- Chapitre cinq -

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01/10/2014

Flores.

Estava colhendo algumas no jardim do grande colégio. Eram lindas, mas pareciam tão confortáveis onde estavam que me faziam me sentir mal por estar tirando-as dali.

O vento sutil tirava os cabelos alheios de meu rosto como um sopro. Eu estava me sentindo bem, recebi a notícia de que meu pai estava sendo investigado pela polícia local por suspeitas de tráfico e consumo de drogas - e sejamos honestos, isso deveria acontecer faz tempos.

Mas nem sempre receberemos notícias boas ou que nos agradem.

Só se ouvia sussurros sobre a morte de uma garota chamada Vitória. Eram tantas coisas acontecendo lá fora que eu me sentia excluída.

Ponho a cesta com as flores colhidas no gramado e sento-me ali. Era um suspiro atrás do outro.

Quando vi o noticiário sobre a morte da garota, percebi, nas imagens de investigação, que Bernard estava incluído no caso. Fiquei feliz por ele estar trabalhando e triste por ele ter que aguentar esse tipo de coisa.

Minha mãe, como uma ótima psiquiatra que foi, me dizia que as pessoas más nascem assim, mas precisam de um impulso ou gatilho para desenvolver melhor essa maldade.

São pessoas completamente ignóbeis!

Balanço a cabeça querendo esquecer todo esse caos e observo o inefável jardim a minha frente. As garotas continuavam colhendo as flores com veemência, sorrindo e conversando alegremente em si.

- Boo!

Meu troco cai para trás e posso ver quem me assustou.

Aurora Reis.

Simplesmente uma garota com uma beleza genuína e aptidões em encantar a todos ao seu redor.

Seu cabelo longamente negro e ondulado caem em meu rosto e posso ver seus olhos azuis e lábios tão vermelhos quanto a rosa que está em mãos.

- O que faz deitada aí? - pergunta irônica, como se não tivesse me assustado segundos atrás.

Ela me ajuda a levantar e encaro sua pele quase transparente.

- No quê estava pensando, Nitta? - pergunta novamente.

Ela me observava com o sorriso de sempre. Suas bochechas eram rosadas e estava usando tic-tac em cada lado do rosto para prender a franja.

Penso no quê responder. Por um momento esqueço no que eu estava pensando, então, acabo fazendo um silêncio surgir entre nós.

- Eu estava apenas observando o jardim - digo - Colhi algumas flores para pôr em meu quarto.

Ela põe as mãos para trás e balança a cabeça em afirmação. Seus olhos percorrem a grama verde e ela reprime os lábios, como se estivesse murmurando um "hm". Estava pensativa.

- Queria falar comigo, Aurora?

- Na verdade... - ela volta seu olhar para mim - Queria apenas te entregar isto.

Seus braços estavam esticados e em suas mãos continham um papel.

Uma carta, sendo exata.

Pego a carta de suas mãos e vejo meu nome em seu verso.

- Estava jogada próxima à grade - diz.

Jogada? Quem jogou? E por que era para mim?

- Obrigada por me entregar, Auri - sorrio simpática, mas com uma grande vontade de me livrar da situação para poder ver o que tinha na carta.

- Imagina - sorri de volta e sai com passos apressados.

Entro para dentro do colégio e abro o papel. Percebi que rasguei um pouco por ter achado que era como um envelope, mas na verdade, era um papel dobrado em forma de carta.

Termino de desdobrar e leio cada letra no papel amarelado.

"Não sei se lerá isso, mas resolvi escrever mesmo assim.

Gostou dos discos? Nem sei se eles realmente chegaram até você, mas caso sim, fica aí a pergunta.

Tem sido muito difícil para mim, mas estou seguindo em frente e quero que você também faça isso. O amor é complicado, Nitta. Você é jovem e eu também, apesar de anos de diferença de idade.

Não queria, de jeito nenhum, me afastar de você, mas não poderemos ficar juntos mesmo como amigos. Vários fatores causaram essa decisão em mim, um deles é a moral e ética; outro é o seu pai; e o último, é o simples fato de que eu viajarei.

Sim, eu vou viajar para Itália.

Quando resolvi te fazer surpresas, me empolguei muito e ainda acho algo legal de se fazer, mas, recentemente minha mãe adoeceu e como você sabe, ela está na Itália. Vou ficar um tempo lá e pensei que seria covardia minha não te avisar, imaginei você saindo daí feliz para me ver e descobrindo minha ida pelos outros ao invés de mim mesmo. Com certeza você ficaria desapontada.

Enfim. Tudo isso passa, você sabe disso tanto quanto eu, então um dia eu voltarei e você nem estará mais presa nesse lugar. Um dia eu voltarei para você e você.

Eu te amo, Antonietta.

- Bernard Park. "

...

Não queria sair do meu quarto. Não queria falar com ninguém. Eu estava em choque, não sei dizer.

Lágrimas e mais lágrimas escorrendo pela minha pele, gritos abafados pelo travesseiro e soluços demonstravam o quão mal eu estava.

Estava sentada em minha cama com a carta dele abraçada em meu peito.

Não sei pelo o quê, exatamente, estava triste. Talvez nunca poderia vê-lo de novo e isso me assustava.

Tudo culpa daquele homem que chamo de pai. Ainda bem que ele está sendo investigado, talvez assim vá para cadeia e nunca mais me veja.

Até as flores tinham um ar triste. Me senti acolhida por elas, me senti bem por compartilhar isso com elas, mesmo que sejam apenas flores.

Não são flores para mim.

O lírio que, aparentemente, Bernard me deu estava entre elas, era a maior e mais linda do vaso. Sorrio para o vento ao ver isso.

Não são só flores.

Não é só uma paixão temporária. Tenho ciência de que sinto algo a mais por ele. Pode até ser estranho, mas não é amor a primeira vista, nada disso, é como uma sensação de "eu te conheço e sei que é você, tenho certeza de que é você a quem deve entregar meu coração".

Foi isso que senti quando o vi fotografando coisas sem graça. Soube na hora que ele seria alguém de grande importância para mim.

Com ele eu me sentia eu mesma. Me sentia livre de tudo e todos.

Apesar de todo esse sentimento por ele, sabia que ele tinha razão. Tinha de seguir minha vida, sei que ele não mentiria para mim então sei que ele voltará um dia.

Limpo meu rosto com o dorso da mão e respiro fundo. Ponho outro disco para tocar e sorrio enfim me sentindo bem.

Até as flores pareceram  aliviadas.

...

Saying "I love you"
Is not the words I want to hear from you
It's not that I want you
Not to say but if you only knew

How easy, it would be to show me how you feel
More than words is all you have to do to make it real
Then you wouldn't have to say that you love me
'Cause I'd already know

What would you do
If my heart was torn in two?
More than words to show you feel
That your love for me is real
What would you say
If I took those words away?
Then you couldn't make things new
Just by saying "I love you"

- More than words - Extreme






Mil músicas para AntoniettaWhere stories live. Discover now