- Chapitre huit -

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Cansaço.

Ele vem me acompanhando desde...sempre, eu acho.

Nunca fui muito sociável, mas às vezes sinto falta de ter alguma companhia além dessa fadiga.

As duas grandes malas estavam abertas em minha cama, eu estava sentado no chão dobrando uma quantidade suficiente de roupas para alguns meses.

Eu queria, de verdade, não ir. Mas, é a minha mãe que precisa de mim, então não posso deixá-la lá.

Guardo tudo e me levanto.

Acho que a solidão sempre esteve do meu lado, mas acabei percebendo apenas quando não tinha ninguém para ocultá-la.

Rodo o meu quarto várias vezes até que escuto a campanhia tocar. Desço as escadas sem nem saber quem poderia ser, não esperava ninguém.

Abro a porta e me deparo com quem menos queria ver agora.

- Te vi visitando ela - era o pai de Nitta, Francisco Vasconcelos.

Respiro fundo e fecho a porta atrás de mim. Ele me analisa e eu faço o mesmo com ele. O cheiro parecia algo como pinga e estava impregnado em suas vestes. Ele usava uma calça cinza bem larga e uma camisa de botões listradas com seu óculos pendurado nela, obviamente não sabia como se vestir bem. A barba, dessa vez, estava feita e ele deixou apenas aquele bigode horrível de lembrança.

Vejo que segurava um cigarro na mão direita e o levava à boca com frequência. Ele continuava acabado.

Depois de minutos matando sua saudades de mim, ele resolve abrir a boca para então me irritar.

- Pare com isso - é surpreendente sua calma ao falar.

- Por que deveria parar?

- Se quer ela, demonstre que a mereçe - leva o cigarro à boca - Mas demonstre isto à mim. Fazer algo que não aceito com certeza não irá te ajudar a provar que estou errado, na verdade, mostra que você é mal educado, sem deferências. Pare de fazer o que quer, garoto. -  penso que ele se esforçou para   não me ameaçar ou algo assim.

- Se tivesse me dito isso no começo, poderia te levar mais a sério - começo - Mas, agora, suas palavras não tem efeito algum, até porquê irei embora.

Ele parece satisfeito com a última frase, mas parece refletir sobre a primeira também.

- Ótimo - diz se virando para ir embora - Quando aquela garota tiver idade suficiente, deixarei que ela tome as próprias decisões, então volte quando ela estiver maior.

Quando o vejo indo embora, solto o ar que estava prendendo. Parece que ele mudou, pergunto-me o que o fez mudar. Sendo o que for, fico feliz com essa mudança, sinto que ele pode, finalmente, ser não só um bom pai como uma boa pessoa.

Apesar disso, também me pergunto como ele soube do que eu estive fazendo. Será que ele visitava ela?

Com tudo isso acontecendo, prefiro não continuar em casa, então resolvo dar uma caminhada.

...

- É muito bom revê-lo, meu rapaz.

Não muito longe da minha casa, encontrei aquele homem novamente. Resolvi, é claro, conversar com ele. Eu queria muito esclarecer algumas dúvidas que surgiram depois daquele dia.

- Não lhe perguntei dá última vez, qual seu nome? - sento-me no banco ao seu lado.

Ele parece não se incomodar com minha presença. Reparo que ele veste roupas diferentes, mas parecidas.

- Antônio. E o seu?

- Bernard.

A brisa do vento pode sé ser ouvida por conta do silêncio. Resolvo o perguntar a primeira coisa quem vem a mente.

- Quem seria meu lírio azul?

Um sorriso de orelha à orelha surge em seu rosto.

- Alguém muito belo e especial. Alguém que transmite segurança a você assim como você transmite segurança a ela. Esse é o significado do lírio azul, mas o significado do amor de vocês não se resume em nenhuma texto, frase ou palavra, ele é muito mais que isso.

Percebe-se que Antônio é alguém de muitas palavras profundas, trazendo reflexões para todos que ouvirem tais coisas. Pela apetência, ele parece ser jovem - ao menos não um idoso- mas já sabe tantas coisas sobre a vida.

- Desculpa a pergunta, mas quantos anos você tem?

- Faço 46 mês que vem - enfim ele me encara e vejo que estava errado sobre sua idade.

Em minha mente, eu diria que ele teria uns 39, mas sua idade real me surpreende por essa sua aparência mais jovem.

- Feliz aniversário desde já, não se sabe se nos encontraremos novamente - sorrio amigavelmente - Por acaso sabe quem é o meu lírio azul?

- Sei sim, e você também sabe só não sabe disso ainda - rimos por conta da frase que saiu embolada - Vamos fazer um acordo?

- Que acordo? - viro o tronco para ele.

- Quando você descobrir de quem estou falando, contarei como sei de tudo isso, já que parece que você está bem intrigado em relação à isso.

- Certo, e quando irei descobrir?

- Por acaso sou vidente? - ele ri - Não sei, tudo tem seu tempo e nada muda isso. Quando descobrir, saberá onde me encontrar - enquanto ele fala a última frase, sua mão bate de leve no banco em que estamos, indicando que era ali que deveria vê-lo.

Levanto-me decidido a ir embora.

- Te vejo por aí, Antônio - digo o olhando uma última vez e saindo, dessa vez, deixando-o lá como ele fez antes.

Ando e ando até minha casa, sempre com a única questão que poderia pensar; quem é a pessoa que ele diz sobre? Eu conheço, mas não sei quem é. Pode ser qualquer conhecido, amigo, parente ou...ou ela. Tenho vários amigos a quem me preocupo e gosto muito, assim como tenho alguns parentes que sinto a mesma coisa. Mas, se for ela, seria diferente. Ela já deve até ter me deixado de lado, como se eu fosse apenas alguém que entrou e saiu de sua vida, deixando marcas de memórias que devem ser importantes para ela. Então não deve ser ela, pode ser alguém que eu já conheço, mas não tão bem, que vai voltar para minha vida. Sim, deve ser isso.

...

Quem seria você?
Alguém que me faria tão bem
Que gostaria de conversar
Que não conseguiria viver sem

Quem foi você?
Alguém que me mudou
Com um simples olhar
Apaixonado me deixou

Quem é você?
Alguém que me desperta
Que me completa
Essa paixão já é certa

- Quem? - Bernard Park.

Mil músicas para AntoniettaWhere stories live. Discover now