- Chapitre six -

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Negação.

É o primeiro estágio do luto.

Não, não estava em luto, só tinha medo de ficar, e por isso, negava o que acontecia ao invés de aceitar.

Por que tão difícil? O que eu fiz para merecer isso tudo?

Minha mãe está doente. Acho que a vida é assim, certo? Desastre atrás de outro, mas sempre com uma lição e luz.

Tudo estava dando certo, mas ontem, eu havia recebido a triste notícia do que aconteceu com ela.

Saí pelas ruas do colégio até minha casa, sentindo-me um pouco mais animado por simplesmente vê-la. Estava colhendo flores, um vestido azul como o céu, algumas mechas prendidas para trás e com aquele olhar inefável. Linda, como sempre.

Vou voltar para ver o meu amor quando for o dia de sua saída. Eu pretendo aparecer para buscá-la na porta do colégio, posso imaginar a cena, posso imaginar seu sorriso de orelha a orelha, posso imaginar seus passos até mim como se fosse uma prece. Nos abraçaríamos como se tudo estivesse perfeitamente bem.

Sorrio com a minha ilusão.

A brisa soprava em meu rosto e fazia-me esquecer de tudo, mas me lembrar dela.

Apesar do bom clima, nada ofusca o estado em que minha mãe se encontra. Ela teve infarto, está internada. Deveria ter me escutado quando disse que cigarro pode matar. Sua teimosia a torna única, mas me preocupa tanto.

E então, pensando nisso, sinto o sorriso desaparecer de meu rosto aos poucos. Tinha medo de perdê-la, perder a pessoa que mais me apoia.

Minha mamãe...

Irei visitá-la na próxima semana, já avisei a todos e espero que ninguém pegue a carta de Nitta. Sim, joguei uma carta no jardim do colégio enquanto as meninas estavam brincando.

Pressinto que será bom para mim viajar, declinar todos os pensamentos bagunçados de minha mente.

...

Gritos saiam daquela boca como cuspes. Eram palavras rudes, me davam dor de cabeça. Era inacreditável ver ele agindo como se fosse meu chefe. Tão tolo.

- Incompetência! - andava de um lado para o outro com uma mão na cintura e a outra na testa.vm

Oh, mas é claro, Jorge. Muita incompetência da minha parte ter como prioridade minha mãe.

- Tem ideia de como será difícil? - na verdade, sim, mas prefiro não me preocupar mais ainda.

Ele me encara, um fulgor é notável em seus olhos, talvez raiva. Raiva por eu sempre ser um filho perfeito, um sagitário perfeito, um amigo perfeito e uma pessoa perfeita, na visão distorcida dele. Quem me dera ser tão perfeito assim...

Não sou perfeito, mas a inveja o faz enxergar assim, por isso toda essa implicância com minha pessoa.

- Jorge, eu lamento, de verdade, mas ela é minha mãe e precisa do meu apoio - levanto da cadeira onde estava sentado e ouvindo cada letra desprezível.

- Ah, você lamenta? - seu timbre sarcástico me irrita - Uma pena, isso não nos ajuda em nada.

"Nos"? Quem está sendo contraditório aqui é ele e apenas ele. Todos daqui entenderam o meu motivo e desejaram melhoras para minha mãe, exceto ele.

Respiro, sorrio, dou um leve aperto em seu ombro e saio.

Ouço passos vindo atrás de mim, mas eles cessam assim que saio totalmente do local. Paz, finalmente paz.

Minha mente já estava em desordem demais para ter que ouvi-lo sendo problemático. Lá fora, tudo estava sereno, não havia vozes te pertubando com sermões.

Vou andando até minha casa, já que ultimamente meu carro não está em uso como antes, descobri que caminhar é muito melhor.

O sol brilhava com uma luz inata e o vento fazia as árvores balançarem vagarosamente. Com esse cenário a minha frente, era impossível não fotografar.

Tiro minha câmera DSLR da pasta de couro que sempre carrego.

Posiciono-me em um ângulo perfeito para que tanto as belas árvores quanto o fundo saiam na fotografia. Dou vários cliques e depois observo as imagens. Saíram perfeitas.

- Lindas - digo.

- Com licença? - uma voz um pouco grave e suave interrompe a minha apreciação da paisagem.

Viro para trás e vejo uma figura pálida, sem vida, eu diria. Era um rapaz, seus olhos negros eram a única coisas de cor vívida naquele corpo.

Suas vestes eram como as de um faxineiro ou algo assim, eram de tom azul, mas assim como seu rosto, não tinham vida também.

Fiquei com um certo sentimento de pena dele.

- Sim? - mantenho deferência a ele.

- Tenho algo a dizer para você - sorri, mas ainda continua como um cadáver.

- E o que seria?

Ele respira fundo e seu peito se torna proeminente ao seu corpo magro. Meus olhos estavam fixos nele, meu corpo não se movia. Alguma coisa nele me fazia paralisar. 

- Tudo dará certo, saiba disso - diz e me surpreendo - Aquilo que te pertence, nunca te deixará, mesmo com toda essa confusão.

O que me pertence?

Ele percebe minha feição em interrogação e se aproxima em passos lentos.

- Saberá do que eu estou dizendo. São inseparáveis, nada pode mudar isso. Mas não vacile e nem duvide, seu lírio azul espera por ti.

Ele sai, me deixando com dúvidas e igual um idiota no meio do passeio. Quem era ele? Por que cargas d'água ele me disse isso? Podia ser um homem bêbado ou drogado, mas não possuía cheiro ou evidências que comprovavam isso.

Eu estava paralisado, não havia tido nenhuma reação àquilo. A câmera em minha mão tremia e depois de um tempo na mesma posição, guardo-a para que não caísse.

Apesar do susto, o que ele me disse rodeava em minha mente. Quem ou o quê, exatamente, seria o meu lírio azul?

Não sei, mas resolvi acreditar nele.

...

Agradeço por te ter
Sem você, não sei como seria
Só de pensar nisso
Sinto minha cabeça arder

Você só pode ser um sonho
Impossível ser real
Daria de tudo para ter você
Para ver esse seu sorriso sem igual

Você é a dona dos meus pensamentos
Sempre surge em minha mente
Rezo para que tenha momentos
Em que te beijo avidamente

- Garota que me tem - Bernard Park.

Mil músicas para AntoniettaWhere stories live. Discover now