- Chapitre quatre -

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Fotografias.

Nelas há coisas e pessoas que eu amo, algumas delas, infelizmente, não estão aqui comigo...

Até quando as pessoas irão me deixar vulnerável e sozinho nesse mundo infernal?

Deve ser minha culpa, como sempre.

Deve ser culpa das minhas decisões passadas.

Não consegui cumprir o que eu prometi a mim mesmo quando pequeno; não viver com arrependimento do passado e não ter medo do futuro.

Olho para a fotografia de meu pai. Meu falecido pai. Sinto muita falta dele, muita mesmo. Ele foi uma pessoa incrível, mas me deixou por conta própria, por querer me deixar.

Ele foi egoísta, mas deve ter tido seus motivos.

Desde a morte dele, nunca parei de fotografar. Isso, de alguma forma, eterniza tudo que já se foi.

Mas eu não tenho uma foto dela...

É interessante o jeito que sentimos algo sobre algo dependendo do nível de intimidade ou de importância que a pessoa tem em nossa vida. Sentimentos são estranhos e demonstram nossa sensibilidade, mas são tão necessários para nós.

Ao julgar pelo que sinto agora, é fácil notar que eu realmente gosto dela.

Enfim o amor

...

Tenho tanta coisa para fazer que minha cabeça está, de verdade, uma zona! É muito trabalho para um só eu.

Além de preocupações pessoais, o meu caso está indecifrável. O assassino deixou tudo limpo, obviamente havia planejado o acontecimento. Tudo que se via no local era resquícios de sangue da vítima e sentia-se um cheiro insuportável de carniça.

Observo ao redor já no interior do galpão totalmente vil e abandonado e uma aura percorre o lugar. Percebo que não só eu como todos os outros ali sentiram essa energia.

Assustador.

Odeio essa situação tanto quanto odeio essa sensação, mas não consigo não imaginar o que aconteceu. São tantas possibilidades.

- Quer um lenço? - Jorge diz em alto tom - O cheiro é insuportável. Você está até lacrimejando!

Ponho meu dedo indicador em um dos olhos e sinto uma água ao redor dele.

- Eu aceito sim - pego o tecido branco de sua mão e cubro meu nariz.

Céus.

Vejo uma corrente presa a parede descascada e alguns...alguns objetos de tortura por ali.

Fecho meus olhos tentando, novamente, não imaginar o que poderia ter acontecido.

Pergunto-me pela terceira vez no dia, como alguém consegue ser tão ignóbil a esse ponto? Como o assassino se sentiu em júbilo com isso?

Todos esses pensamentos me fervem o sangue, fazendo-me querer acabar com todo esse êxtase do má índole.

- Veja! - alguém grita - Um livro? - questiona mais para o objeto em sua mão do que para nós.

Tomo proximidade da garota - Lizie Spalon - que me entrega o livro grosso, vermelho e bem velho.

- Sobre o que é? - Jorge pergunta a mim.

- Não sei, há sangue nele, então precisamos descobrir de quem é para depois lavar.

- Tenho certeza de que esse sangue também é de Vitória, temos que saber de quem é o livro e se nele contêm alguma dica - ele vira para trás e segue até a saída - Vamos, Bernard!

- Está bem - sigo ele.

Ele entra em seu carro e eu entro no meu.

Seguimos de volta para a delegacia.

...

Chego em casa completamente destruído de cansaço. Não vejo o dia das minhas férias chegar!

Vou até meu quarto e faço minha rotina de sempre. Quando termino tudo, decido tomar um suco antes de dormir e acabo vendo a fotografia do meu pai.

Lembro-me o quão apaixonado por música ele era. Ele dançava com minha mãe pela sala e eu até consigo enxergá-los dançando pela sala enquanto eu ria.

Ele tinha uma forma diferente de se expressar seu amor pelo mundo e pela minha mãe. Era por músicas.

Ele escrevia para minha mãe e pedia ajuda ao seu amigo para fazer um ritmo e por em um disco. No final ficava incrível eu sempre amava.

Subo até o sótão e procuro por caixas onde poderiam estar os discos. Eram tantas que achei que era impossível encontrá-los em meio aquela bagunça e tanta poeira.

Mas achei.

Tinham vários e acabei encontrando a vitrola de madeira do meu pai.

Nostalgia percorre meu coração e sinto ele apertar em meu peito.

Fico encarando os discos na caixa e penso em Nitta. Penso que eu poderia me declarar para ela assim como meu de declarou para minha mãe.

Eu acho que deveria fazer isso. Mas como? Não teria como eu fazer isso, não mesmo. Mas eu daria um jeito.

...

Cheguei no colégio dela. É enorme, enorme mesmo.

Toco a campanhia e espero alguém abrir a grande porta e caminhar todo aquele caminho no gramado para me atender.

Fico feliz ao ver uma moça com roupas típicas de faxineira e bochechas grandes vir até mim.

Ela abre a grade e me olha de cima a baixo.

- Quem é você? - questiona.

- Ah... - respiro fundo - Bom, eu sou um primo de longe da Antonietta Vasconcelos. Vim até aqui para entregar uma caixa que ela acabou esquecendo com toda essa mudança - o jeito que ela me analisa me faz acreditar que fui convincente.

- Entendi - ela diz - Pode me entregar que eu avisarei a ela.

- Não precisa, ela já sabe que viria. Bem, o pai dela disse que ela havia esquecido e pediu para que alguém trouxesse. Ela sabe que eu viria porquê o pai dela a avisou - minto em cada palavra, mas resolvo fingir que não.

- Está bem, então deixarei no quarto dela - diz amigável e eu entrego a caixa.

- Obrigado.

- Não tem de quê - sorri e sai com a caixa nas mãos com certa dificuldade.

Eu consegui, mas acabei não pondo o remetente. Quero que ela descubra por si só, mesmo que demore a perceber.

Acho que contarei a verdade para a faxineira na próxima, ficaria estranho trazer essas caixas a cada um mês e dizer que Nitta esqueceu.

Eu espero que ela goste, além de músicas feitas pelo meu pai, eu encontrei músicas que ela gosta.

Vou embora feliz e orgulhoso de mim mesmo por ter conseguido - por não ter medo do pai dela, por alguma coisa ter dado certo na minha vida - asssim como meu pai ficava.

...

Simplesmente você
Seus olhos verdes
Sua voz doce e calmante
Me fazem viver à mercê

A vida não é fácil
Mas quando estou contigo
Tudo se torna mais grácil

Eu só queria deixar claro
O quanto você é especial
O quanto esse amor é raro
E mesmo assim tão real

- Meu amor, Bernard Park.





Mil músicas para AntoniettaWhere stories live. Discover now