- Chapitre dix -

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Uau.

Não me contenho em dizer isso quando saio do ônibus. É estranho pensar isso, mas, Itália é tão colorida. O sol ilumina tudo e deixa tudo com uma cor tão linda. Parece tão vivo.

Várias pessoas caminham sorrindo e cumprimentando umas as outras, passeando com seus animais, amigos ou família, mostrando a quem vê que a vida é sim um livro, não de conto de fadas, mas com uma história única e feita em capítulos.

Ando pelos passeio e meus olhos observam cada detalhe do cenário. Havia várias cafeterias, lojas de roupas/sapatos, restaurantes e poucas árvores enormes. O cheiro de comida me perseguia até que entro no carro do meu tio.

Quanto tempo que eu não o vejo...

- Bernard! - esgoleou o homem - Vamos, entre já!

Sentei-me no banco ao seu lado e fomos a caminho do hospital onde minha mãe estava.

- Ora, olhe para você! Como está crescido, Park - ele não havia mudado desde a última vez que nos vimos, acho que foi há uns 13 ou 15 anos - O tempo passa voando, credo. Lembro-me detalhadamente da primeira vez em que te vi, no mesmo hospital que sua mãe está. Um bebê, vermelho de tanto gritar! - rimos.

Não podia lembrar disso, claro, mas imaginei a cena a partir de fotos minhas de quando era bebê. Há quem diz que eu era uma criança plangente e agarrada à minha mãe.

- Fico feliz em estar de volta, o Canadá já estava me enjoando - faço careta enquanto falo.

Conversamos muito até chegarmos ao hospital.

- Bem, vamos - ele suspira - Ela está feliz por você ter vindo, está muito ansiosa para te ver, filho.

Ele me parece meio triste e satisfeito depois que termina de falar. Eu também sinto muita falta de minha mãe, muita mesmo, mas não queria vir para cá e vê-la por ela estar doente.

- Onde o senhor vão ficar, Léo?

- Sabe que sou meio...sentimental em relação à minha família e quero dar um tempo para vocês dois, então esperarei aqui fora, não se preocupe - sorri, acho que em tentativa de me aliviar.

A relação entre meu tio e minha mãe é como uma meta de vida para mim. Os dois se amam e apoiam-se sempre. É um amor fraternal muito lindo.

Dou uma última olhada nele, que já estava de costas, antes de ir.

...

Bato na porta e ouço um "entre" em baixo tom. Assim que abro a porta, deparo-me com a felicidade de uma mãe em ver o filho pessoalmente depois de 2 anos.

Depois que me mudei para o Canadá para fazer faculdade, tornou-se raro os momentos para nos vermos. Geralmente, era ela quem vinha ao meu encontro, já que eu estava muito ocupado para viajar.

- Bernard, meu filho - seus olhos brilham tanto quanto os meus. - Venha cá, anda!

Vou até ela, fechando a porta atrás de mim. Sento-me perto da mulher que me puxa para um abraço quente. É nítido a saudade que ambos sentimos.

- Como se sente? - pergunto ao me separar de seu corpo.

- Ah, bem melhor agora que te vejo - sorrimos. - Queria que você me encontrasse em melhor estado, mas é bom te ver mesmo assim.

- Não se preocupe com isso, a senhora ficaria linda de qualquer jeito.

Sua risada é tão gostosa de se ouvir. Quando soube que ela havia tido um infarto, uma sensação de culpa invadiu meu corpo, mesmo sem motivo. Talvez porquê eu não estava lá com ela para ajudá-la, talvez por eu recusar a morar com ela na Itália ou talvez por não incentivá-la a ir constantemente ao médico por conta da sua genética que a fazer ter esses infartos. Não que eu não a incentivei antes, mas simplesmente parei de fazer isso, coisa que não deveria ter feito.

Ela sorri com lágrimas ao redor do rosto, me encarando com um genuíno amor por mim.

- E graças a essa beleza, criei o filho mais belo de todos - sua voz é baixa, mas é notório que ela está bem chorosa.

É tão bom a ver, não mudou nada desde aquele dia. Seus cabelos estão bagunçados e ainda em cor castanho médio. Seu rosto parace estar mais magro e um pouco mais enrugado. Suas unhas, que agarraram minha blusa fortemente, estão pintadas de verde bem escuro e ela, como sempre, está com a pulseira que a dei de aniversário quando eu tinha 5 anos.

Ela não mudou fisicamente. O que pode ter mudado é seus pensamentos e jeito ver as coisas, mas aquela essência dela ainda está ali. Minha mãe ainda está ali.

...

Uma vez sonhei longe
Tão longe que me perdi
Caminhava aos poucos
Para poder sair dali

Era horrível a sensação
Com certeza não era mais um sonho
Era algo irreal, uma ilusão

Demorou dias para escapar
Dias para perceber
Que era sim minha realidade
E que não tinha como me esconder

Até que enfim entendi a lição
Aprendi a aceitar a vida
Com amor no coração
E a mente colorida

- Sem fim - Bernard Park.

Mil músicas para AntoniettaWhere stories live. Discover now