mente ou todos os sentimentos que estou sentindo.

- Onde está esse amor? Me mostra, pois eu não o vejo. Não o toco, não consigo senti-lo. - deixei escapar da minha garganta o que seria um suspiro de desespero. É o que quero que pareça que eu estou. Totalmente desesperada. - Eu juro que te amei, no início de tudo, mas você se certificou de pisar em cima de cada sentimento bom que eu tive por você. - deixei cair a lágrima mais forçada de toda a minha vida, tive que imaginar o cenário mais triste do mundo só para conseguir esse pequena gota escorrendo pelo meu rosto. E sim, um dia tentei e consegui amar esse homem que hoje odeio tanto.

- Você tem razão. Me desculpe. Espero de coração que ao longo dos nossos anos juntos você consiga ver minha mudança e pensar em me perdoar. Nós merecemos una segunda chance. - passou a mão pelos meus cabelos e fechei os olhos para tentar evitar deixar aparente toda a mágoa que estava sentindo. Seu rosto se aproximou até deixar um beijo em minha bochecha.

Não fiz nada. Fiquei parada com os olhos fechados até ele sair e fechar a porta, que foi quando eu fui até o banheiro só para limpar a parte do meu rosto que sua  boca acabou de encostar. Sinto tanto nojo que até arrancaria a parte do meu cabelo em que ele tocou, só não faço porquê ficaria estranhamente feia.

Nem tive muito tempo para raciocinar pois logo minha mãe bateu na porta e várias pessoas entraram no quarto. Depois daí foi só ladeira abaixo, arrumaram meu cabelo em um coque bem sofisticado e cheio de gel, fizeram uma maquiagem muito linda e me senti a mulher mais gostosa do mundo. Tudo isso antes de vestir o vestido de noiva e sentir a dor mais estranha que já havia sentido antes.

Depois de totalmente pronta, pedi um tempo para ficar sozinha mas na verdade só pedi isso para poder me ver melhor. E confesso que não deveria ter feito isso. Me emocionei ao me olhar no espelho, estou com o vestido de noiva mais lindo do mundo e não estou nada feliz com isso. Eu queria que a primeira vez que tivesse que usar uma roupa assim, fosse para me casar com o amor da minha vida. Confesso que já sonhei com esse momento igual nos filmes, mas nada disso faz parte de um sonho. E aprendi isso na marra.

Pelo menos vou embora com esse vestido e vou poder usá-lo novamente em meu casamento pra valer.

𝐌𝐎𝐑𝐄 𝐓𝐇𝐀𝐍 𝐓𝐇𝐈𝐒, suna rintarouWhere stories live. Discover now