- Chapitre douze -

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Sumiço.

Já sentiu aquela vontade de desaparecer sem avisar ninguém e simplesmente seguir a vida assim? Bom, ultimamente, é assim que eu tenho me sentido.

Eu estou feliz em ver minha mãe, principalmente depois de saber que ela está melhor e poderá sair do hospital daqui um tempo. Estou feliz em ver meu tio depois de anos. E estou feliz em estar aqui, na Itália. Mas, sempre há um porém.

Eu não consigo lidar com a falta dela.

Aquela garota que eu vi sentada me encarando enquanto eu fotografava tinha algo de especial e eu precisava saber o que era. Não me contive e perguntei se eu poderia tirar uma foto dela. Foi o dia em que nos conhecemos. Antonietta é uma garota linda, isso ninguém pode negar, mas não foi só isso que me chamou atenção. Quando eu pude olhar em seus olhos, senti algo diferente. Não é bem um amor à primeira vista, é como uma sensação de "não te conheço, mas sei que preciso urgentemente fazer isso". É como se eu soubesse que era ela o tempo todo.

Fora isso, o jeito tímido que ela tinha era engraçado. Ela não sabia que pose fazer para as fotos, mesmo eu pedindo para simplesmente agir como se eu não estivesse ali, para ela ficar alheia à câmera enquanto eu a fotografava. O rubor em suas bochechas era tão notável que parecia ser contagioso. Sempre gostei de fazê-la se sentir tímida só para ver aquele tom rosado em seu rosto.

As risadas contidas no começo mas tão escandalosas depois que finalmente ficamos mais íntimos. Aquelo som era maravilhoso que eu começava a rir sem saber o motivo, mas em parte ria da sua risada engraçada que, se alguém não soubesse que estava apenas rindo, iria ficar preocupado achando que está tendo uma parada cardiorrespiratória.

A empolgação ao me contar sobre os livros que acabou de ler ou sobre seus livros preferidos. Mesmo que ela ficasse chateada ao saber que eu não li o livro que ela pediu, amava ouvi-la contar a história, até porque não li de propósito só para ver sua animação em relação à literatura.

A insistência em me ver tocar piano. Não gosto de receber elogios, mas amo quando ela fazia isso. Às vezes, mesmo que já tivesse me visto tocar a música várias e várias vezes, ela costumava ficar encantada como se fosse a primeira. Mesmo que nem sempre ela me elogiasse, aquele olhar cheio d'água, dizia tudo que ela sentia.

Enfim. Eu sinto falta de tudo isso. Sinto falta de poder passar um tempo ao lado dela... Mas eu vou esperar. Além disso, ela é jovem, talvez não tenha certeza das coisas e eu tenho medo de me entregar para ela e depois não receber nada só porque ela "se cansou". Então, vou esperar até que ela cresça e tenha maturidade e certeza suficiente para tentar algo. Não posso perder o que já temos só por conta da pressa, além disso, o pai dela não permite... Ainda.

...

Depois de tanta insistência do meu tio, eu acabei indo comer pizza com ele na pizzaria de um amigo da família.

- Lembra da Verônica? - ele me perguntou enquanto dirigia o carro.

- A filhas dos Kurt?

- Ela mesmo.

Verônica Reis... Acho que seria bem impossível esquecer dela.

Eu costumava sempre brincar com ela durante o tempo em que vivi aqui na Itália. Eu sempre a chamava de cereja, e isso não só por causa do cabelo ruivo dela, mas também porque sempre que ela sorria, ficava tímida ou com calor, seu rosto inteiro ficava vermelho igual a uma cereja. Nós estávamos juntos em boa parte do tempo, eu sabia tudo sobre ela e ela sobre mim. Éramos melhores amigos. Chega até a ser interessante já que éramos melhores amigos, mas agora tudo está diferente...

- Claro que me lembro dela, por quê?

Ele sorriu e foi aí que eu me toquei. A pizzaria era da família dela, ou seja, ela provavelmente estará lá.

- Foi por isso que você insistiu tanto?

- É claro, inclusive, ela está mais linda do que já era, você vai ver.

E também tem isso. Por nossas famílias serem tão amigas, acabou que também que surgiu uma amizade entre nós como eu disse antes. Porém, eu nunca a vi como meus parentes queriam que eu a visse e eu acho que ela também não. Ela é linda, com os cabelos ruivos, olhos verdes, sardas mas bochechas e na testa, lábios que sempre estão vermelhos e ela também tem um corpo bonito, ou pelo tinha quando eu a vi pela última vez. A personalidade dela também é incrível. Ela sempre me fazia rir e a me sentir bem perto dela, mas eu ainda não consigo nos ver juntos em outro sentido, além disso, eu não vou ficar aqui na Itália para sempre.

- Tio, eu já te falei... - comecei, já sabendo de suas intenções. - Somos, ou éramos, apenas amigos, grandes amigos.

- Bernard, você, nessa idade, precisa de uma companheira. - O carro parou em um sinal vermelho.

Suspirei. Eu até quero ter alguém, mas não posso ter quem eu realmente quero. Não ainda.

- Mas eu já disse que não quero nada com ela. - Aquilo estava começando a me irritar. Desde que eu era pequeno eles queriam isso, mas agora que eu cresci, tenho certeza que posso tomar as minhas decisões e que já existe alguém para mim, eu só preciso esperar  mais um pouco.

- Ela cresceu e você também, irão se ver depois de anos, talvez, dessa vez, vocês sintam algo... - pude ver seu sorriso ladino para mim enquanto voltava a dirigir depois que o sinal abriu.

Como eu explico que já sinto algo por uma garota mais nova e que o pai dela tecnicamente me odeia? Como explico que, mesmo que eu tente, não há jeito de substitui-la? Como eu explico que eu não quero substitui-la?

Respirei fundo e olhei pela janela do carro, vendo a pizzaria se aproximando. Eu já havia ido lá várias vezes e ela continua a mesma coisa, assim como algumas lojas que estavam ali perto. O carro estaciona e meu tio abre a porta.

- Pelo menos tente, filho. - Ele disse em uma voz baixa, como se fosse um segredo íntimo para ficar só entre nós, antes de sair do carro e fazer sinal para eu segui-lo.

Não tem como tentar, tio. Ela já tem meu coração para fazer o que bem quiser com ele e eu não posso e nem quero sequer tentar fazer algo contra isso, pois é isso que eu sinto.

Eu me apaixonei por ela.

...

Eu ando e ando
Mas não chego a lugar algum
E eu continuo me perguntando
E se eu for só mais um?

É isso a insegurança?
Eu não quero ser só mais um
Mesmo que tudo vire uma lembrança
Não quero ser uma lembrança comum

Eu ando e ando
Mas ainda não chego a algum lugar
Me responda, por favor
Que no fim você ainda vai me amar

Eu estou inseguro
E tenho medo de você partir
Sem nem olhar para mim
Ou sequer se despedir

Então, eu não quero ser só mais um
Nem apenas mais uma lembrança
Porque se eu fosse só mais um
Com certeza, não te daria uma aliança.

- Você aceita? - Bernard Park.

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⏰ Last updated: Sep 10, 2023 ⏰

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